Adriana Marcolino defende justiça fiscal e redução da jornada de trabalho em Assembleia da CTB
A coordenadora técnica do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Adriana Marcolino, trouxe uma análise abrangente sobre a correção da tabela do Imposto de Renda e a proposta de redução da jornada de trabalho durante a Assembleia Geral da Classe Trabalhadora, realizada de forma remota nesta quinta-feira (5). Em sua fala, destacou os impactos positivos dessas medidas para a classe trabalhadora e as lacunas que ainda precisam ser enfrentadas.
Atualização da tabela do Imposto de Renda
Adriana enfatizou a relevância da promessa do governo de isentar quem ganha até R$ 5 mil, um passo que, segundo ela, beneficiará diretamente cerca de 20 milhões de pessoas. “Essa atualização permite a quem ganha até R$ 5 mil economizar o equivalente a mais de um salário ao ano, o que é extremamente significativo para famílias de baixa renda”, explicou.
Ela também apontou que a medida deve trazer alívio para outros 16 milhões de pessoas com rendimentos entre R$ 5 mil e R$ 7.500, mas alertou para a ausência de uma revisão completa da tabela. “A tabela como um todo não foi atualizada, e o movimento sindical sempre defendeu a ampliação das faixas e alíquotas, o que garantiria uma progressão tributária mais justa”, disse. Adriana também mencionou que a falta de justiça fiscal ainda favorece uma minoria de alta renda, enquanto os trabalhadores de menores rendimentos continuam sobrecarregados.
Debate sobre a jornada de trabalho
Outro tema de destaque foi a redução da jornada de trabalho. Adriana destacou como a precarização das condições de trabalho, especialmente após a reforma trabalhista, tem impactado negativamente a vida dos trabalhadores. “As jornadas extensas, acima de 48 horas, convivem com o aumento da subocupação e da insegurança de renda, agravando a exaustão da classe trabalhadora”, afirmou.
Ela também trouxe à tona experiências internacionais, como a campanha pela jornada de quatro dias, que demonstram resultados mistos. Apesar de ganhos em produtividade e qualidade de vida, Adriana alertou que a manutenção da mesma intensidade de trabalho pode trazer problemas de saúde. No Brasil, iniciativas como o Projeto de Lei 11.05, que propõe a redução da jornada para 36 horas, são vistas como positivas, mas ainda insuficientes para enfrentar a complexidade do problema.
Segundo Adriana, uma redução da jornada para 40 horas poderia gerar 3 milhões de novos postos de trabalho no país. “Isso ajudaria a incluir mulheres e outros grupos historicamente excluídos do mercado de trabalho, além de promover uma divisão mais justa do tempo entre trabalho e vida pessoal”, analisou.
Salário mínimo e taxa de juros
Adriana também comentou a política de valorização do salário mínimo, destacando que, embora positiva, a trajetória de recomposição será mais lenta do que a defendida pelo movimento sindical. “Com a política atual, a recuperação do poder de compra do salário mínimo será ainda mais demorada, levando décadas para alcançar os níveis históricos de 1940”, lamentou.
Ela também criticou a alta taxa de juros no país, que, segundo pesquisa recente, é vista pelo mercado financeiro como necessária para equilibrar medidas como a correção da tabela do Imposto de Renda. “Esse mecanismo transfere recursos públicos para o setor financeiro, enquanto limita os investimentos sociais e econômicos. O movimento sindical precisa se apropriar desse debate para esclarecer o impacto que ele tem na vida dos trabalhadores”, concluiu.
Caminhos para o futuro
Adriana finalizou sua fala com uma defesa enfática da união da classe trabalhadora e da importância de lutar por mudanças estruturais. “É fundamental que o movimento sindical mantenha o foco em pautas como justiça fiscal, redução da jornada de trabalho e valorização do salário mínimo. Somente assim poderemos construir um país mais justo e inclusivo para todos”, afirmou.
(por Cezar Xavier)