Ação planejada a serviço da luta política e da estruturação partidária
Em série de artigos, vamos tratar de cada uma das dimensões do Sistema de Ação Planejada e dialogar sobre os referenciais teóricos que nos ajudam a compreender o planejamento e o monitoramento estratégico como ferramentas de trabalho a serviço da luta política e da estruturação partidária.
Por Júlio Filgueira*
As resoluções aprovadas pelo 14º Congresso do PCdoB, realizado em Brasília em novembro de 2017, alcançam o centenário do Partido, em 2022. Diante disso, é preciso dar consequência ao conjunto de diretrizes, objetivos e metas ali presentes de tal forma que, com base em um novo sistema da direção eleita, possam ser formuladas desde já as fases e etapas a serem percorridas, seus projetos e as ações e tarefas correspondentes.
Para tanto, as resoluções evidenciam o esforço empreendido pelo Partido para melhor compreender, assimilar e difundir em todas as suas instâncias o processo de planejamento estratégico, enquanto ferramenta que aprimora processos de trabalho e contribui para maior efetividade da ação partidária.
Dos 208 itens que foram deliberados pelo Congresso, 14 versam explicitamente sobre o tema e, no geral, ratificam resoluções adotadas pela Direção Nacional do Partido, em dezembro de 2015 e julho de 2016, que criaram o Sistema de Ação Planejada – SAP do PCdoB.
O Sistema de Ação Planejada – SAP será composto inicialmente de quatro subsistemas interligados: a) planejamento estratégico; b) monitoramento estratégico; c) orçamento por projetos, d) formação de quadros e “nova cultura” de planejamento, todos estruturados em torno do Ambiente Digital que também esta sendo implantado no Partido. A eles poderão ser somados outros à medida que avancemos na implantação do SAP.
Desde sua criação, algumas iniciativas foram tomadas no âmbito da direção para implementar gradual e crescentemente o SAP. Podemos dizer que a primeira etapa desse trabalho foi a elaboração do Plano Bienal 2016/2017, que procurou ordenar as diretrizes estratégicas resultantes do 13º Congresso e 10ª Conferência Nacional; os resultados esperados e os projetos que deveriam ser executados para consecução dos nossos objetivos. O resultado até aqui é consideravelmente vitorioso, pois reunimos elementos, principalmente através do plano bienal, que assegurou uma política de investimento em projetos que possibilitam dar efetividade a um conjunto de resoluções desde o último congresso, mas que ficavam dispersas nas ações de cotidiano do próprio funcionamento partidário.
A grande questão é se seremos arrastados pelo ritmo dos acontecimentos do dia-a-dia ou se sabemos aonde queremos chegar e atuamos para isso. Como tirar consequência prática e assegurar eficácia, eficiência e efetividade aos nossos objetivos? O planejamento faz a mediação entre aquilo que é urgente e o que é importante, procurando alinhar toda a nossa ação e nossos recursos na direção dos resultados esperados. Quando não fazemos isso prevalece o improviso, o voluntarismo e o espontaneísmo na ação política ou, na melhor das hipóteses, nos colocamos a serviço da estratégia formulada por outros atores que estão no jogo social com o Partido. Se não temos nosso próprio plano e não caminhamos na direção dele, significa que fazemos parte do plano dos outros.
Visto sob essa perspectiva, o planejamento tem cunho eminentemente político e não é uma opção. Como cálculo que precede e comanda a ação política é imperativo para coordenar a atividade dos comunistas: a intervenção do Partido nas diferentes dimensões de luta política – de massas, nas instituições do Estado e de ideias – e na estruturação partidária.
Se formulamos um conjunto de objetivos para a atuação do Partido, mas não tratamos de identificar claramente quais os projetos necessários, suas respectivas etapas e tarefas; se não estabelecemos metas e indicadores capazes de medir o desempenho no curso da execução das ações; se não definimos ações de resposta e garantimos flexibilidade ao plano e, ainda, se não otimizamos o uso dos recursos disponíveis – humanos, materiais, cognitivos e financeiros – não seremos capazes de governar nossa ação. Estaremos submetidos ao desenrolar dos acontecimentos em um permanente baile de manobras táticas por entre as urgências e lances dos nossos aliados ou adversários.
Quantas vezes fomos acometidos, na atuação do Partido em suas diversas instâncias, desde a base até a direção nacional, nas entidades e frentes em que atuamos, nos parlamentos e no executivo, por esse fenômeno? Quantas vezes pautamos nossa ação pela necessidade de responder às urgências ou movimentos de outros atores? Quantas vezes, por fim, restringimos o alcance dos nossos planos à formulação de objetivos, sem a suficiente descrição de tarefas, metas, recursos e mecanismos de controle?
Compreender essas insuficiências e construir um sistema próprio, que dialogue com diferentes metodologias e saberes, que se adapte aos propósitos do Partido e à sua visão de mundo, é tarefa que deverá mobilizar todo o coletivo partidário.
Em série de artigos, vamos tratar de cada uma das dimensões do Sistema de Ação Planejada e dialogar sobre os referenciais teóricos que nos ajudam a compreender o planejamento e o monitoramento estratégico como ferramentas de trabalho a serviço da luta política e da estruturação partidária.
*Julio Filgueira é publicitário, pós-graduando em Gestão de Projetos e Programas. Consultor em Planejamento e Monitoramento Estratégico e secretário estadual de juventude do PCdoB-SC.