A pandemia e o lugar da Ciência, por Flávio Dino e Allan Kardec Barros
Em 2020, a ciência salvou muitas vidas no nosso Estado. Embasada por método, informação e compreensão da realidade humana, a equipe da Saúde do Maranhão teve na ciência uma aliada de primeira hora para tomar decisões, definir estratégias e escolher caminhos. Como consequência, o Maranhão foi o ente federado com o melhor desempenho no combate à COVID-19, de acordo com levantamento do Centro de Liderança Pública (CLP), publicado no dia 09 de outubro de 2020.
Por Flávio Dino e Allan Kardec Barros*
As primeiras ações foram tomadas ainda em janeiro, com as notícias de que a pandemia havia alcançado a Europa. Por conta do grande fluxo de passageiros entre o continente europeu e o nosso país, era inevitável a manifestação do coronavírus por aqui. A Secretaria de Saúde começou, então, a planejar ações e a monitorar a propagação do vírus. Ainda em fevereiro, foram iniciadas a capacitação dos profissionais e a ampliação da rede hospitalar, com a montagem de leitos de UTI e de isolamento.
Em março, antes mesmo da confirmação do primeiro caso no Maranhão, o Governo declarou situação de calamidade, proibindo a realização de eventos, suspendendo aulas presenciais e circulação de ônibus interestaduais. Foram montadas ainda barreiras sanitárias, tanto da rodoviária quanto nos aeroportos de São Luís e Imperatriz.
A luta contra o coronavírus incluiu ainda batalhas judiciais e estratégias sofisticadas para conseguir, em meio à demanda mundial, insumos básicos para o tratamento e prevenção da Covid-19. Em abril, o Maranhão recebeu a primeira centena de respiradores comprados diretamente da China, com apoio do empresariado local.
Também em abril, o Estado tornou obrigatório o uso de máscara em ambientes públicos. Maio iniciou anunciando que a curva de contaminação e óbitos deveria subir exponencialmente, segundo estimativa dos cientistas. Para isso, a resposta teria de ser forte. O Maranhão deu outro passo inédito entre os estados brasileiros: iniciou lockdown, o isolamento total, da Ilha de São Luís. Em complemento, surgiram hospitais de campanha e ambulatórios, para tratar desde os primeiros sintomas da doença, transporte em UTI aérea para pacientes graves e, via decreto governamental, garantia de vagas em hospitais privados que estavam com leitos livres.
Com tantas medidas, o Maranhão conseguiu “achatar” a curva de óbitos. Chegou a perto de zero já no final de junho na Ilha de São Luís. O Governo abriu 13 novos hospitais em 12 semanas e chegou a oferecer 1800 vagas exclusivas na rede estadual para tratamento de coronavírus. Há que se destacar, também, a ampliação da realização de testes, com a incorporação de novos equipamentos e profissionais ao LACEN/MA (Laboratório Central de Saúde Pública do Maranhão).
Estamos agora, em parceria com a comunidade científica, fazendo a segunda fase do Inquérito Sorológico, com a participação de dezenas de professores, pesquisadores e técnicos do LACEN. Em julho, na primeira fase, o estudo detectou que o Maranhão possuía percentual de infecção de 40% da população. O IFR, índice que mede a taxa de letalidade, foi de 0,17%. Isso certamente é uma das menores taxas de mortalidade do planeta. Bom lembrar que, em torno de maio, o Maranhão figurava entre os Estados que seriam mais atingidos, de acordo com respeitáveis institutos internacionais. O índice de letalidade esperada era em torno de 1%, quase seis vezes mais. Medidas firmes e baseadas na ciência salvaram vidas no Maranhão.
A pandemia acentuou a crise econômica enfrentada pelo país. No Maranhão, buscamos sempre combinar ações de combate ao coronavírus com medidas que protegessem as atividades econômicas e a renda das famílias. Ainda em março, demos o primeiro passo para a distribuição de mais de 200 mil cestas básicas e abrimos editais para a confecção de máscaras de tecidos por profissionais locais, que posteriormente foram distribuídas à população. Máscaras do tipo face shield foram fabricadas em impressoras 3D, no Casarão Tech Renato Archer.
O cenário de maio era muito pessimista para a economia. Em junho mudou e estamos recalculando as expectativas de forma mais positiva. Gradualmente, de acordo com os estudos, fomos abrindo a economia, desde o dia 25 de maio. Os esforços foram feitos para garantir empregos, como o Plano Celso Furtado, com investimento de R$ 558 milhões em obras e compras públicas. Os resultados positivos têm aparecido retratados nos indicadores constantes do CAGED, do Ministério da Economia. De janeiro a setembro, temos o 4º maior saldo positivo de empregos do Brasil, com 13.033 postos gerados a mais do que demissões.
Os investimentos em Ciência e Tecnologia têm se mantido, inclusive financiando estudos específicos para o Covid-19, via a Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão (FAPEMA). Neste momento, o Governo trabalha com consultas à comunidade acadêmica para desenhar um novo Marco Legal de Ciência e Tecnologia no Estado.
Enquanto a vacina não chega, o Maranhão segue sua luta. No planejamento para 2021, os cientistas consideram a hipótese da continuidade da infecção, ainda que em níveis mais baixos. Ou eventualmente um recrudescimento da pandemia, como lamentavelmente estamos vendo em alguns países da Europa. Por isso mesmo, continuamos a, todos os meses, inaugurar novas unidades de saúde na rede estadual, processo esse que deve se estender a janeiro de 2021, com várias obras em andamento.
A luta continua, e aliando fé, conhecimento científico e eficiência administrativa, venceremos.
*Flávio Dino é governador do Maranhão. Allan Kardec Barros é PhD pela Nagoya University (Japão), pós-doutorado no RIKEN (Japão) e professor da Universidade Federal do Maranhão.
Fonte: Revista Veja
—
(PL)