Imagens de drone das áreas de deslizamento de encosta em Petrópolis, em decorrência das fortes chuvas que atingiram, a região serrana do Rio de Janeiro

Assistimos estarrecidos as notícias da tragédia em Petrópolis, no Rio de janeiro, com mais de 170 irmãs e irmãos brasileiros que morreram soterrados, em sua maioria, nas próprias residências, atingidos por deslizamentos causados por um intenso temporal.

Por José Bertotti*

O município está devastado e continuam as buscas por mais de 200 desaparecidos. A pergunta que fica é se de fato as fortes chuvas devem ser responsabilizadas por mais essa tragédia. Diante disso, me recordo dos tempos que trabalhei na Prefeitura do Recife em 2001. Era o início do primeiro governo do Prefeito João Paulo, que teve como vice prefeito o amigo Luciano Siqueira. Um dos principais desafios daquela nossa gestão, era exatamente responder às sucessivas tragédias que atingiam os morros e alagados do Recife, que só no ano de 2000, vitimaram mais de 30 pessoas e deixaram uma forte comoção na população Recifense. No primeiro ano de governo, a economista e geógrafa Tânia Bacelar, atuou a frente da secretaria de Planejamento e implantou um programa integrado de defesa civil que mapeou e georeferenciou 10 mil pontos de risco no Recife. Esse programa foi estruturado com base em levantamentos que levavam em consideração dados urbanísticos de ocupações habitacionais, infraestrutura urbana e dados de mapeamentos geológicos, na época produzidos e disponibilizados pelo professor da Universidade Federal de Pernambuco, Jaime Gusmão.

Este planejamento reduziu drasticamente o número de vítimas até os dias atuais e continua sendo referência para muitas cidades brasileiras. O modelo de atuação desenvolvido naquela época, foi inspiração para um programa nacional de defesa civil. Mas infelizmente, este setor também vem sendo objeto de cortes por parte de Bolsonaro. Em 2021, o governo federal reduziu em 43% os recursos destinados à Defesa Civil no orçamento federal.

Do outro lado desta mesma moeda, vemos as secas que atingem a região sul do Brasil, que já chegam há cinco meses de estiagem. Os  prejuízos causados por essa seca, estão estimados  em 27 bilhões de reais até o momento presente.

Daí, depreende-se que o negacionismo científico e climático, que ignora a necessidade de enfrentamento aos desajustes causados a nossa biodiversidade, no Brasil e no planeta, por séculos, baseado em  um modelo econômico capitalista, omitiu a necessidade de se compreender que toda intervenção humana na natureza, traz consequências que são sentidas ao longo do tempo.

Infelizmente hoje,  os impactos causados pela mesquinhez desse modelo comprovadamente fracassado, são dimensionados por cifras macabras, calculadas em perdas de vidas humanas.

A realidade que se impõe é de conceber e executar um modelo de desenvolvimento sustentável, que enfrente as mudanças climáticas, identificando suas causas e mitigando as suas consequências. É importante anotar a necessidade de substituir o rumo atual das decisões no Brasil que pensa e decide apenas com base no lucro imediato, que beneficia cada vez menos pessoas e que empurra cada vez mais brasileiros para viverem em áreas de risco. São milhares de famílias que estão sujeitas a tragédias cada vez mais frequentes como as vistas em Petrópolis e em tantas outras cidades. Essa realidade precisa ser mudada e rápido.

 

*José Berotti é  secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco e membro da direção estadual do PCdoB-PE

 

(PL)