Giuliani, que além da suspensão pode vir a tornar-se réu

O advogado de Donald Trump na campanha presidencial de 2020 e ex-prefeito de Nova York, Rudy Giuliani, teve seu exercício da advocacia suspenso no Estado de Nova York por uma corte na quinta-feira (24). A sentença se refere a “declarações comprovadamente falsas e enganosas a tribunais, legisladores e ao público em geral” e ao infringir o Código de Ética da profissão.

No processo eleitoral, Giuliani funcionou como o chefe da tropa de choque jurídica de Trump, tentando fraudar o resultado da eleição e insuflando o clima político que levou à invasão do Congresso dos EUA em dia 6 de janeiro, em que turbas trumpistas tentaram impedir a proclamação da vitória da oposição democrata.

“Essas declarações falsas foram feitas para reforçar indevidamente a narrativa de que, devido à fraude eleitoral generalizada, a vitória nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2020 foi roubada de seu cliente”, escreveu o tribunal.

“Concluímos que a conduta do réu ameaça imediatamente o interesse público e justifica a suspensão provisória da prática da lei, enquanto se aguarda procedimentos adicionais perante o Comitê de Reclamações do Procurador”, prossegue.

O tribunal se debruçou sobre vários casos em que Giuliani fez declarações falsas sobre supostas fraudes eleitorais na Pensilvânia, Arizona, Geórgia e Michigan. Cada uma delas violando várias disposições das Regras de Conduta Profissional de Nova York.

O Comitê de Reclamações do Advogado, em sua queixa contra Giuliani, sublinhou que “a conduta imprópria do réu diretamente inflamou as tensões que surgiram nos eventos de 6 de janeiro de 2021 no Capitólio deste país”, argumento aceito pelo tribunal.

A defesa de Giuliani alegou que não poderia ser mostrado qualquer nexo causal “entre sua conduta e esses eventos”, mas o tribunal decidiu que não é preciso decidir qualquer questão de “nexo causal” para entender que “as próprias falsidades causam dano”.

“Este evento apenas enfatiza o ponto mais amplo de que a ampla disseminação de declarações falsas, lançando dúvidas sobre a legitimidade de milhares de votos validamente expressos, é corrosiva para a confiança do público em nossas instituições democráticas mais importantes”, enfatizou a sentença.

De acordo com o colunista do Washington Post e advogado George Conway, “agora é quase inconcebível que [Giuliani] volte a colocar os pés em um tribunal como outra coisa que não um réu”.

Para os ‘Cidadãos pela Responsabilização e Ética em Washington”, trata-se de “um bom primeiro passo para responsabilizar Rudy Giuliani por suas tentativas de minar a democracia”.

Por sua vez o deputado democrata por NY, Mondaire Jones, que em janeiro, em carta conjunta com Ted Lieu, da Califórnia, pedira à Ordem dos Advogados do Estado de Nova York a exclusão de Giuliani, ele é “uma desgraça para a profissão jurídica” e “ajudou a incitar a insurreição no Capitólio”.

Giuliani também está enfrentando processos de difamação multibilionários da Smartmatic e Dominion Voting Systems, duas empresas de urna eletrônica que foram alvo de teorias de conspiração infundadas de parte dele e de outros próceres de Trump.

Também está sob investigação criminal pelo Distrito Sul de Nova York – o escritório que ele já dirigiu quando era promotor – por controversas negociações com a Ucrânia.

O braço da lei também anda rondando Trump. Segundo a NBC News, um advogado da Trump Organization [o grupo empresarial do bilionário ex-presidente] disse esperar que os promotores de Manhattan apresentem acusações criminais contra a empresa já na próxima semana.

A investigação em curso é sobre pagamentos a executivos e se houve a devida contraparte ao Imposto de Renda.

Acusações que o advogado Ron Fischetti classificou de “completamente ultrajantes”, antecipando que a Trump Corporation irá se declarar “inocente”.

Para ele, seria “surpreendente” que um ex-presidente tenha que “defender a empresa que fundou, e que dirige há décadas, contra acusações de comportamento criminoso”, segundo o New York Times.

Por sua vez o ex-vice-presidente Mike Pence, em discurso na Biblioteca Reagan, na Califórnia, voltou a demarcar seu distanciamento de Trump. “A verdade é que não há ideia mais antiamericana do que a noção de que uma pessoa qualquer poderia escolher o presidente americano.”

“Eu entendo a decepção que muitos sentem com a última eleição”, disse Pence. “Lembre-se, também perdi a reeleição. Mas há mais em jogo do que nosso partido ou nossa sorte política.”

Sobre o 6 de janeiro, ele reiterou que a Constituição “não dá ao vice-presidente autoridade para rejeitar ou devolver votos eleitorais submetidos ao Congresso pelos Estados”.

“Se perdermos a fé na Constituição, não perderemos apenas as eleições – perderemos nosso país”, disse Pence, na série de debates “Tempo de Escolha”.