A grande maioria das grávidas mortas por Covid-19 em todo o mundo é brasileira. De acordo com estudo publicado na International Journal of Gynecology and Obstetrics, das 160 mortes registradas entre o início da epidemia e 18 de junho nada menos que 124 ocorreram no Brasil.
“São 188 territórios afetados pelo coronavírus em todo o mundo e o Brasil tem mais mortes maternas do que a soma de todos esses países”, resumiu a obstetra Melania Amorim, professora da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, e uma das autoras do estudo.
Os pesquisadores ainda apontam que mesmo em países como Estados Unidos, que possui uma taxa de natalidade próxima da brasileira, o número de mortes é menor. Dos 160 óbitos no mundo todo, até a publicação do estudo no dia 9 de julho, 16 ocorreram nos EUA que é o segundo colocado neste triste ranking.
O dado se torna ainda mais alarmante quando se contrasta com os números de mortes por H1N1, surto que ocorreu no Brasil em 2009.
Segundo a enfermeira obstetra Maíra Libertad, uma das autoras da pesquisa, em 12 meses, a gripe suína causou a morte de 57 mães. Já a covid-19 em apenas três meses já matou 124 grávidas e puérperas, isto é, mais que o dobro. “No início, se apontou que o coronavírus não seria tão grave nas gestantes, mas o Brasil tem mostrado um cenário diferente”, explica a enfermeira.
Chamado de “A tragédia da Covid-19 no Brasil”, o estudo foi feito em conjunto entre pesquisadores da UNESP, UFSCAR, FIOCRUZ, IMIP e UFSC para monitorar as mortes das brasileiras. Para reunir as informações, eles consultaram a base de dados do Ministério da Saúde, que aponta os casos de doença por Síndrome Respiratória Gripal.
A reunião de dados para o estudo começou em março, no início da pandemia. “Nós prevíamos que no Brasil, a taxa de mortalidade materna teria um comportamento diferente do resto do mundo, principalmente, devido à precariedade do nosso sistema de saúde”, afirmou Maíra.
Das 978 grávidas ou mulheres no pós-parto diagnosticadas com Covid-19 entre os dias 26 de fevereiro e 18 de junho no país, 124 morreram – um número 3,4 vezes superior ao total de mortes maternas relacionadas ao novo coronavírus em todo o mundo no mesmo período.
Os números indicam também que a taxa de letalidade da doença entre as grávidas no Brasil é de 12,7%, a mais alta do mundo.
No estudo, os pesquisadores identificaram que das 124 mães que morreram, 27% não foram internadas na UTI — Unidade de terapia intensiva — e 36% não foram entubadas. “Isso não é esperado, já que a covid é uma doença respiratória. Uma das hipóteses é que estejam faltando leitos de UTI para algumas mulheres ou elas estão chegando num estado tão grave que não é possível mais socorrê-las”.
Outro ponto destacado pela pesquisadora é a insuficiência de testes realizados em gestantes. “As grávidas precisam ter prioridade nas testagens, pois se são diagnosticadas com antecedência, conseguem chegar ao hospital mais cedo”. Com relação às comorbidades, o estudo identificou também uma relação de mortalidade maior em mulheres com doenças cardíacas, diabetes e obesidade.