A pressão midiática sobre a Política Externa do terceiro governo Lula
A mídia hegemônica nativa, com poucas exceções, cerrou fileiras para atacar a linha equilibrada da política externa brasileira em relação ao conflito na Ucrânia. Como amostra do que está acontecendo, peguemos o jornal O Globo na edição desta quarta-feira (19). O jornal constrói uma narrativa que dá a entender que Lula recuou das posições expressas na China e no Emirados Árabes Unidos. O título da manchete da editoria mundo é “Panos quentes diplomáticos”. Segundo o jornal, “novas” declarações de Lula e do chanceler Mauro Viera enfatizaram a defesa do princípio da integridade territorial da Ucrânia, sinalizando medo de possíveis retaliações vindas do G7. Ora, o apoio ao princípio da integridade territorial é o primeiro ponto da proposta chinesa para negociações de paz, proposta pela qual o governo Lula mostrou simpatia e foi tanto atacado.
O governo Lula não recuou de suas posições sobre o conflito
A diferença é que o Brasil e a China defendem um cessar-fogo imediato sem pré-condições para o início das negociações e EUA-União Europeia-Otan, só aceitam negociações de paz com a retirada da Rússia de todos os territórios ganhos no campo de batalha (territórios onde a etnia russa é maioria), inclusive da Criméia, que a Federação Russa incorporou em 2014, e sem qualquer garantia para a Rússia de que a Otan não se instalará na Ucrânia. Ou seja, só aceitam a paz com a derrota total da Rússia. Qualquer pessoa honesta intelectualmente consegue ver que o objetivo desta postura é a continuidade e a escalada do conflito. Lula, ao dizer que EUA e UE têm que ser convencidos da necessidade da paz tocou na ferida e incomodou profundamente os atlantistas. O governo Lula, nas declarações desta terça-feira, não recuou nos pontos essenciais: negociações de paz sem pré-condições e não adesão ao discurso unilateral anti-Rússia.
O Globo e a resposta na capa
O jornal O Globo ouviu “seis especialistas” sobre a posição do governo Lula em relação à Ucrânia. É uma velha tática que ainda engana muita gente. “Especialistas” são escolhidos a dedo de acordo com prévios critérios políticos e ideológicos do jornal, inclusive com uma cota mínima “divergente” para dar um verniz de legitimidade e convence o leitor desavisado de que determinada opinião (sempre aquela defendida pela linha editorial) é a predominante. O placar dos “especialistas” sobre as declarações de Lula em relação ao conflito na Ucrânia é uma goleada contra o governo: 5 a 1 a favor dos atlantistas. Massacre. Mas porque motivos a mídia hegemônica brasileira tem tanto servilismo em relação a política externa de um país estrangeiro? Um dos motivos está expresso na capa e contracapa do jornal O Globo de hoje. Vejam que beleza e imaginem quanto custou este anúncio da multinacional americana Shell. Explicado?
O Globo e a voz divergente
Como a voz divergente que O Globo acolheu para dar legitimidade a sua linha geral atlantista pode submergir no oceano de mediocridade, vamos ler um trecho da declaração do único dos seis ouvidos pelo jornal a elogiar a posição do governo Lula, Varun Sahini, indiano, professor internacional da Universidade Jawaharlal Nehru: “O Ocidente precisa entender que para países como Brasil e Índia, não é apenas um conflito bélico: está em jogo também, o papel de cada um de nós no sistema internacional e, sobretudo, no sistema internacional que vai emergir. Quando Lula diz que os dois lados desta guerra têm responsabilidade, é o que qualquer pessoa que tenha intenção de mediar o conflito deveria dizer, pois é preciso considerar as responsabilidades dos dois lados. É preciso entender, por exemplo, que a Rússia provavelmente vai reter a Criméia (anexada em 2014). Se Lula quer participar de uma mediação, está correto em afirmar que a culpa não é exclusivamente de Putin. A Ucrânia precisa ser responsabilizada por sua relação com a Otan (…) Não podemos simplesmente adotar as definições que saem de Washington ou de Bruxelas”.
Cuba e os direitos humanos
Todos os países membros das Nações Unidas são, regularmente, submetidos à Revisão Periódica Universal dos Direitos Humanos (RPU), mecanismo estabelecido no contexto da criação, em 2006, do Conselho de Direitos Humanos (CDH) da ONU. Em novembro de 2023 será a vez de Cuba. Embora a metodologia adotada pela RPU busque dar efetividade aos princípios da igualdade entre as nações, respeito à soberania e não seletividade no tratamento das situações de direitos humanos dos diversos países, o fato é que o imperialismo manipula politicamente a questão, usando a ocasião para atacar o país socialista. Como a ONU aceita contribuições coletivas ou individuais sobre a discussão em tela, entidades como o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz) e a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), além do intelectual Durval de Noronha Goyos Jr. (autor do livro Marco Democrático – A Constituição de Cuba de 2019) enviaram à ONU seus pareceres sob o tema, que disponibilizamos ao leitor, como uma contribuição para desmascarar as falsas alegações dos inimigos da Revolução Cubana. A contribuição de Durval de Noronha está em inglês.
Cebrapaz – CUBA – Revisão Periódica Universal – Conselho de Direitos Humanos (CDH)
Durval de Noronha – Report Cuba 2023
26º Encontro do Foro de São Paulo será em Brasília
O Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo, reunido nos dias 14 e 15 de abril em Bogotá, decidiu que o 26º Encontro do Foro de São Paulo será realizado na capital brasileira, de 29 de junho a 02 de julho. Em nota assinada pela Secretária Executiva do FSP, Mônica Valente, é informado que os partidos do GT estão “trabalhando no programa e outros detalhes logísticos e divulgaremos essas informações assim que possível”. O Brasil tem dois partidos representados no GT do FSP, o Partido dos Trabalhadores (PT), que ocupa a secretaria-executiva e o Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Na reunião em Bogotá, o PCdoB foi representado por Ricardo Abreu (Alemão), membro do Comitê Central do Partido.
O Globo e o “especialista” sobre Cuba
Repetindo o que fez recentemente a Folha de S. Paulo, O Globo usa o fato “gravíssimo” de Elián González ter sido eleito deputado da Assembleia Popular Nacional de Cuba para atacar a ilha socialista. Elián, no ano 2000, muito criança, foi levado ilegalmente para os EUA, só retornando depois de uma campanha liderada por seu pai e por Fidel Castro. A matéria, da jornalista Mariana Gonçalves, repete, com outras palavras, o que foi dito na Folha (veja a Súmula Internacional número 5, de 04/04), tentando convencer o leitor de que Elián, hoje com 29 anos, engenheiro, casado e pai de uma filha, foi transformado em uma pobre marionete do “regime”. Para corroborar tal opinião a Mariana ouviu “especialistas” ao gosto de O Globo. Desta vez não se deram ao trabalho nem de disfarçar dando espaço a uma voz divergente. Manuel Costa Morúa foi um dos “especialistas” convidados. Vamos ver o que nos diz dele a enciclopédia cubana online EcuRed: “mercenário anticubano (…) contratado pelo National Endowment for Democracy (NED) dos EUA. Há uma cópia de um contrato assinado de próprio punho pelo qual este mercenário recebe 14.400 dólares daquela ‘fundação’ estadunidense por suas atividades contrarrevolucionárias. Também recebe financiamento para a preparação e participação em eventos internacionais. Ele mantém vínculos com os principais representantes de várias organizações anticubanas nos prédios do NED (National Endowment for Democracy) e da USAID”. A USAID é a sigla em inglês da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional. Vamos combinar que a motivação de O Globo e do “especialista” Morúa, parece ser a mesma. E viva a Shell!
BRICS ultrapassam o G7 em PIB com base em Paridades do Poder de Compra
A parcela do produto interno bruto (PIB) das nações do G7 (EUA, Reino Unido, Alemanha, França, Japão, Itália e Canadá) com base nas paridades do poder de compra (PPPs) caiu de 45,8% do PIB mundial em 1992 para 30,39 % em 2022. Enquanto isso, a participação no PIB dos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) aumentou de 16,45% em 1992 para 31,58% em 2022. As previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostram que a participação dos países do G7 no PIB mundial baseado em PPPs continuará diminuindo, enquanto o dos BRICS continuará subindo e chegará a 33,66% em 2028. Informações de @DepreEconomica via site Desacato.
Suíça reafirma neutralidade diante do conflito na Ucrânia
A agência EFE informa que o presidente suíço, Alain Berset, defendeu nesta terça-feira (19), durante uma visita de trabalho à Alemanha, a neutralidade de seu país no conflito na Ucrânia. A Suíça, como outros países europeus, não deu permissão para reexportar armas de fabricação suíça para Kiev. “Neutralidade implica que nenhum apoio militar seja dado a nenhuma das partes envolvidas no conflito”, disse Berset, em entrevista com o chanceler alemão, Olaf Scholz. O presidente suíço lembrou que o seu país apoiou as sanções impostas a nível europeu contra a Rússia e prestou ajuda humanitária à reconstrução da Ucrânia. No entanto, um país que hospeda organizações da ONU e o Comitê Internacional da Cruz Vermelha deve respeitar a regra de neutralidade em questões de apoio militar. A Suíça rejeitou pedidos sucessivos da Alemanha, Dinamarca e Espanha, entre outros países, para enviar armas produzidas na Suíça ou reexportar material de guerra em poder de suas forças armadas para a Ucrânia. Entre esses pedidos negados estava o apresentado pelo governo de Berlim para a compra de tanques de batalha ‘Leopard2’, atualmente em serviço com o exército suíço, para substituir aqueles que o exército alemão fornecia à Ucrânia.
França: A luta prossegue
A polarização na França continua devido à reforma da aposentadoria, uma iniciativa já promulgada que parece longe de representar um capítulo encerrado, apesar da tentativa do presidente Emmanuel Macron de virar a página, nesta segunda-feira (17) à noite. O chefe de Estado fez um discurso televisionado de cerca de 15 minutos, parte dos quais dedicou a insistir na suposta necessidade de reforma, e na maioria das vezes a concluir o assunto. Cerca de 15 milhões de pessoas assistiram à aparição, transmitida pelos principais canais do país, embora para muitos não tenha sido tão fácil ouvir o presidente, devido aos protestos em toda a França em frente às prefeituras e um grande panelaço. Ao mesmo tempo em que o presidente pedia para “seguir em frente” panelas e instrumentos musicais soavam junto com o slogan “Renuncia, Macron!”, mobilizações que em alguns lugares viraram passeatas, com episódios isolados de violência e confrontos com a polícia. Pouco depois do pronunciamento, a Intersindical acusou-o de ignorar o descontentamento majoritário da sociedade. “O presidente fecha-se na sua negação e é o único responsável pela situação explosiva que se vive”, alertou em comunicado o movimento que reúne os principais sindicatos, que desde 19 de janeiro levou milhões de pessoas às ruas em 12 dias nacionais de protestos e greves. A Intersindical convocou uma nova mobilização para o dia 1º de maio, Dia Internacional do Trabalhador. Informações da Prensa Latina.
27 anos do massacre sionista de Qana
Nesta terça-feira (18), completou-se 27 anos do massacre de Qana. A Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) relembra: “Segundo a tradição cristã, foi na cidade bíblica de Qana, no sul do Líbano, que Jesus Cristo realizou seu primeiro milagre. Porém, em 18 de abril de 1996, a cidade foi palco de um dos mais horríveis crimes de Israel, à época governado por Shimon Perez. O ataque ocorreu no contexto da ofensiva sionista ao Líbano, nomeada ‘Vinhas da Ira’. Foram 16 dias de ataque e mais de 150 mortos. Israel bombardeou uma base da ONU. O local abrigava cerca de 800 pessoas. Foram no mínimo 106 mortos. Metade eram crianças. Os soldados da ONU logo entraram em contato com os sionistas avisando que ali estavam civis e que não havia motivos para atacar aquele local. Israel insiste que o bombardeio de 1996 foi um acidente. Porém, uma investigação da ONU no mesmo ano revelou improvável que as mortes fossem resultado de um acidente”.
Nicarágua pede que Taiwan seja expulsa do Sistema de Integração Centro-Americana
O Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, pediu, neste sábado (15), a expulsão de Taiwan como observadora do Sistema de Integração Centro-Americana (SICA) e solicitou a incorporação da Rússia ao bloco na qualidade de observadora. “O SICA não pode continuar admitindo Taiwan em seu sistema, essa base militar ianque chamada Taiwan deve ser retirada, expulsa do SICA“, disse Ortega. O SICA foi criado em 1991 e tem como membros Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua, Costa Rica, Panamá e Belize. O presidente nicaraguense também defendeu a cooperação com Pequim como “uma amostra” dos “princípios” do presidente chinês Xi Jinping para criar “um novo mundo” onde todas as nações “possam se encontrar e viver em paz, segurança e com respeito à soberania“. Luo Zhaohui, chefe da Agência de Cooperação da China, agradeceu: “A China aprecia profundamente todo o apoio fornecido pelo governo da Nicarágua em questões internacionais (…) especialmente a questão de Taiwan“.
Lavrov defende união contra “chantagens das sanções ocidentais”
O site Carta Capital informa que o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, pediu, nesta terça-feira (18), uma “união de forças” contra a “chantagem” das sanções do Ocidente, durante uma visita a Caracas. Segundo Carta Capital: “A passagem do chanceler pela Venezuela é a segunda escala de seu giro pela América Latina, que começou ontem no Brasil e continuará por Cuba e Nicarágua. A última vez em que ele esteve em território venezuelano foi em fevereiro de 2020. ‘Venezuela, Cuba e Nicarágua são países que escolhem o seu próprio caminho’, disse Lavrov, ao questionar as sanções internacionais impostas pelos Estados Unidos a essas nações aliadas. ‘É necessária a união de forças para combater as tentativas de chantagem e pressão unilateral ilegal do Ocidente’, declarou ainda o chancelar Russo”.
Por Wevergton Brito Lima
*Publicação da Secretaria Internacional do PCdoB – I21. Súmula Internacional 14.