A formação política como instrumento de luta
Com identidade política e ideológica baseada na filosofia marxista, o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), através da Escola Nacional de Formação João Amazonas realiza cotidianamente a capacitação teórica de sua militância em diferentes níveis, com o compromisso de formar sua base através do currículo marxista-leninista atrelada a análise da realidade brasileira.
Defender a construção de uma nova sociedade não é tarefa fácil e por isso, é essencial ter embasamento, conhecimento teórico, da história, da sociologia, da economia”, conta o diretor da Escola Nacional do PCdoB, professor Altair Freitas, em entrevista concedida nesta quarta-feira (24).
Altair Freitas que é historiador, membro do Comitê Central e da direção do PCdoB de São Paulo diz que neste sentido, é essencial para um partido comunista e revolucionário realizar um trabalho de formação e incentivar os seus militantes e seus quadros dirigentes que estudem.
Segundo ele, a Escola Nacional estruturou um processo de formação elogiado que se estabelece por níveis. O estudo do Programa Socialista para o Brasil, o curso de iniciação ao marxismo-leninismo, o que trata dos conceitos básicos da filosofia marxista e o curso nacional de nível 3 que faz um aprofundamento destes conceitos.
Este último, concedido anualmente pela Escola João Amazonas, será o primeiro a ser realizado presencialmente após a pandemia e já estreia em novo formato. O Curso de Nível 3 terá início nesta sexta-feira (26) e vai até o dia 31 de janeiro, na capital paulista.
O primeiro dia do curso terá participação da presidenta nacional do PCdoB, ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos que fará uma conferência de abertura. Cerca de noventa pessoas, entre dirigentes estaduais, oriundas de doze unidades da federação, professoras e professores da Escolas estarão ao longo dos próximos seis dias se debruçando sobre os cinco núcleos de ensino e pesquisa preparados pela Escola.
Em entrevista, o diretor da escola de formação do PCdoB, discorreu também sobre a importância da capacitação política dos quadros comunistas para o desenvolvimento e fortalecimento do Partido. Explicou também como funciona o currículo da Escola Nacional, como é ministrado o Curso de Nível 3 e quais são os instrumentos de capacitação que são oferecidos pela Escola para a militância comunista.
Confira abaixo a entrevista completa:
Qual a importância da formação política e o quanto essa capacitação contribui para o desenvolvimento e fortalecimento do PCdoB?
Altair Freitas: Esse trabalho de formação teórica que a gente chama de formação teórica e ideológica é essencial para um partido comunista como o nosso. Porque não é possível defender a construção de uma nova sociedade como o PCdoB propõe, sem ter embasamento, conhecimento teórico, conhecimento da história, da sociologia, da economia.
É preciso olhar para a sociedade que queremos substituir, que é a sociedade capitalista e ver a experiência histórica de outros povos, de outros países, de outros partidos comunistas que também buscaram fazer a transformação social, superando o capitalismo e construindo o socialismo.
É por tudo isso que faz com que um partido comunista dedique uma parte do tempo da sua militância, dos seus quadros dirigentes para o estudo, para o aprendizado histórico. E, em especial, do marxismo-leninismo que é o nosso referencial teórico.
É preciso compreendermos a filosofia marxista e essencial utilizarmos o leninismo como um instrumento de análise da realidade, da trajetória histórica da humanidade, do sistema capitalista. É um instrumental de análise da realidade concreta a partir da compreensão mais larga do entendimento mais longo da história, da sociologia, da economia, da filosofia. E um partido como o nosso, precisa que seus militantes e seus quadros dirigentes estudem.
O trabalho da Escola Nacional João Amazonas, da Secretaria Nacional de Formação e Propaganda do PCdoB – porque a escola é parte integrante deste complexo de formação – que buscar estimular os militantes do partido ao estudo individual e coletivo, através de um conjunto de cursos.
Para que a nossa luta política tenha qualidade é preciso estudar para que a gente não se perca diante das pressões da ideologia da classe dominante. A classe dominante tem um conjunto de ideias que ela propaga pela sociedade e o nosso papel é entendê-las, compreendê-las e formar nossos militantes e quadros no sentido de, ao compreendê-las, superar essas ideias, construindo uma nova forma de pensar, uma forma de pensar mais coletiva. Voltando para o processo de luta pela construção do socialismo.
E quais são os instrumentos oferecidos pela Escola de formação e o currículo de estudos?
De modo geral e evidentemente, não é um curso, não é um livro somente que dará conta desse processo de entendimento desses elementos, que são bastante complexos. E como é que isso se traduz para a luta política? Na realidade que, ao fim, ao cabo, nós somos um partido político que desenvolve uma luta muito objetiva na sociedade brasileira do nosso tempo.
A Escola construiu um currículo reconhecido no Brasil, entre outras forças de esquerda, entre outros partidos comunistas do mundo que estabeleceu um processo de formação que a gente chama de formação por níveis. Começa com um nível mais básico do entendimento desse complexo teórico do marxismo, leninismo, até chegar em níveis mais avançados.
A primeira atividade de formação que a gente busca propiciar para nossos militantes é o Curso do Programa Socialista (CPS) do PCdoB que é o nosso guia de ação. É o documento construído coletivamente pelo Partido que orienta como nós devemos agir na política, no cotidiano e em torno do que que a gente luta. E lá contém as principais bandeiras defendidas pelo PCdoB e que se apresenta para o Brasil. O programa partidário é um documento essencial para a compreensão de toda a militância. Dessa forma, nós temos um curso específico sobre o programa.
O currículo que a Escola estruturou, em todos os níveis, é organizado em torno de cinco grandes eixos temáticos: Filosofia; Estado e Classes Sociais; Economia, Política e desenvolvimento Socialista; Partidos Comunistas e em especial, a trajetória do Partido Comunista do Brasil.
O curso de nível 1, de iniciação ao marxismo-leninismo, tem em torno de 20 horas, pode ser presencial ou online, mas que já vai entrando nestas cinco áreas. Na sequência, temos o Curso de Nível 2, que a gente chama de conceitos básicos do marxismo, leninismo que tem uma carga horária aproximada de 40 a 45 horas. Esses primeiros cursos devem ser aplicados, principalmente, pelos Comitês locais e Estaduais do PCdoB. E o Curso de Nível 3, que tem uma carga horária média de 90 a 95 horas e é aplicado pela Escola Nacional.
Recomendamos também que depois do Nível 3 que os comunistas façam o curso de Estudos Avançados, que são seminários que fazem parte do processo de formação continuada para professores e professoras da Escola, dirigentes do Comitê Central e de outras frentes. A ideia é que sejam realizados anualmente com um aprofundamento sobre um conjunto de temas do currículo do Partido. Sempre pensando no olhar para a sociedade brasileira, para a sociedade contemporânea, para a sociedade mundial. Buscando interpretar esses fenômenos, como lutas, guerras, crises.
Outra ferramenta que a Escola tem utilizado para a formação, mais recentemente, são as Lives do João. Que são um conjunto de Lives organizadas pelos nossos núcleos nacionais de ensino e pesquisa. No ano passado fizemos 21 dessas Lives abordando temas do currículo batendo papo com intelectuais do partido, com membros da academia, que gostam de contribuir com o desenvolvimento do pensamento do PCdoB. Essas Lives podem ser acessadas na TV Grabois no canal da Fundação Maurício Grabois no YouTube.
Como se dará esse curso nacional de Nível 3, o primeiro presencial após o período da pandemia. É o primeiro também realizado nos dois formatos, online e presencial. Nos explique como ele será ministrado.
Ele é um curso muito impactante na vida dos quadros partidários. Até 2020, quando foi a última edição presencial, ele era realizado numa situação de doze dias em regime de internato, de confinamento mesmo, da turma estudando, debatendo os conteúdos. Fazendo o que a gente chama de aprofundamento dos conceitos do marxismo, leninismo.
Na pandemia, realizamos duas edições totalmente online, de 2021 e 2022. E, para isso, gravamos web aulas. As aulas que eram dadas presencialmente historicamente desde 2009, quando instituímos o Curso Nível 3, nós gravamos esse conteúdo e eles estão disponíveis na plataforma de ensino à distância da Escola Nacional João Amazonas. (https://escolanacionalpcdob.eadbox.com/)
A primeira etapa do curso de Nível 3, todos que se inscreveram para participar estudaram ou ainda estão estudando, ao seu tempo, as web aulas com cerca de 40 horas. E o que vamos fazer no encontro presencial que agora terá seis dias será uma conferência da nossa presidente nacional, Luciana Santos que irá vai abrir o curso, e depois, do dia 27 ao dia 31, será dedicado ao estudo dos temas das web aulas. Dos núcleos de ensino e pesquisa, começa com Filosofia, Estado e Classes, Economia, Socialismo e Partido.
As aulas no encontro presencial, que é um formato inovador, a gente está buscando introduzir esse ano. Mas de modo geral, entendemos que na medida do possível, o processo de formação presencial é muito melhor. A gente insiste nesse formato presencial, porque a turma compartilha o mesmo espaço, o mesmo ambiente.
E como as pessoas fazem para participar do Curso Nacional, como é o processo de inscrição?
O processo de seleção do curso nacional é realizado pelos comitês estaduais e as secretarias nacionais do PCdoB. A cada ano eles selecionam os alunos com base na priorização do trabalho de formação de acordo com a realidade de cada comitê, os dirigentes que ainda não fizeram o curso, os que participam de entidades do movimento social, os quadros que participam em parlamentos, de gestões públicas, executivas estaduais, municipais ou mesmo agora, federal. Os comitês que estabelecem a prioridade, já que não é possível organizar um encontro com muita gente. A inscrição acontece diretamente com a Escola Nacional. Esse é o procedimento, não é autoindicação.
Quem já fez o curso de nível 3, a gente sempre orienta que eles participem do Seminário Nacional de Estudos Avançados. O que a gente chama de formação permanente dos militantes do PCdoB. O processo de formação é continuado do ponto de vista do trabalho da Escola.
O Curso Nacional também faz o debate da transversalidade dos temas sociais como a questão da emancipação da mulher e do combate ao racismo?
Fazemos sim, e são debates acesos. É importante que a gente compreenda que a primeira tarefa do nosso trabalho de formação é defender a transformação da sociedade brasileira. E isso exige uma luta política muito concreta, o que chamamos de luta de classes. A luta em defesa de uma sociedade mais justa, de uma sociedade mais equilibrada. Esse é o eixo central do trabalho de formação. Mas é óbvio que temos as lutas sociais, para além da especificidade da luta de classes. A compreensão do movimento comunista é que a luta das mulheres, ela é parte integrante e indissolúvel na luta de classes. Conta pela construção do socialismo desde antes de Marx e Engels, dos primeiros pensadores socialistas, já se tinha essa compreensão da necessidade da luta pela emancipação da mulher, da luta pelos direitos femininos. E desde sempre foi incorporado ao processo de formação do partido.
A luta antirracista, num contexto de um país como o nosso, pela forma como ele foi colonizado pelos portugueses, pela forma como se deu o desenvolvimento histórico do Brasil, com opressão, com a escravidão dos negros, com a escravidão dos indígenas. A luta antirracista aqui no Brasil é a luta pela emancipação socialista. A gente não faz essa distinção, essas lutas são parte integrantes da grande luta geral pela construção de uma nova sociedade. E esse debate não é novo pra gente.
Também fazemos o debate em torno das questões da luta pelos direitos da população LGBTQIA+. A luta da juventude também. Os cursos da escola tratam desses elementos sempre. Conforme o nível vai avançando, o debate vai se aprofundando, de modo mais intenso, à luz da nossa teoria, à luz da nossa formação marxista. São temas que sempre estão presentes em todo o processo de atividade de formação, a começar pelo Programa Socialista, que também aborda essas questões.
Confira os conteúdos, gratuitamente, na plataforma da Escola Nacional: