Fotos: Iberê Lopes / Redes Digitais PCdoB

O Encontro Nacional de Comunicação do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), realizado em Brasília, durante o último sábado (13), reuniu secretários estaduais de Comunicação e representantes da área de diversos estados da federação. Os que não puderam comparecer ao encontro participaram do evento por videoconferência.

Cerca de 12 estados foram representados na reunião. Entre eles, o Amapá, Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Minas Gerais, Pará, Paraná, Piauí, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo.

O vice-presidente nacional do PCdoB e secretário nacional de Relações Internacionais, Walter Sorrentino fez uma exposição da conjuntura no evento, assim como a secretária nacional de Planejamento, Neide Freitas que tratou sobre o PCdoB Digital. Da Comissão Executiva do PCdoB participaram ainda, o secretário nacional de Organização, Fábio Tokarski e Nádia Campeão, secretária nacional de Políticas Institucionais.

A realização do encontro permitiu a troca de experiências diante das novas realidades da comunicação, com a predominância da internet e, dentro dela, as redes sociais. O vice-presidente nacional do PCdoB, Walter Sorrentino, abriu as atividades com um panorama sobre a realidade política do país, um breve resumo sobretudo desse período inicial do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Segundo ele, a direção comunista compreende que há um processo de tentativa de ruptura com o pacto democrático da Constituição de 1988. Além da questão política, essa realidade que se formou no país com o golpe do impeachment de 2016 avança para a ordem social e econômica. Walter Sorrentino salientou que esse processo não pretende somente romper com um ciclo, mas alterar o regime da Constituição de 1988. Os efeitos dessa realidade pós-golpe podem ser notados nos indicadores sociais e econômicos do país, afirmou.

Questões essenciais

Ele apresentou como exemplo o elevado número de desempregados e o crescimento da violência. Outros indicadores da crise nesse período, de acordo com o vice-presidente do PCdoB, são a crise fiscal dos estados e municípios, a desindustrialização e a desnacionalização. Para Walter Sorrentino, a persistência da crise política e institucional, que se formou no processo do golpe de 2016 e atinge até as Forças Armadas, se agrava com a rápida perda de popularidade de Bolsonaro.

Walter Sorrentino agregou a esse diagnóstico a proposta de “reforma” da Previdência Social, defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como remédio infalível para tirar o país da crise econômica. Segundo ele, esse é um mantra absolutamente reducionistas, simplista. Por ser uma medida que atinge o povo de maneira dura, a luta contra ela tem centralidade no movimento de resistência popular à agenda bolsonarista.

Para o vice-presidente do PCdoB, a “reforma” da Previdência e a defesa da legislação trabalhista são questões essenciais no rol de direitos do povo. Ele lembrou que a Consolidação da Leis do Trabalho (CLT) e a Previdência Social são o mais bem-sucedido pacto social feito no país. É preciso, afirmou Walter Sorrentino, denunciar o que significa o desmonte de seguridade social, em especial a desconstitucionalização da Previdência Social.

Defesa da democracia

Nessa tarefa, de acordo com ele, a retomada do diálogo com a população deve ser uma preocupação, uma vez que a “narrativa” da esquerda deixou de ser ouvida em parte significativa da sociedade. Para caminhar nessa direção, afirmou Walter Sorrentino, o movimento social, com o fórum das centrais sindicais à frente, deve desenvolver um trabalho de mobilização e, no âmbito político, fazer movimentos que ampliem a luta para além das fronteiras da esquerda.

Walter Sorrentino disse também que o PCdoB considera a defesa da democracia uma questão central da luta política, inclusive para dar garantias à luta popular, promovendo uma ampla defesa do Estado Democrático de Direito, a salvaguarda das liberdades individuais e institucionais. Segundo ele, há um processo ainda forte de ataque à institucionalidade democrática, comandado pelo que ele definiu como “Partido da Operação Lava Jato”, um movimento de exceção que se caracteriza como Estado policial.

Outros pontos importantes sobre esse assunto são o “pacote anticrime” — apresentando pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro —, que precisa ser desmascarado como mero incentivo à violência, e a lei contra o abuso de autoridade, fundamental para a defesa da democracia.

Walter Sorrentino falou também da política externa, para ele uma questão específica do governo Bolsonaro. Desde a sua posse, afirmou, o Brasil mudou de lugar na geopolítica. Os ataques à soberania nacional se intensificaram a tal ponto que o governo se lançou incondicionalmente na lógica internacional dos Estados Unidos, basicamente de hostilidades à China e à Rússia. Outro aspecto relevante, nesse sentido, é a ofensiva privatista, que embora ainda sem uma definição clara sobre o seu alcance pelo ministro Paulo Guedes, avança para destruir o patrimônio público brasileiro, em especial a Petrobras.

As exigências da Comunicação no contexto do governo Bolsonaro

O secretário nacional de Comunicação do PCdoB, Adalberto Monteiro, falou em seguida, ressaltando a fala de Walter Sorrentino como ponto de partida para a comunicação dos comunistas. Para ele, a defesa da aposentadoria é o fator propulsor do conjunto das ações políticas e de massas na atualidade. Nesse processo de aliança ampla, afirmou Adalberto Monteiro, é preciso um esforço de união da esquerda, superando eventuais divergências para priorizar o essencial: uma oposição consequente ao governo Bolsonaro, a começar pela defesa da democracia.

Segundo ele, os veículos de comunicação do PCdoB devem dar voz às lideranças parlamentares do campo democrático, assim como intelectuais, religiosos e quem mais puder se pronunciar em defesa dos direitos do povo e dos interesses do país. Para bem desempenhar esse papel, a comunicação comunista dever preservar a sua credibilidade, sempre se atendo aos fatos, fazendo a militância compreender as ações do Partido e, ao mesmo tempo, repelindo os ataques do campo adversário.

Adalberto Monteiro asseverou que nesse exercício a comunicação deve se antever as consequências de determinados acontecimentos para prevenir a militância em situações de lutas complexas — como foi o caso do apoio dos comunistas à eleição do deputado Rodrigo Maia para presidente da Câmara dos Deputados. O jornalismo do PCdoB, afirmou, deve ser combativo, mas precavido, sem se deixar pressionar pelas ameaças da retórica anticomunista.

Segundo ele, as forças progressistas não se prepararam para guerra midiática nas eleições de 2018, sobretudo na internet, um fato que deve servir de alerta para o cenário que começa se desenhar com o avanço da tecnologia anunciado como indústria 4.0 e suas derivações.

Compreender essa nova realidade, de acordo com Adalberto Monteiro, é uma mensagem que pautou o Encontro, uma convocação à agregação das inteligências e talentos para convergir na busca de respostas aos desafios que vão surgindo rapidamente.

Para enfrentar a gigantesca concorrência do campo adversário, afirmou, o PCdoB se propõe a organizar um “Sistema nacional de comunicação”, agrupando os pontos existentes atualmente de forma atomizada, dispersa, vértice de uma ampla sinergia com veículos que vai além das fronteiras partidárias. Esse sistema, disse Adalberto Monteiro, precisa produzir mais e melhores conteúdos, elaborados e produzidos com a maior agilidade possível. Informar, interpretar e opinar imediatamente após o fato, ou com o fato ainda andamento, deve ser a sua divisa, com produções curtas e incisivas, sem descartar materiais de maior fôlego, asseverou.

A luta de ideias nas redes sociais

O editor de redes sociais do PCdoB, Gustavo Alves, falou em seguida, fazendo um diagnóstico da evolução da comunicação na internet. Segundo ele, a falta de preparo do campo progressista para interpretar e atuar nessa nova realidade foi um dos fatores das dificuldades nas eleições de 2018. Gustavo Alves fez um breve relato da influência das redes sociais nos processos políticos, que teve como ponto de partida, de forma significava, nas eleições de Barack Obama nas eleições presidenciais dos Estados Unidos em 2008.

Ele comentou também o rumoroso caso que ficou conhecido como “Cambridge Analytica”, a firma de análises de dados que trabalhou com a campanha de eleição de Donald Trump, em 2016, com base na análise de perfil dos usuários de redes sociais. Para Gustavo Alves, as redes do PCdoB devem propagar as suas produções, mas também atuar na mobilização e organização da militância progressista.

O publicitário Mauro Panzera, convidado para palestrar no Encontro, falou sobre a importância da revolução tecnológica. Ele lembrou que em 2008 Obama usou várias plataformas para segmentar o público-alvo de suas mensagens. Antes, o candidato republicana usou esse recurso para levantar recursos financeiros para a campanha. Em 2016, Trump usou esse recurso de forma muito mais ampla, segundo Mauro Panzera.

A comunicação do PCdoB no âmbito do projeto de estruturação partidária

O editor do Portal Vermelho, Inácio Carvalho apresentou dados sobre a trajetória de 17 anos desse meio de comunicação, ressaltando que ele se tornou uma referência importante por sua credibilidade. O seu desafio agora é seguir na linha de contribuir efetivamente para o debate em curso no país, e ajudar na mobilização, incorporando as novas tecnologias da internet.
Eliz Brandão, editora do portal institucional do PCdoB, falou sobre as novas diretivas da comunicação, definidas em 2016, que incluiu um veículo específico para a divulgação dos materiais partidários. O multisite. O objetivo é abastecer a militância com informações e orientações, além de difundir agendas e atividades.

Marciele Brum, responsável pela Comunicação da Liderança do PCdoB na Câmara dos Deputados, falou sobre a articulação das atividades parlamentares em âmbito nacional com as atividades locais. Neide Freitas, secretária nacional de Planejamento do PCdoB, encerrou as intervenções falando sobre o “PCdoB Digital”, aplicativo de integração institucional das atividades partidárias. O evento se encerrou com as intervenções dos representantes dos estados.