Na quarta, tem início a arguição de Netanyahu, indiciado em 3 casos de corrupção - Gali Tibbon - Reuters

Netanyahu que, indiciado pela polícia em três casos de corrupção (envolvendo fraude, suborno e prevaricação), vai para a primeira sessão de arguição pela Procuradoria-Geral de Israel, não consegue montar um gabinete com maioria parlamentar suficiente (61 dos 120 deputados) para continuar no cargo de primeiro-ministro.

Depois de duas eleições gerais realizadas este ano, a primeira em abril, na qual sua coalizão, o Likud (União) terminou empatada com a principal lista de oposição, a Azul e Branco, encabeçada pelo general Benny Gantz, e a segunda, em 17 de setembro, na qual foi derrotado (elegendo 32 deputados, enquanto que a lista de Gantz fez 33), a principal tendência é que ele anuncie sua incapacidade de montar governo e que a tarefa seja entregue ao oposicionista Gantz, nos próximos dias, pelo presidente israelense, Reuven Rivlin.

Já está determinado que as sessões de arguição de Netanyahu, que terá a oportunidade de apresentar sua defesa, começam a partir das 10:00 da manhã do dia 2.

Na tentativa de transformar a arguição em palco de sua vitimização, Netanyahu solicitou à Procuradoria que o interrogatório fosse televisionado ao que o procurador-geral, Avichai Mendelblit negou, afirmando que o pedido era “fútil” e “sem base legal”.

O que deve ocorrer é que o prosseguimento do inquérito leve Netanyahu a um enfraquecimento ainda maior do que o atual. Ele conseguiu para seu apoio os direitistas de sua coalizão, com 32 cadeiras e os fascistas do bloco Yemina (cuja líder, Ayelet Shaked, fez campanha se aspergindo um perfume em cujo rótulo estava escrito “Fascismo”) e ainda os dois partidos ortodoxos dos religiosos judeus, formando 55 apoios, portanto, aquém dos 61 necessários pelas normas de Israel.

Já Benny Gantz que conta com sua coalizão (33 votos), mais os grupos à sua esquerda: Meretz, Campo Democrático e Trabalhistas-Ponte. Além dos comunistas do Hadash (Novo) e mais dois dos partidos árabes palestinos israelenses, que compuseram com os comunistas a Lista Unida.

O partido Balad, da mesma Lista Unida, que elegeu 3 deputados, negou-se a apoiar Gantz pois exige uma negociação pleiteando o seu apoio ao fim dos aspectos segregacionistas anti-árabes da chamada Lei Estado-Nação, votada durante o mais recente mandato de Netanyhau que, aliás, tem usado o incitamento racista para apelar aos baixos instintos direitistas que infelizmente estão presentes em grande parte do eleitorado israelense após anos de massacre midiático fomentando a paranoia anti-árabe entre os judeus israelenses.

Com sua configuração, Gantz já possui 54 apoiamentos e pode chegar à maioria parlamentar, caso se configure o fracasso de Netanyahu e seu bloco e, assim, consiga atrair os deputados dos partidos religiosos que, uma vez jogada a toalha por Netanyahu, estariam livres do compromisso assumido junto a ele e podem caminhar para formar um governo de ampla unidade, composto por Azul e Branco, Meretz, Campo Democrático, Trabalhistas–Ponte, Lista Árabe e Haredim (ortodoxos judeus que, juntos, chegaram a eleger 16 deputados). Nessa composição, Gantz pode atingir um apoio de 61 a 73 deputados, estabelecendo o fim da era Bibi Netanyahu.

O ex-primeiro-ministro Ehud Barak, que sucedeu a Itzhaq Rabin e foi o último governante a entrar em negociações com Arafat e que agora apoia a indicação de Gantz, declarou, nesta terça-feira, que Netanyahu não pode ser empossado, pois “no desespero de escapar da condenação por corrupção, não vê limites para suas manipulações”.

Mostrando que as negociações para que Netanyahu saia e a oposição assuma estão evoluindo, o vice-líder da Lista Conjunta, majoritariamente árabe-palestina, deputado Ahmed Tibi, afirmou que sua formação está disposta a conferir apoio a um governo de amplo leque, encabeçado por Gantz, ainda que os árabes não façam parte do governo em nível ministerial, mas que dirijam algumas das comissões parlamentares.

Ao final da terça-feira, Gantz desmarcou uma reunião de seu partido com o Likud de Netanyahu, agendada para quarta, afirmando que, diante das estreitas propostas apresentadas pelo situacionismo até o momento não faz sentido a reunião

“A esta etapa, as condições preliminares para um encontro eficiente entre as duas equipes de negociação não foram alcançadas e, por esta razão, o encontro não acontecerá nesta quarta-feira”, declarou Gantz.

Apesar dos likudistas espernearem dizendo que Gantz “não quer a unidade”, ele tem respondido que a intenção do bloco que ainda se mantém em torno de Netanyahu, é separá-lo do conjunto de forças que o apoiaram no processo eleitoral e que isso não tem nada a ver com um governo de unidade.

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