A Federação Única dos Petroleiros (FUP) criticou propaganda lançada pela gestão da Petrobrás sobre os preços dos combustíveis. No portal da entidade, a FUP afirma que a peça publicitária não tem compromisso com a realidade dos brasileiros, que enfrentam inflação galopante por causa principalmente dos reajustes abusivos da gasolina, do óleo diesel e do gás de cozinha.

“O anúncio enganoso, em sotaque estrangeiro, adota a estratégia negacionista do Governo Federal, atribuindo a terceiros a causa principal dos aumentos dos preços da gasolina”, afirma o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, lembrando que em alguns postos do país já superam R$ 7,00 por litro.

A propaganda fala em “transparência”. Mas, para o dirigente, é mesmo “para inglês ver e ouvir”. “A empresa esconde a verdade ao não mencionar que os seguidos reajustes são determinados pela política de Preço de Paridade de Importação (PPI) adotada pela empresa e que norteia os demais agentes do mercado”, comenta o coordenador.

A FUP explica que, pelo PPI, a direção da Petrobrás reajusta os preços de acordo com a variação do dólar e a cotação internacional do petróleo, além dos custos de importação, mesmo o Brasil sendo autossuficiente em petróleo, com grande parte de seus custos em real. Segundo cálculos da assessoria econômica da entidade cerca de 1/3 de seus custos de produção de petróleo e refino possuem uma aderência ao câmbio e aos preços internacionais.

No seu anúncio para inglês ver e ouvir, a Petrobrás se responsabiliza por R$ 2,33 por litro de gasolina na bomba. “A propaganda omite que, individualmente, a Petrobrás fica com a maior parte do preço total”, ressalta Bacelar.

A entidade revela ainda que o comercial não mostra que é a gestão da Petrobrás que está aumentando o preço do combustível, forçando outros da cadeia a fazerem o mesmo. Não revela também que a Petrobrás está elevando sua participação na composição do preço: o preço da refinaria (Petrobrás) saiu de 28,7%, em 2017, e atingiu 33,4% agora, em 2021, como mostra a série histórica no quadro abaixo.

Ou seja, o comercial enganoso foge do ponto central do problema e prefere seguir a lógica do governo do presidente Jair Bolsonaro, colocando a culpa nos outros, denuncia a FUP.

“A gestão da Petrobrás está se especializando em propaganda mentirosa. Utilizou dinheiro dos brasileiros para produzir e veicular na mídia esse anúncio que esconde uma grande verdade: a gestão bolsonarista na Petrobrás explora o povo brasileiro”, afirma o coordenador da FUP.

Ele lembra que, ao veicular esta nova propaganda enganosa, a gestão da Petrobrás também revela que esqueceu a experiência de passado recente, quando, em setembro último, foi processada por Estados por compartilhar em seu site informações falsas sobre motivos para a alta nos preços dos combustíveis.

“A Petrobrás está obtendo superlucros às custas dos consumidores brasileiros, que estão sendo utilizados em antecipação de dividendos aos acionistas, totalizando R$ 63,4 bilhões (cerca de US$ 12 bilhões) em 2021. Enquanto isso, tanta gente sem dinheiro para conseguir comprar um botijão de gás, que já representa cerca de 10% do salário-mínimo”, completa Bacelar.

“Com a adoção do PPI, a companhia deixou de atuar como um instrumento da política energética do Estado brasileiro, que deveria ter como objetivos garantir, ao mesmo tempo, a segurança de abastecimento, o crescimento econômico e o acesso energético aos mais vulneráveis – para se tornar uma empresa que está estritamente voltada para a sua acumulação interna de capital”, explica o pesquisador do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (INEEP), Eduardo Costa Pinto.

Para isso tem maximizado os seus lucros, com a precificação de derivados vendidos no mercado interno, atrelando-a ao dólar e ao preço internacional de petróleo e derivados. “Essa política tem proporcionado à Petrobrás, desde 2020, margens de lucro, retorno sobre o patrimônio líquido e geração de caixa operacional sobre a receita de vendas líquida, no mínimo, três vezes superior à média das maiores petroleiras internacionais”, destaca Costa Pinto.