A saída de Ernesto Araújo do Itamaraty e a política externa da China
Circula há dias a informação de que a China havia pedido ao governo brasileiro que demitisse o ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo para que fossem normalizados os fornecimentos ao Brasil de vacinas contra a Covid 19. A informação suscita algumas observações.
Por Haroldo Lima*
1) O suposto pedido da China ao Brasil não foi acompanhado de nenhuma indicação concreta de onde ele foi feito, sob que forma, quem assinou o eventual ofício. Pode-se dizer que é uma informação apócrifa.
2) Quem conhece os princípios norteadores da política externa da China viu logo que a notícia era falsa, mais uma “fake”. A China respeita e pratica os princípios que proclama.
Os princípios norteadores da política externa da China foram elaborados e anunciados em 1954, fruto de uma negociação entre a China e a Índia, enfrentando e resolvendo problemas concretos que herdaram da situação anterior de seus países.
Encabeçaram as negociações dois grandes estadistas do século XX, Zhou Enlai, o primeiro primeiro-ministro da China socialista após a Proclamação da República Popular em 1949, e Jawaharlal Nehru, que foi o primeiro primeiro-ministro da Índia após a independência desse país do Império Britânico, em 1947. Zhou Enlai foi dos mais destacados líderes do Partido Comunista da China. Nehru foi o líder da ala socialista do Congresso Nacional Indiano, maior partido político da Índia.
Os princípios então elaborados passaram à história com nome de os Cinco Princípios da Coexistência Pacífica e são os seguintes:
1) respeito mútuo pela integridade e soberania territorial;
2) não agressão mútua;
3) não ingerência mútua nos assuntos internos uns dos outros;
4) igualdade e benefício mútuo, e
5) coexistência pacífica.
A hipótese de um país pedir a outro que demita um ministro seu é uma interferência em assunto interno do outro e fere o item terceiro dos princípios enumerados. A China não faria isto.
Diplomaticamente, a imprensa da embaixada da República Popular da China no Brasil divulgou nota dizendo “desconhecer tal pedido”.
Os brasileiros, sim, absolutamente indignados, envergonhados, com a presença de um elemento tão desprezível e pernicioso no Itamaraty, exigem o seu afastamento imediato pelo bem da representação brasileira perante o mundo e pelos negócios do Brasil.
Além do mais, as agressões reiteradas e descabidas feitas à China por esse energúmeno que é o Ernesto Araújo e alguns de seus comparsas, como o Eduardo Bolsonaro, na Câmara dos Deputados, criam um constrangimento para o Brasil nas suas relações com a maior parceira comercial da nossa Pátria na atualidade.
Por isso, quem exige o afastamento imediato do Ernesto Araújo do Itamaraty não é a China, somos nós brasileiros, para que, por iniciativa própria e digna da nossa parte, possamos nos retratar ante a República Popular da China, pelos ataques desabridos a ela desferidos por Ernesto Araújo e Eduardo Bolsonaro.
Por último, vale observar que o responsável em última instância pela manutenção dos desclassificados Ernesto Araújo e Eduardo Bolsonaro nas posições que ocupam é o presidente Bolsonaro que, por diversas outras razões, inclusive a do genocídio que está patrocinando no Brasil, deve sofrer imediato processo de impeachment.
Haroldo Lima* é membro da Comissão Política do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil
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