Advogado Juan Francisco Solórzano Foppa ao chegar à prisão no interior de um quartel

O Grupo de Apoio Mútuo da Guatemala (GAM) solicitou sexta-feira (21) medidas cautelares à Corte Interamericana de Direitos Humanos para garantir proteção ao advogado Juan Francisco Solórzano Foppa. Reconhecido opositor ao governo de Alejandro Giammattei, Foppa tem apontado a corrupção no governo que deixa hospitais desaparelhados diante da pandemia e tem deixado atrasar salários das equipes médicas.

Ele denuncia ainda a cooptação do sistema de Justiça que faz vista grossa a contravenções de empresas locais e transnacionais – a exemplo da mega-sonegação da multi Aceros de Guatemala, denunciada por ele e obrigada a pagar multa.

A entidade expressou sua preocupação pela segurança física do advogado, que se encontra preso sem qualquer justificativa no quartel militar Matamoros, onde também está sendo vítima de extorsão.

“Isso não me dá nenhuma dor, só orgulho, é saber que estamos fazendo as coisas direito. É saber que estamos tocando na gente poderosa desse país e isso faz com que sigamos na luta”, afirmou Foppa.

Promotor público por mais de uma década, entre 2016 e 2018, Foppa foi chefe do órgão de arrecadação de impostos da Guatemala, a Superintendência de Administração Tributária (SAT), quando realizou uma arrecadação histórica para o país. Entre suas ações, impôs uma multa de 100 milhões de dólares por fraude fiscal à transnacional Aceros de Guatemala, além de colocar em xeque a outras grandes empresas.

“Alejandro Giammattei tomou posse no ano passado e, mesmo diante da gravidade da pandemia, deixou médicos e enfermeiros sem salários e equipamentos, hospitais sem investimentos nem medicamentos, enquanto gastavam milhões de quetzales em testes de coronavírus que eram falsos”, condena Julio Coj, coordenador da Comissão de Organização da União Sindical de Trabalhadores da Guatemala (Unsitragua).

A ex-promotora Thelma Aldana, exilada devido ao seu trabalho de contestação ao regime, expressou sua “solidariedade” com Foppa e lembrou que, “na Guatemala, são criminalizados os defensores dos direitos humanos e aqueles que lutam contra a corrupção”.

Rechaçando a “perseguição política contra Foppa”, a bancada da Unidade Revolucionária Nacional Guatemalteca (URNG) assinalou que “a captura obedece a uma clara tentativa de bloquear a sua luta anticorrupção e a uma mensagem de intimidação contra os protestos dos cidadãos e dos opositores ao oficialismo”.

No artigo deste sábado (22) no El Periódico, o jornalista e professor Jorge Mario Rodríguez, condenou o “terrorismo legal” e toda a “onda repressiva” por trás da prisão de Foppa e recordou que desde algum tempo tem se somado aos que “vêm prevenindo sobre o desenvolvimento de tendências fascistas que tendem a ficar enlameadas na sua imundície, acabando no desastre, como mostra o fracasso de governantes autoritários”. Conforme Rodríguez, “este fenômeno ocorre em nosso país e é de se esperar que muito em breve esses setores regressivos terão que responder por suas políticas mortais”.