A China está vencendo a guerra de sanções iniciada por Washington
“Novos números mostram que, em comércio, crescimento econômico e inflação, a China está no topo e as sanções dos EUA falharam miseravelmente”, afirma John Ross, ex-diretor de política econômica e empresarial do prefeito de Londres e membro sênior do Chongyang Institute for Financial Studies da Renmin University da China.
Para Ross, a notícia de que a inflação norte-americana atingiu seu maior nível em 40 anos, 7,5% em janeiro, “é o indicador mais explícito de graves problemas em sua economia. O aperto monetário que será usado para tentar controlar isso vai desacelerar a economia dos EUA” e inevitavelmente se espalhar com grandes efeitos sobre a economia mundial.
O economista observa que essa inflação muito alta “é particularmente significativa quando comparada à inflação de 1,5% na China”, seu principal concorrente econômico, no mesmo mês. “A inflação dos EUA é cinco vezes maior que a da China”.
Ross assinala que esses níveis relativos de inflação têm efeitos extremamente restritivos na política econômica americana – “ela será forçada a implementar medidas para desacelerar sua economia”. Em contraste – acrescenta -, “a China, cuja economia já está crescendo mais rápido que a dos EUA, tem espaço para mais estímulos econômicos sem repercutir nas pressões inflacionárias”.
Mas este é apenas um dos sintomas que os EUA sofreram em uma severa derrota econômica em sua competição com a China, ressalta o economista. Para quem isso irá acarretar grandes consequências políticas “tanto nos EUA quanto internacionalmente”.
Analisando primeiro a situação política doméstica dos EUA, sublinha Ross, “não é de surpreender que essa alta inflação tenha levado à queda dos padrões de vida da esmagadora maioria da população e minou drasticamente o apoio ao governo de Biden”.
As últimas pesquisas de opinião médias mostram que 54% dos americanos desaprovam o governo Biden, em comparação com apenas 40% de aprovação, acrescentou.
“A situação econômica é a principal força motriz por trás da queda do apoio de Biden. Pesquisas mostram que 68% dos americanos consideram a economia o problema mais importante que enfrentam, quase o dobro daqueles que citaram o Covid (37%)”.
“Por trás desses problemas políticos está a realidade de que os EUA sofreram uma séria derrota na guerra econômica que lançou contra a China”, destaca Ross
Ele rememora como em 2018, os EUA “iniciaram sua ofensiva comercial impondo unilateralmente tarifas contra as importações chinesas”.
Cujo objetivo era “reduzir o déficit da balança comercial dos EUA e reconstruir sua indústria manufatureira”, assinala Ross. “Mas os dados deixam claro que os EUA também não conseguiram”.
O economista registra como o déficit da balança comercial de bens dos EUA subiu em 2021 para US$ 1,078 trilhão, quando em 2017, último ano antes de os EUA lançarem sua guerra comercial, era de US$ 792 bilhões.
No que tange à China, “os EUA, apesar de suas tarifas, conseguiram reduzir apenas ligeiramente seu déficit comercial bilateral de bens – de US$ 375 bilhões em 2017 para US$ 355 bilhões em 2021”.
Simultaneamente – ressalta o economista -, o déficit comercial dos EUA com o resto do mundo “disparou de US$ 417 bilhões a US$ 723 bilhões”. Em suma, a tentativa dos EUA de reduzir seu déficit comercial “foi um completo fracasso”.
Sequer os EUA conseguiram prejudicar o comércio geral da China. “O superávit comercial de Pequim subiu de US$ 420 bilhões em 2017 para US$ 676 bilhões em 2021”. No ano passado, as exportações e importações da China “aumentaram 30%”.
“Essa derrota abrangente dos EUA na guerra comercial foi acompanhada por um fracasso igualmente grande em seu desempenho econômico geral em comparação com a China”, aponta Ross.
“Entre 2017 e 2021, a economia dos EUA cresceu 7,3%, enquanto a da China cresceu 25,1% – três vezes mais”.
Desde o início da pandemia de Covid, o desempenho econômico dos Estados Unidos em relação à China se deteriorou “ainda mais”. Naturalmente, ambas as economias desaceleraram devido à pandemia, “mas desde 2019 a economia da China cresceu 10,5% e a dos EUA 2,1% – a China cresceu cinco vezes mais que os EUA”.
Não há mistério quanto às razões desse fracasso dos EUA, explica Ross. “Paradoxalmente, a suposta ‘economia capitalista número um’ do mundo está agora criando muito pouco capital. Em vez disso, os EUA se tornaram uma economia predominantemente dominada pelo consumo – gratificação de curto prazo em vez de investimento de longo prazo em desenvolvimento”.
Em 2020 – acrescenta o acadêmico – os últimos dados disponíveis mostram que a “criação líquida de capital dos EUA, depois de levar em conta a depreciação, foi de apenas 1% da Renda Nacional Bruta dos EUA. Isso é menos de 10% de seu nível no auge do boom americano do pós-guerra na década de 1960”.
Esse nível de investimento significa que os EUA estão expandindo pouco seu estoque de capital – consequentemente, seu crescimento econômico é muito lento, disse Ross.
Segundo ele, existem formas racionais e técnicas bem conhecidas de lidar com esses problemas, “mas exigiriam mudanças bruscas na política externa e interna de Washington”.
“O enorme nível de gastos militares dos EUA, US$ 905 bilhões em 2021, maior do que os próximos sete países juntos, poderia ser drasticamente reduzido, liberando grandes recursos para investimentos – mas isso exigiria o abandono da política externa agressiva dos EUA”, reitera Ross.
Entre as possíveis alternativas o economista aponta que abandonar as tarifas comerciais contra a China que custam centenas de dólares por ano a cada família norte-americana “reduziria a inflação” – mas exigiria “o abandono da guerra comercial agressiva contra a China”.
Ainda segundo Ross, o sistema de saúde “grotescamente ineficiente dos EUA”, usando 19,7% do PIB, mas criando um dos níveis mais baixos de expectativa de vida em qualquer economia avançada, “poderia ser racionalizado, liberando enormes recursos para investimento – mas isso exigiria enfrentar e derrotar grupos de interesses especiais entrincheirados”.
Enquanto os EUA não estiverem preparados para realizar mudanças tão importantes, sofrerão um crescimento lento. Enquanto isso, a economia da China continuará a crescer muito mais rapidamente. A derrota econômica dos EUA pela China na guerra comercial e a forma como lidou com as consequências econômicas da pandemia de Covid são apenas as últimas expressões disso.
Para Ross, é “improvável” que essa vitória econômica da China reduza a hostilidade dos EUA. Como um tigre encurralado, os Estados Unidos podem se tornar ainda mais agressivos – como mostrado em suas recentes políticas sobre a Ucrânia e Taiwan -, o que demanda mais dissuasão. Isso é o que a China conseguiu em sua contínua vitória econômica sobre os EUA.