Acusado de assédio sexual, governador de Nova York renuncia
O governador do Estado de Nova York, o democrata Andrew Cuomo, anunciou na terça-feira que renunciaria ao cargo, uma semana após relatório judicial independente o acusar de assédio sexual a 11 mulheres, atuais e ex-funcionárias de seu governo, com “toques indesejados” e “comentários inadequados”.
Em quatorze dias, sua vice, Kathy Hochul, será empossada para substituí-lo, tornando-se a primeira mulher na história do estado a ocupar o cargo.
“Dadas as circunstâncias, a melhor maneira de ajudar agora é me afastar e deixar o governo voltar a governar”, afirmou Cuomo, que é governador há três mandatos.
O prefeito da cidade de Nova York, Bill de Blasio, que vivia às turras com o governador, comemorou, dizendo que “já passou da hora de Andrew Cuomo renunciar e é para o bem de toda Nova York”.
Pesquisas de opinião davam que 56% dos entrevistados no Estado eram favoráveis à renúncia.
É a segunda vez em 13 anos que um governador do Estado de Nova York renuncia; em 2008, o então governador democrata Eliot Spitzer renunciou após escândalo com uma rede de prostituição de luxo da qual era cliente.
Isolamento
À acusação de assédio contra Cuomo, de 165 páginas, assinado pela procuradora-geral do Estado de Nova York, Letitia James, seguira-se um isolamento crescente do veterano governador, cuja renúncia foi pedida pelo próprio presidente Joe Biden, pela presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, e pelo jornal The New York Times.
Ele também estava sob risco de sofrer impeachment, após Cuomo perder o controle sobre a própria bancada na Assembleia estadual. No domingo, sua principal assessora, Melissa DeRosa, havia deixado o cargo após concluir que Cuomo não tinha escapatória. A renúncia vinha sendo aconselhada a Cuomo por seus principais conselheiros e ex-aliados.
Em seu discurso de anúncio da renúncia de 21 minutos, Cuomo chamou de “politicamente motivada” a acusação contra ele, e disse que seu instinto inicial tinha sido “lutar contra essa polêmica, porque eu realmente acredito que é politicamente motivada”.
“Esta situação e momento não são sobre os fatos”, disse ele. “Não é sobre a verdade. Não se trata de uma análise cuidadosa. Não se trata de como tornar o sistema melhor. Isso é sobre política. E nosso sistema político hoje é muitas vezes conduzido pelos extremos.”
Sobre comportamentos apontados como inadequados, Cuomo atribuiu às “diferenças geracionais”, mas disse assumir “total responsabilidade por seus atos”. “Em minha mente, nunca cruzei a linha com ninguém. Mas eu não percebi até que ponto a linha foi redesenhada.”
Ele disse que “abraça e beija as pessoas eventualmente, tanto mulheres como homens. Eu fiz isso toda a minha vida e sempre fui assim”.
Cuomo também fez questão de se dirigir às filhas, asseverando que “nunca desrespeitei e nunca desrespeitaria intencionalmente uma mulher ou trataria qualquer mulher de maneira diferente da que gostaria que fossem tratadas”. “Seu pai cometeu erros”, acrescentou. “E ele se desculpou. E ele aprendeu com isso. E é disso que se trata a vida.”
Seu discurso foi precedido por uma apresentação de 45 minutos de sua advogada pessoal, Rita Glavin, que culpou a mídia por criar um “ambiente injusto”.
Segundo ela, a investigação do procuradoria-geral foi conduzida para se ajustar a uma “narrativa predeterminada”, e pôs em dúvida ‘muitas das alegações das mulheres e o nível de seriedade de algumas das outras”.
Para a advogada Glavin, o relatório “errou os principais fatos”, omitiu “as principais evidências” e “não incluiu testemunhas” cujo depoimento “não apoiaria” a narrativa de que estava claro que esse relatório iria tecer “a partir do primeiro dia.”
Denunciantes
Entre as 11 mulheres que acusam Cuomo, a ex-funcionária Lindsey Boylan denunciou “vários episódios perturbadores”, incluindo um que envolveu o governador “dando-lhe um beijo não solicitado em seu escritório em Manhattan”.
Ao New York Times, a ex-assessora Charlotte Bennett, de 25 anos, relatou que “o governador havia feito perguntas invasivas enquanto ela trabalhava para ele, incluindo se ela era monogâmica e se ela fez sexo com homens mais velhos”.
A última alegação partiu da ex-assistente executiva, Brittany Comisso, de que o governador a apalpou na Mansão Executiva, onde ele mora, no final do ano passado.
O NYT chamou a queda de Cuomo de “dramática” e considerou “chocante” a “velocidade e queda vertical”: um ano atrás, ele era saudado por seu papel no combate à pandemia, quando NY era o epicentro da pandemia nos EUA.
Ainda segundo o jornal novaiorquino, o mandato de Cuomo foi marcado por uma “escalada impressionante de realizações”, entre as quais inclui “o aumento do salário mínimo” para US$ 15 a hora, “licença familiar remunerada”, investimentos em infraestrutura com “a construção de pontes e estações de metrô” e a “passagem do casamento gay”, ao lado de escândalos de corrupção. Era ainda acusado de ter maquiado o número das vítimas da Covid nos lares de idosos no Estado.