Presidente do Conselho Diretor da Abiquim, Marcos De Marchi. Foto: Abiquim

Os investimentos da indústria química de produtos de uso industrial despencaram em 2019, divulgou a Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), nesta segunda-feira (2), no Encontro Anual da Indústria Química (ENAIQ), realizado no Hotel Unique, em São Paulo.
Conforme a entidade, os desembolsos estimados para este ano ficaram em US$ 700 milhões, o que é 77% abaixo do verificado em 2018, segundo o jornal Valor Econômico.
Diante do quadro de incerteza que cerca o setor, por conta do péssimo desempenho da indústria como um todo e pela política antinacional do governo do Bolsonaro, de favorecer as importações às custas do mercado interno, o investimento previsto para o próximo ano ficará na ordem de US$ 600 milhões para a manutenção das operações existentes.
O avanço dos importados no mercado interno e o alto custo de matérias-primas e energia estão travando projetos do setor e cancelando investimentos, alerta a entidade. No caso das importações, a associação afirma que os produtos importados de químicos de uso industrial ocupam mais de 40% do mercado interno.
Neste ano, as importações de produtos químicos devem ficar perto de US$ 45,2 bilhões (uma alta de 4,4% em relação ao ano anterior), enquanto as exportações devem ter recuado os mesmos 4,4%, (US$ 13,1 bilhões). Caso estes indicadores se confirmem, a Abiquim destaca que haverá neste ano um déficit comercial recorde de US$ 32,1 bilhões. Esse seria o maior déficit já visto pelo setor desde 1991, quando se iniciou a série histórica da indústria química brasileira.
O faturamento líquido da indústria química deve encerrar 2019 com uma queda de 4,2% (US$ 118,7 bilhões). Já as vendas líquidas devem registrar um recuo de 10,5% (US$ 55,5 bilhões).
Para a Abiquim, os resultados serão catastróficos para o setor caso a abertura comercial desejada pelo governo siga em frente. Dados ainda preliminares apontam que, caso seja implementada a redução de forma unilateral da tarifa externa comum (TEC) do Mercosul, os produtos químicos de uso industrial importados tomarão 60% da demanda brasileira.
Sem dialogar com o setor industrial brasileiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresentou aos países que compõem o Mercosul uma proposta que prevê um corte acima de 50% na tarifa de importação cobrada de bens outros países ( como USA e China) para entrar nos territórios de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.
A associação não é contra a abertura comercial, desde que haja medidas que protejam a indústria brasileira. Segundo o presidente do conselho diretor da Abqiuim, Marcos De Marchi, a possível retomada das tarifas norte-americana sobre o aço e o alumínio produzidos no Brasil serve de alerta para a proposta de abertura comercial do governo.
“Inclusive porque os Estados Unidos estão indo na contramão disso [da abertura comercial]”, disse De Marchi sobre a nova ameaça do presidente norte-americano, Donald Trump, de retomar as tarifas sobre aço e alumínio vindos de Brasil e Argentina, em retaliação a desvalorização das moedas dos dois países sul-americanos em relação ao dólar.
Segundo De Marchi, a indústria química pode ser afetada indiretamente, uma vez que “tudo o que piora a produção brasileira, afeta o setor”. A Indústria química está no início de 95% das cadeias industriais.