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Nesta quinta-feira (08), a candidata à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela d’Ávila (PCdoB) e seu vice, Miguel Rossetto (PT), participaram de live promovida pelo jornal Brasil de Fato RS e a Rede Soberania em que trataram dos planos que têm para a cidade. Demonstrando grande sintonia com os problemas enfrentados pela população, Manuela  e Rossetto abordaram alguns dos principais desafios que estão postos para a capital gaúcha.

O primeiro ponto abordado na entrevista foi a educação. “Temos um projeto que, em primeiríssimo lugar, pretende pactuar com a rede, a partir da gestão democrática, a recuperação do ano letivo. Estamos lidando com um ano letivo perdido, entre aspas, mas que não é igual na rede pública e na rede privada”, disse a candidata.

Manuela destacou que na rede pública, devido à situação de vulnerabilidade, um dos principais desafios é lidar com a evasão escolar. “Miguel e eu temos, em nosso projeto, a ideia de recuperar o ano letivo com mais horas-aula, pactuando isso com a rede e garantindo programa de renda básica para a primeira infância”.

Outra questão levantada pelos candidatos é possibilitar que as crianças possam aprendam mais. “Isso tem relação com a qualificação permanente, com alimentação adequada, mas também tem relação com outra proposta nossa que é a universalização do acesso à educação infantil”, pontuou. Manuela lembrou que hoje em Porto Alegre “oito mil crianças estão fora da educação infantil e temos condições, com o novo Fundeb, de garantir a universalização em quatro anos, assim como temos condição de garantir que cheguemos a 50% (a mais) das vagas nas creches”.

Valorizar o público

Ao tratar da saúde, e considerando a política privatista que tem sido a tônica da atual gestão do tucano Nelson Marchezan Jr., Manuela enfatizou: “Somos frontalmente contrários à privatização e a terceirização da gestão pública da saúde. Aliás, a pandemia também serve para nos mostrar o papel estratégico da saúde pública e territorializada. É o território que pode nos ajudar a combater o aumento do contágio (pelo coronavírus)”.

Manuela e Rosseto salientaram dois aspectos desta questão. “Evidentemente, queremos a manutenção do Imesf (Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família). Inclusive, o Congresso debate a regularização dos institutos de direito público e de direito privado. Bom, se essa alternativa nos for facultada, assim será. Se não, nós já idealizamos e apresentamos um modelo de uma empresa pública, tal qual o Hospital de Clínicas, porque nós queremos resolver e buscar reaproveitar os homens e mulheres que foram concursados e que já estabeleceram vínculos com a comunidade”, explicou. O Imesf foi recentemente extinto após o STF ter considerada inconstitucional a lei que o criou. A atual gestão, no entanto, nada fez para buscar a readequação do Instituto, demitindo agentes em plena pandemia. Conforme apontou Manuela, a “Estratégia de Saúde da Família pressupõe vínculo territorial e humano, trabalhadores da saúde que conhecem as pessoas da região”.

O segundo ponto colocado pela candidata é a necessidade de garantir que o atendimento de Saúde da Família seja feito por equipes completas. Conforme apontou, atualmente 43% das equipes estão incompletas.

Transporte

Outro tema colocado durante a entrevista foi  o transporte público coletivo. “Há um modelo hoje, idealizado pelo prefeito, que é o da demissão, da taxação das pessoas e de uma série de subterfúgios para repassar mais recursos às empresas sem enfrentar os problemas que o povo vive”.

Para Manuela e Rossetto, “é preciso resgatar a ideia de que podemos ter o melhor transporte público do Brasil, como já tivemos, com o papel estratégico da Carris (empresa pública de transporte de Porto Alegre). E temos alguns objetivos para isso. O primeiro deles é a retomada da Câmara de Compensação Tarifária para a gestão pública”.

Manuela também criticou a falta de gestão pública da atual administração. “Não sei para quê essa gente quer governar porque não quer gerir nada: não quer gerir a saúde, a educação, o transporte; só quer gerir o transporte na hora de passar os 39 milhões para os empresários”. Ela destacou que “para poder reduzir a tarifa, é preciso ter a gestão nas mãos da Prefeitura, para que a gente possa, aí sim, reduzir tarifa criando um fundo municipal”. E acrescentou: “Mas, além disso, temos a ideia de ter uma Carris forte, balizadora da qualidade do nosso transporte público”.

A candidata desconstruiu o discurso que se generalizou, nos últimos tempos, de que o transporte por aplicativo teria sido o principal fator para a redução do número de passageiros nos ônibus na cidade, afirmando que essa fatia representa em torno de 3% do total. “Na vida real, as pessoas deixaram de andar de ônibus porque é caro, é R$ 4,70. Nosso povo gasta 23% do salário mínimo para se movimentar na cidade”, o que levou muita gente a andar a pé.

Emprego e renda

Ao tratar de uma das questões que mais afligem a população, Manuela explicou: “Temos um desemprego grande que é anterior à pandemia; 18% dos nossos desempregados buscam trabalho há mais de dois anos de forma contínua na cidade. Temos mais de 220 mil famílias, mulheres e homens, cadastrados na renda emergencial. E em primeiro de janeiro, a depender do Bolsonaro, acaba a renda emergencial”, disse. “Esse é o quadro real”, completou, colocando a questão como um dos focos de seu programa de governo.

Uma das propostas apresentada é a política de microcrédito. “A gente precisa compreender o que a precarização do trabalho e o desemprego fizeram com a nossa periferia. Temos hoje uma legião de mulheres e homens negros, por exemplo, que são micro e pequenos empreendedores nas suas comunidades. Aqui não tem aquela “romantização” do empreendedorismo; tem vida real: gente desempregada e gente que cansou de ser explorada num país que não tem mais direitos trabalhistas”. Manuela e Rossetto acreditam ser possível alcançar 200 milhões de crédito a partir de um fundo garantidor da prefeitura.

Outra questão está relacionada às compras públicas governamentais. “O Sebrae nos diz que Porto Alegre gasta R$ 1,7 bi com compras” e  que “somente 8% dessas compras são feitas de micro e pequenas empresas, grande parte de fora da cidade. Acreditamos que podemos alcançar 20% das compras públicas governamentais”, disse, o que significaria R$ 340 milhões injetados na economia local. “Além disso, temos a ideia de que pequenas obras, pequenas intervenções, possam ser feitas por frentes de trabalho”, explicou.

União para transformar PoA

Já no final da live, Manuela enfatizou: “Eu às vezes me apavoro: tem uma turma que não está se dando conta da velocidade de destruição dos direitos do nosso povo. A fome voltou! Então, quando falamos que entre nossas ‘prioridades prioritárias’ — junto com recuperar o ano letivo, vacina, trabalho e renda — está a política que temos chamado de Fome Zero Municipal, procurando restaurantes populares e cozinhas comunitárias, é porque estamos vendo a fome na sinaleira! Dizem que somente nas sinaleiras, temos 2.800 pessoas pedindo, o que é mais gente do que em muita cidade”.

Por fim, Manuela destacou: “É hora do nosso povo, do nosso campo, olhar para a frente ver que  o desafio é muito grande, mas que a gente tem a possibilidade de vencer as eleições em Porto Alegre. O que representa isso para o Brasil e para o mundo não é pouca coisa. Representa a gente sair da resistência, no sentido ativo, e passar a construir alternativas. Porque o nosso discurso não mata a fome do povo. A gente luta, luta, luta, mas na realidade, o povo está perdendo. Então, a gente pode parar isso. É como se a gente colocasse um dique. Não faz milagre, mas muda muito a vida do povo”.

A candidata concluiu dizendo: “Podemos enfrentar e vencer o bolsonarismo na prática. Eles dizem exclusão e nós dizemos solidariedade; eles dizem violência e nós dizemos que é possível construir um lugar em que mulheres e homens são tratados com dignidade. Estou muito desafiada, mas com muita certeza de que a gente pode fazer muita diferença na vida das pessoas.”

O vice Miguel Rossetto terminou a entrevista declarando, sintonizado com Manuela: “é possível governar de forma melhor. Não será fácil, como nunca foi, mas estamos preparados para governar bem a cidade e muito melhor do que esses que representam esses projetos de privatização, de destruição, desrespeito e desigualdade social”.

Por Priscila Lobregatte

 

Assista a íntegra:

 

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