O escritor Paulo Coelho | Foto: Reprodução - Youtube

A Academia Brasileira de Letras (ABL) divulgou uma nota em defesa do escritor Paulo Coelho, cujos livros têm sido queimados por bolsonaristas depois que o autor criticou o governo Bolsonaro.

“A Academia Brasileira de Letras não poderia não repudiar, com veemência, o gesto incivil da queima dos livros do Acadêmico Paulo Coelho, a quem prestamos solidariedade”, diz a nota.

“Dar fogo aos livros traduz um símbolo de horror. Evoca um passado de trevas. Como esquecer a destruição das bibliotecas de Alexandria e Sarajevo, os crimes de Savonarola e as práticas do nacional-socialismo?”.

“O Brasil precisa de livros, bibliotecas e leitores. A linguagem do ódio é redundante e perigosa. Devemos promover, sem hesitação, os marcos civilizatórios e a cultura da tolerância”, continua a ABL.

Em um vídeo que circula pelas redes sociais, dois idosos tiram as páginas e queimam um exemplar de “Veronika Decide Morrer”, dizendo que Paulo Coelho é um “lesa-pátria”, “sabotador” e “traidor”. Em outro, um bolsonarista coloca fogo no livro “O Alquimista”.

Isso tudo porque Paulo Coelho fez publicações em suas redes sociais criticando o obscurantismo e o autoritarismo do governo Bolsonaro. “O talibã cristão controlará o país”, advertiu. O escritor criticou o fato do país exportar alimentos em larga escala enquanto os preços, do arroz, por exemplo, disparam, levando a fome ao povo. O autor pediu um boicote externo a esses produtos exportados.

“Os fanáticos do Bolsonaro estão queimando meus livros porque eu disse que eles precisam alimentar os brasileiros antes de exportar alimentos (as pessoas sem acesso regular a alimentos BASIC no Brasil chegaram a 10,3 milhões. Em 2013, eram 7,2 milhões (IBGE). Isto me lembra de 10 de maio de 1933, quando nazistas queimaram livros de escritores que eram contra Hitler”, disse Paulo Coelho.

“Queima Pantanal! Queima Amazonia! Chegaremos a queimar livros, como nazistas faziam?”, questionou o escritor no Twitter.

Paulo Coelho lembrou uma frase golpista de Bolsonaro: “Tudo é permitido. Temos o povo do nosso lado”.

“Ilegalidade atrás de ilegalidade. Escândalo atrás de escândalo. Sem punição. Um dia as pessoas perdem a timidez, e a casa cai – milícia radical não é povo”, disse em resposta.

O PEN Clube do Brasil, organização que promove a literatura e defende a liberdade de expressão, também divulgou uma nota “por conta de agressão intolerável de que não apenas ele acaba de ser vítima se não a literatura brasileira e o próprio país”.

“O fato de ter seus livros queimados em público por um casal que se diz em defesa da Federação Brasileira e de seu Presidente pelo fato (???) de que o mais reconhecido escritor brasileiro teria criticado posições adotadas pelo Presidente Bolsonaro”.

“Não apenas presta solidariedade ao seu mais traduzido escritor como repudia com veemência e asco a insanidade histórica do ato de queimar livros impensável violência aplicada ao se abrirem as trevas nazistas no sangrento ano de 1933”.

Leia aqui a íntegra da nota da ABL:

Nota Oficial

A Academia Brasileira de Letras sempre lutou pela defesa e difusão do livro em nosso país.
Ampliou intensamente sua missão durante a pandemia, multiplicando esforços, ampliando protocolos e abrindo frentes de diálogo para amainar as dores do presente, levando o livro aos rincões mais distantes do Brasil. Optou, dentre outros, pelos povos indígenas e quilombolas, comunidades carentes e ribeirinhos da Amazônia, bibliotecas comunitárias, hospitais, centros de formação e lares de longa permanência.

Assim, pois, a Academia Brasileira de Letras não poderia não repudiar, com veemência, o gesto incivil da queima dos livros do Acadêmico Paulo Coelho, a quem prestamos solidariedade.

Dar fogo aos livros traduz um símbolo de horror. Evoca um passado de trevas. Como esquecer a destruição das bibliotecas de Alexandria e Sarajevo, os crimes de Savonarola e as práticas do nacional-socialismo?

O Brasil precisa de livros, bibliotecas e leitores. A linguagem do ódio é redundante e perigosa. Devemos promover, sem hesitação, os marcos civilizatórios e a cultura da tolerância.

Leia aqui a íntegra da nota do PEN Clube:

Nota Oficial do PEN CLUBE
October 1, 2020 by paulocoelho

NOTA OFICIAL DO PEN CLUBE DO BRASIL EM SOLIDARIEDADE AO ESCRITOR PAULO COELHO

O PEN Clube Internacional – seção Brasil, cumpre o dever de vir a público para se solidarizar com o associado Paulo Coelho, por conta de agressão intolerável de que não apenas ele acaba de ser vítima se não a literatura brasileira e o próprio país.

O fato de ter seus livros queimados em público por um casal que se diz em defesa da Federação Brasileira e de seu Presidente pelo fato (???) de que o mais reconhecido escritor brasileiro teria criticado posições adotadas pelo Presidente Bolsonaro.

O PEN Clube do Brasil, único órgão internacional de que dispomos em defesa irrestrita tanto da liberdade de expressão de quem escreve e emite opiniões, quanto de seus escritores e jornalistas, não apenas presta solidariedade ao seu mais traduzido escritor como repudia com veemência e asco a insanidade histórica do ato de queimar livros impensável violência aplicada ao se abrirem as trevas nazistas no sangrento ano de 1933.

Tanto a solidariedade a Paulo Coelho, integrante da Academia Brasileira de Letras e de clubes literários de todo planeta, quanto o gesto de usar a bastardia de tal censura, cujas origens medievais são sobejamente reconhecidas, não podem, em nenhum momento serem ignorados por nossa sede em Londres e por seus duzentos clubes associados nos cinco continentes.

Ricardo Cravo Albin
Presidente do PEN Clube do Brasil