“A hora é de pôr força total no segundo turno”, diz Luciana
A presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, afirmou que é preciso esperar a realização do segundo turno, em 27 de outubro, para se fazerem “análises mais aprofundadas” sobre as eleições municipais de 2024. Com isso, seu informe ao Comitê Central do Partido, nesta sexta-feira (11), levantou “considerações iniciais” – mas não conclusivas – sobre a disputa às prefeituras e às câmaras municipais.
Antes de abordar o pleito brasileiro, Luciana fez comentários sobre o cenário geopolítico, marcado, segundo ela, por “guerras e agressões que possuem como pano de fundo, a luta por um reordenamento do sistema internacional”. A dirigente – que também é ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação do governo Lula – denunciou os “crimes de guerra que o Estado de Israel vem perpetrando contra as populações da Palestina, Libano e Irã”, às quais o PCdoB presta solidariedade.
Ao mesmo tempo, com os Estados Unidos à frente de alianças imperialistas como a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), há um esforço para “conter a Rússia e a China, além de estabelecer um novo mapa na região do Oriente Médio”. De acordo com Luciana, “estamos diante de um eminente conflito entre potencias nucleares”.
Três tendências
A respeito das eleições no Brasil, Luciana comentou que os avanços da gestão Lula, especialmente na área econômica, não foram suficientes para elevar a popularidade do governo e impactar mais fortemente a decisão do eleitor. O número de trabalhadores empregados, por exemplo, bateu recorde no segundo trimestre de 2024 – há 101,8 milhões de brasileiros no mercado de trabalho.
A despeito dos números, pesquisas de opinião apontam que cresce a percepção negativa do povo sobre a economia. Além disso, quando a eleição define o rumo das cidades, “as questões locais – os problemas e anseios da vida das pessoas – têm mais peso”, avalia Luciana. “Não há centralidade entre a disputa presidencial e a municipal, embora seja um elemento que compõe o ambiente político”.
Passada a votação do último domingo (6), a disputa ainda está em aberto nas 52 cidades que terão segundo turno – incluindo 15 capitais. Mesmo assim, Luciana diz que três tendências estão claras: 1) a divisão da direita, com contestações à liderança do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); 2) o fortalecimento de legendas de centro que estão na base do governo Lula, como PSD e MDB; e 3) o “lento movimento de recomposição” dos partidos do campo progressista após reveses nos dois últimos pleitos municipais (2016 e 2020).
A direita
Sobre o racha no bolsonarismo, a presidenta do PCdoB mencionou o fenômeno Pablo Marçal (PRTB), que, mesmo sem tempo de TV, obteve 1,7 milhão de votos em São Paulo e quase foi ao segundo turno. “Houve uma divisão no campo da extrema direita que colocou em questionamento a figura de Bolsonaro”, ao mesmo tempo em que emergiu um extremismo digital”.
O ex-presidente, por sua vez, conquistou “um resultado mais orgânico, concentrando suas forças em candidaturas do PL e tendo de fazer composições políticas. O PL deixou de ocupar cidades menores e no interior do País para assumir cidades relevantes com mais de 200 mil habitantes, além de algumas capitais”. Na visão de Luciana, Bolsonaro sai desgastado por ter “aparentemente perdido ímpeto de antissistema”, além de ter titubeado sobre seu apoio em colégios eleitorais importantes, como São Paulo e Curitiba.
Se o PL não alcançou as 1.500 prefeituras que tinha como meta, a centro-direita é a “força emergente no quadro municipal”. Na primeira eleição nas cidades com a presença das três federações partidárias (PSDB-Cidadania, PSOL-Rede e PT-PCdoB-PV), as legendas do Centrão – com “base fluida e interesses contraditórios” – foram beneficiadas pela crescente concentração partidária.
Beneficiaram-se também do aumento das emendas parlamentares, que turbinaram prefeitos em busca de um novo mandato. “Nos cem municípios com mais emendas, por eleitor, nada menos que 50 dos 51 prefeitos candidatos se reelegeram”, disse Luciana. “A moderação em torno do uso de emendas é um dos grandes desafios políticos institucionais que temos pela frente.”
A esquerda e o PCdoB
No campo democrático e progressista, PT e PSB – partidos do presidente e do vice-presidente – registraram crescimento no número de prefeitos eleitos, na comparação com 2020. Neste segundo turno, partidos da base de Lula disputam em cidades importantes, como São Paulo, Belém, Fortaleza, Aracaju, Cuiabá, Porto Alegre, Belo Horizonte, Natal e João Pessoa.
O PCdoB sai da eleição 2024 com 19 prefeitos e 354 vereadores eleitos. Para Luciana, trata-se de “um resultado modesto, porém positivo dentro do quadro geral”. O principal avanço foi “a retomada de nossa presença com maior força no Sudeste”. O Partido elegeu oito vereadores em seis capitais – Porto Alegre (2), Salvador (2), Belo Horizonte (1), Recife (1), Belém (1) e São Luís (1). O desempenho também progrediu em cidades com mais de 200 mil eleitores.
No estado do Rio de Janeiro, graças a uma combinação de resultados, o Partido vai assumir mais um mandato na Câmara Federal, com Enfermeira Rejane, e outro na Assembleia Legislativa, com Lilian Behring – as duas terminaram as eleições 2022 na primeira suplência. Em Pernambuco, além de passar a ter o próximo vice-prefeito do Recife, Victor Marques, o PCdoB se revelou decisivo para levar ao segundo turno o candidato a prefeito de Olinda Vinícius Castellos.
Luciana diz que, daqui até 27 de outubro, o Partido deve lutar para ampliar as vitórias do campo progressista. “A hora é de pôr força total no segundo turno”, diz a presidenta do PCdoB. “Temos batalhas importantes nos próximos 16 dias. Vamos concentrar forças nelas, com vistas a melhorarmos o quadro político que vivemos.”