“A contração do investimento público continua sendo um dos maiores entraves para a recuperação do país”, afirmou a Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), em estudo intitulado Livro Azul da Infraestrutura – uma radiografia dos projetos de infraestrutura no Brasil.
“Não dá para o setor privado resolver sozinho”, afirmou o presidente-executivo da associação, Venilton Tadini, na terça-feira (1), ao comentar o estudo da Abdib.

“Mesmo que o setor privado consiga duplicar rapidamente o montante de investimento anual, ainda restará uma lacuna de montante equivalente para atender as necessidades imediatas do país na infraestrutura”, declarou o empresário, ao contrário do que afirma o ministro da Economia, Paulo Guedes, que inventou até um tal de PIB privado para tirar qualquer responsabilidade do papel do Estado sobre o desenvolvimento econômico do país. No que depender de Guedes, qualquer recurso que possa ser destinado ao investimento público deve ser desviado para pagamento da dívida.

Para suprir os gargalos da infraestrutura, principalmente nos setores de transportes, logística e saneamento, a entidade sugere que “serão necessários ao menos R$ 284,4 bilhões de investimentos por ano (4,3% do PIB), nos próximos dez anos”. “Por aqui, o setor público continua com papel preponderante em modais de transporte, mobilidade urbana e saneamento básico”, destacou a Abdib no documento.

A associação também lembrou que no Brasil “já ocorre uma participação privada bem significativa”. O setor privado, diz a Abdib, “tem sido responsável nesta década por mais de 60% dos investimentos em infraestrutura, chegando a 72% em 2019”.

Mas destacou no documento que, “não deve haver preconceito com relação ao papel do Estado investidor na infraestrutura”, o que ocorre no mundo todo, seja em países desenvolvidos ou emergentes. “Há setores em que cabe ao Estado investir, por mais que ele tenha convicção e seja eficiente na diretriz de transferir à iniciativa privada o máximo de responsabilidades e oportunidades de investimento”.

A Abdib afirma que desde a crise de 2014 o setor de infraestrutura tem sido sucateado “por fatores conjunturais e estruturais”. A entidade aponta que o investimento em infraestrutura somou R$ 123,9 bilhões no ano passado, o que é 31,3% abaixo do pico atingido em 2014 (R$ 180,3 bilhões).

Segundo números apurados pela associação, entre 2014 e 2019, a parcela do investimento público caiu 52,0% (de R$ 71,0 bilhões para R$ 34,1 bilhões). Neste mesmo período, a parcela privada de investimentos no setor também recuou, queda de 17,8 % (saiu de R$ 109,3 bilhões para R$ 89,8 bilhões).

“No mundo, investimentos do Estado no setor são muito representativos”, diz a Abdib, que cita no documento dados do Banco Mundial, que mostram que nas economias emergentes o financiamento público representa cerca de 70% do total de recursos aplicados em infraestrutura.

“Países como Hungria, Malta e Eslovênia possuem ao menos 50% de participação do Estado. Situam-se aproximadamente em 30% – nações como Eslováquia, Letônia, Reino Unido, Suíça, Áustria, Luxemburgo, Dinamarca, Estônia e Portugal”, também apontou a entidade.

E conclui a sua análise declarando, “a Abdib entende que precisaremos de todas as fontes possíveis para recuperar os investimentos no setor”. “Somente a complementariedade entre o setor público e privado conseguirá via ferramentas que envolvam, por exemplo, investimentos, estruturas de garantias e bons projetos assegurar um incremento das taxas de investimento do setor que superarem os atuais 1,7% do PIB em direção a pelo menos 4%”.