Jair Bolsonaro, sempre sem máscara, estava acompanhado de ministros no passeio de moto pelo Rio de Janeiro

A cena do presidente Jair Bolsonaro na posse do presidente equatoriano Guilhermo Lasso contrasta com as imagens diariamente produzidas pela comunicação do Palácio do Planalto. No Equador, como em raras vezes, o presidente brasileiro aparece de máscara e dentro do que rege os bons protocolos para um chefe de Estado. No dia anterior, como que vestido de um outro personagem, Bolsonaro copiou o ditador fascista Mussolini.

Por Wadson Ribeiro*

Assim como seu igual na Itália dos anos 1930, Bolsonaro conduziu uma motocicleta pelas ruas do Rio de Janeiro que culminou em um comício, aglomerações e ataques a instituições democráticas como o STF, o Congresso Nacional, a imprensa e tudo aquilo que faz parte de uma democracia.

Dias antes da fatídica manifestação motorizada no Rio, em um claro gesto ilegal de campanha antecipada, atacou adversários políticos na cidade de Açailândia, no estado do Maranhão. Dessa vez, os alvos foram o governador do estado Flávio Dino e o ex-presidente Lula. Não é sustentável uma democracia com tamanha beligerância por parte do presidente da República, a quem caberia o papel de conduzir e harmonizar o país, especialmente, diante da crise sanitária e econômica, que tanto mal têm feito à população. Ao contrário disso, Bolsonaro e seus assessores falam uma coisa e praticam outra, tensionando a todo momento as relações políticas com a sociedade e as instituições. É como se a falta de compostura e a imagem de antissistema retroalimentasse o governo a todo o momento.

Na CPI da Covid no Senado Federal, os aliados do presidente têm mentido descaradamente e aumentado os indícios que evidenciam como o governo deixou de agir e boicotou os esforços para a compra de vacinas. Os depoimentos dos ex-ministros da Saúde, revelam a existência de um governo paralelo, à margem dos organogramas oficiais, muito provavelmente composto pelo vereador da cidade do Rio de Janeiro e filho do presidente da República, também conhecido como Carluxo, além de empresários, amigos e apoiadores da família Bolsonaro. Fica claro, que a força política para a recomendação da Cloroquina, para a aparição sem máscara em eventos com aglomerações, para a defesa da tese da imunidade de rebanho, que tanto mal fez ao Amazonas, para a postura permanente de confronto de negação da ciência, tudo isso, tinha um centro de comando paralelo e à margem da legalidade institucional.

A aparição do ex-ministro da Saúde e general do Exército Eduardo Pazuello no ato político de Bolsonaro, é mais uma afronta à democracia e às leis brasileiras, que merece uma dura resposta por parte do Exército. Ao que tudo indica, Bolsonaro não tem o apoio das Forças Armadas para nenhum tipo de aventura, as três Armas sabem o peso negativo que carregam pelo golpe militar de 1964 e, ao que parece, não estão dispostas a nenhuma ruptura democrática, os tempos são outros. Por outro lado, Bolsonaro mira os contingentes das polícias militares e de seus egressos espalhados pelo Brasil. Com bons salários, armados, com estabilidade, direitos garantidos e, em sua maioria, defensores da visão de mundo de Bolsonaro. É preciso ter cuidado para que isso não se transforme em um braço social armado a serviço das maldades do presidente.

Bolsonaro vive o seu pior momento no governo. A CPI do Senado que escancara o drama da pandemia no Brasil, as crises com as Forças Armadas, a piora na econômica que deteriora a condição de vida do povo e a volta, de forma favorita, de Lula ao cenário eleitoral, fazem de Bolsonaro uma espécie de fera acuada e quando isso acontece, ele geralmente radicaliza ainda mais, criando factoides como o voto impresso e outras instabilidades institucionais na tentativa de pavimentar sua sanha golpista e antidemocrática para se perpetuar na presidência.

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Wadson Ribeiro* é presidente do PCdoB -MG, foi presidente da UNE, da UJS, deputado federal e secretário de Estado de Minas Gerais.

 

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