Caption: Captain Julian Hohnen, Officer Commanding a combined Australian and Afghan Army patrol base in the Baluchi Valley Region mentors Afghan National Army Officer, Lieutenant Farhad Habib. Mid Caption: All across the MTF1 area of operations partnered mentoring is being conducted on mounted and dismounted combined patrols with ever increasing security presence being experienced by local communities from the Southern Baluchi Valley to the Northern Chora reaches as well as east through the Mirabad. Ongoing combined ANA and MTF1 security operations involving infantry, combat engineer and reconnaissance capabilities in Oruzgan have achieved multiple layers of effects including an increased rate of IED “find and render safe” percentages, increased cache finds, and enhanced trust fostered within local communities. Deep Caption: Operation SLIPPER is Australia's military contribution to the international campaign against terrorism, piracy and improving maritime security. Under this operation our forces contribute to the efforts of the North Atlantic Treaty Organisation (NATO) - led International Security Assistance Force (ISAF) in Afghanistan. ISAF seeks to bring security, stability and prosperity to Afghanistan and aims to prevent Afghanistan again becoming a safe haven for international terrorists. Operation SLIPPER also supports the United States led International Coalition Against Terrorism (ICAT) in the broader Middle East.

Diante do desmanche do governo fantoche e queda de Cabul para os Talibãs, sem luta, no final de semana, já não resta dúvida sobre o fracasso da ocupação do Afeganistão, por 20 anos, pelas tropas dos EUA e dos cúmplices da Otan, mas ainda resta estabelecer a dimensão da ‘herança maldita’ deixada.

A guerra dos EUA ao Afeganistão acarretou mais de meio milhão de afegãos mortos ( por diversas causas advindas da invasão e da ocupação), segundo estudo da Universidade Brown.

Entre estas, 241 mil morreram em combates ou bombardeios, dos quais pelo menos 71 mil civis.

As mortes indiretas – por causa da falta de remédios ou de atendimento médico, doenças causadas pela destruição do sistema de tratamento de água e outros fatores correlatos – passaram de 360 mil, segundo esse mesmo estudo.

A Universidade utilizou a comparação entre a taxa de mortalidade existente previamente à invasão de 2001, e a que se constatou durante as duas décadas de ocupação para obter o número global.

Na realidade, o total de civis mortos é ainda maior, pela razão de que, como rotina, civis assassinados eram arrolados falsamente como ‘talibãs’, repetindo o que cansou de ocorrer no Vietnã. O que ficou patente nos famosos Logs da Guerra do Afeganistão, divulgados pelo WikiLeaks e Julian Assange em 2010.

Também no caso dos mortos em ataques de drones. Como revelou o recém condenado analista Daniel Hale, nos ataques por ‘assinatura’ – uma especialidade das ‘Terças da Morte’ de Obama – para atribuir a condição de talibã a alguém, ou ser contado como um ‘talibã morto’, bastava ser do sexo masculino, maior de 18 anos e ainda não ser idoso. Hale foi condenado a quase 4 anos de prisão por denunciar esses crimes de guerra.

Quanto aos afegãos feridos e mutilados nas duas décadas de guerra sob a ocupação norte-americana, o total é da ordem das centenas de milhares.

Como comparação, os EUA sofreram cerca de 6,2 mil mortos, sendo 2.442 soldados e 3.846 ‘contratistas’ (gente da Blackwater). Mas os feridos passaram de 21 mil, a maior parte deles permanentemente incapacitados por ataques de bombas improvisadas.

3,2 milhões de afegãos foram deslocados internamente por causa da guerra nesse período, e outros 2,1 milhões precisaram fugir para o exterior.

‘Nation building’ quadruplica ópio

Arrogantemente, os invasores norte-americanos chamavam sua ocupação do Afeganistão de operação de “construção de nação” [nation building], conceito que Hitler anteriormente exercitara em lugares como a Croácia.

No terreno da economia, o ‘nation building’ conseguiu um feito e tanto: quadruplicou a produção de ópio, que chegara a praticamente ser zerada pelo Talibã no ano da invasão, 2001. Assim, de um patamar de 50 mil toneladas anuais quando o Talibã chegou ao poder, para as atuais 200 mil toneladas.

Realização norte-americana no Afeganistão: produção de ópio quadruplicou após a invasão com relação ao que era antes do Talibã a ter zerado

O portal da organização inglesa Stop the War Coalition destaca que em meio ao crescimento dessa produção, 10% dos afegãos estão viciados em ópio.

Como enfatizou Jabbour, “os ‘direitos humanos’ do povo afegão foram financiados por presidentes e chefes militares títeres com a missão de especializar a agricultura do Afeganistão em algo super importante para as classes médias e altas estadunidenses: as drogas”.

E acrescenta: “Eis a base material tolerável aos Estados Unidos e que mantém aquele povo na Idade da Pedra há séculos”.

Possibilidades de desenvolvimento econômico, que inclusive chegaram a ser discutidas antes da invasão, como o projeto de oleoduto, e a existência de uma fabulosa riqueza mineral, inclusive terras raras, estimada em US$ 1 trilhão, não saíram do papel.

A guerra de US$ 2,3 tri contra um país paupérrimo

A Universidade Brown estimou o custo da guerra no Afeganistão em US$ 2,3 trilhões, uma farra para fabricantes de armas, fornecedores do Pentágono e investidores de Wall Street no setor bélico. Com a nova ‘Guerra ao Terror’, o orçamento militar podia continuar na estratosfera, mesmo depois do fim da Guerra Fria, quando Washington anunciava ao mundo sua “ordem global unilateral”.

Os EUA asseveram que gastaram US$ 144 bilhões no Afeganistão para a “reconstrução”. Como observou o ex-diretor de Orçamento do governo Reagan, David Stockman, em dólares de hoje, corrigidos, é mais do que o Plano Marshall na Europa, no pós-guerra.

Aliás, reconstrução do que eles haviam destruído com seus bombardeios: os EUA despejaram 300.000 bombas contra o Afeganistão.

Como o Afeganistão continua sendo um dos países mais pobres do mundo, com 54% da população abaixo da linha de pobreza, e onde só 27% tem acesso à água potável e 2 milhões de crianças sofrem de desnutrição, é óbvio que essa montanha de dólares só regou a horta das corporações norte-americanas alistadas para o “esforço de reconstrução” e os bolsos dos fantoches.

“Elite cleptocrática” pró-EUA

O veterano jornalista Patrick Cockburn, que conhece bem o Oriente Médio e a Ásia Central, assinalou que “as vastas somas de dinheiro disponíveis” produziram “uma elite cleptocrática”.

“Um amigo afegão que já trabalhou para a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (Usaid) me explicou alguns dos mecanismos de como a corrupção pôde florescer”, relatou Cockburn.

A ele o amigo afegão explicou que as autoridades humanitárias americanas em Cabul consideravam “muito perigoso” visitar pessoalmente os projetos que financiavam. Ficavam em seus escritórios fortemente protegidos e como comprovação do andamento dos projetos aceitavam fotos e vídeos.

Como em Kandahar, onde o funcionário afegão enviado para monitorar a construção de uma planta de embalagem de vegetais, descobriu que “uma empresa local semelhante a um estúdio de cinema tirava, por uma taxa, fotos convincentes do trabalho em andamento”. A instalação não existia, mas extras em um galpão encenaram separar cenouras e batatas.

Em outro, tratava-se de uma granja “bem financiada, mas inexistente, perto de Jalalabad”, que um funcionário procurou em vão. Quando se reuniu com os proprietários e questionou a fraude, foi alertado que era “longo” o caminho de volta a Cabul. O funcionário entendeu o recado, ficou calado e pediu demissão assim que voltou.

É de Cockburn a caracterização do governo de Cabul como “uma gangue de gângsteres se empanturrando de dinheiro de ajuda dos EUA ou de suculentos contratos de fornecimento e construção”.

Por sua vez, os diplomatas ocidentais que visitavam fortalezas militares ocidentais e afegãs em áreas rurais, “educadamente desviavam os olhos das bandeiras do Talibã voando em árvores e postes em aldeias próximas”, complementou.

Nas “forças de segurança”, o mecanismo era o mesmo, com soldados e policiais fantasmas – e soldos prontamente embolsados pelo comandante. Quando o Congresso dos EUA criou uma inspetoria geral das verbas da ‘reconstrução’, de sigla Sigar, um relatório em 2014 precisou ter “as partes mais contundentes censuradas”.

De acordo com esse relatório, os “soldados fantasmas” eram “dezenas de milhares”. Um oficial militar dos EUA estimou que um terço dos recrutas da polícia eram “viciados em drogas ou talibãs”. Outro registrou os assim chamados “larápios tolos” que, de tanto saquearem combustível das bases americanas, sempre “cheiravam a gasolina”.

Registre-se que só ficava em Cabul ou Kandahar a parcela menor da corrupção; o grosso mesmo do dinheiro da ocupação foi para as corporações norte-americanas envolvidas na guerra.

‘Urnas fraudadas’

Toda a conversa de Washington sobre “estabelecer a democracia” no Afeganistão era tão falsa quanto seu “combate à corrupção” em Cabul.

Em 2009, o jornal inglês The Guardian mostrou um vídeo com cédulas já marcadas com o nome de Hamid Karzai, prontas para serem enfiadas em urnas. Karzai foi reeleito. O vídeo, assegurava então o Guardian, era apenas “parte da fraude generalizada na eleição afegã”.

Um mesário mostrou ao jornal fotos tiradas de dentro de uma cabine de votação de papelão em um vilarejo na província de Paktiya. Em uma delas, um homem marcava uma grande pilha de cédulas eleitorais em nome de Karzai. Outra mostrava uma pilha de carteiras de identidade eleitoral espalhadas na frente de um homem não identificado, de sapatos pretos. “Este homem trouxe 120 carteiras de identidade e usou cada uma delas para votar três vezes”, disse o responsável.

O mesmo mesário relatou que “apenas 10% votaram, mas eles registraram 100% de comparecimento. Um homem trouxe cinco cadernos de votos, cada um contendo 100 votos, e os enfiou nas urnas após o término das eleições.”

Um morador relatou que “os grandes anciãos tribais pegaram muito dinheiro de Karzai e Abdullah Abdullah [outro candidato a presidente]”. “O dia da eleição foi um bom dia”, disse um homem de turbante preto. “Esperamos que haja eleições todos os anos”, acrescentou, fazendo os comparsas em volta rirem.

Outro aspecto característico da melhor ‘democracia’ que os dólares e os marines podiam fornecer, era que a ‘constituição’ havia sido escrita em Washington.

43% dos civis mortos pelas bombas norte-americanas eram mulheres. O que não impede Washington de abanar a bandeira dos direitos femininos no Afeganistão, depois de há 40 anos ter – contra um governo progressista que promovia a emancipação das mulheres, a alfabetização e a reforma agrária – atiçado os setores mais reacionários e misóginos a barrarem quaisquer mudanças, com apoio saudita, paquistanês e da CIA. O que daria origem aos mujahedins exaltados por Reagan e ainda à Al Qaeda.

Com as várias gangues de mujahedins lutando entre si pelo espólio na anarquia que se seguiu à derrubada do governo progressista de Najibullah, surge o Talibã [cujo significado é estudantes], que toma o poder em 1994 e que teve o apoio indisfarçado do serviço secreto paquistanês.

Quanto às mulheres afegãs, o governo talibã buscou fazê-las voltar à Idade Média e impôs o uso da burca, a título de reinterpretação da Sharia, a lei islâmica.

Já no que diz respeito ao avanço real que houve nos direitos das mulheres nas últimas duas décadas, conforme relatório da Human Rights Watch de 2017, mais de dois terços das meninas não iam à escola e a taxa de alfabetização das meninas era metade da dos meninos. Em algumas províncias do sul, a taxa de alfabetização feminina continua tão baixa quanto 1%.

Agora, o Talibã está dizendo que reviu parte de suas convicções sobre a questão, que as mulheres poderão estudar e trabalhar e que terão de usar o niqab (véu que cobre o rosto) e não mais a burca.

Quanto à educação como um todo, o resultado da ocupação não foi exatamente brilhante. 40% dos meninos não iam à escola, de acordo com o relatório citado. E 41% das escolas não tinham prédios.

Sementes do terrorismo

Nos últimos meses, surgiram repetidos relatos sobre o aparecimento do Estado Islâmico no Afeganistão, havendo até acusações de que a CIA cuidou de transportar jihadistas para lá para futuras operações na Ásia Central ex-soviética e Xinjiang chinesa.

Como se sabe, a criação do ‘Islã americano’ – o terrorismo travestido de levante ‘islâmico’ – se deu exatamente no Afeganistão, com a Al Qaeda, sob as bênçãos da CIA, de Riad e do Paquistão.

Agora o Talibã está se comprometendo a não permitir que força extremista alguma use seu território para lançar ataques contra outros países, posição afirmada ainda ao então presidente Trump e agora reafirmada tanto a Moscou, quanto a Pequim.

Quando do 11 de Setembro – sobre o qual há ainda uma enorme discussão, não teve ‘bala mágica’ como no caso de JFK, mas um prédio desabou inexplicavelmente -, o Talibã, tentando evitar a guerra, ofereceu entregar Osama Bin Laden, caso os EUA apresentassem a prova de que este era o autor do ataque às Torres Gêmeas, ou que fosse a julgamento em um país neutro.

  1. Bush preferiu a guerra. Antes do 11 de Setembro, os EUA estavam completamente divididos, depois do fragoroso roubo da vitória do democrata Al Gore. O vaticínio do Projeto por um Novo Século Americano (PNAC), o de um ‘novo Pearl Harbour’, se cumpria miraculosamente.

Não havia nenhum afegão no ataque às Torres Gêmeas, que foi executado por sauditas e planejado no Paquistão. Nem a Arábia Saudita ou o Paquistão foram invadidos, como se sabe, e Bin Laden morreu anos depois, conforme o governo Obama, em uma casa a poucos metros de uma base militar paquistanesa.

Segundo o ex-comandante americano na Otan, general Wesley Clark, na época ele foi informado de que os EUA iriam invadir “sete países islâmicos” em cinco anos. O Afeganistão era só o começo.

A nova cruzada iria prosseguir até à devastação do Iraque, Somália, Líbia, Síria, Iêmen, cerco ao Irã e desestabilização do Líbano: os “velhos regimes soviéticos substitutos” do Oriente Médio, segundo a expressão do vice-secretário da Defesa de W. Bush, Paul Wolfowitz.

Diante desse ‘governo’ de colaboracionistas e ladrões de Cabul, o Talibã foi se afirmando como a resistência afegã. Então, como registrou Stockman, quando Biden finalmente disse o que precisava ser dito – que depois de 20 anos acabou -, “os mercenários e batalhões de fantasmas largaram seus uniformes como uma batata quente e desapareceram nas cidades, vilas e redutos de montanha ainda mais rápido do que o exército sul-vietnamita tinha feito em 1975” para surgirem como multidão de colaboracionistas no aeroporto à cata de entrarem de qualquer jeito nos aviões da AIR FORCE em fuga rumo aos EUA.

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