A crise humanitária da Covid-19 mostrou a importância fundamental da ciência brasileira. Os laboratórios públicos Butantan e Fiocruz desenvolveram e produzem vacinas em colaboração com laboratórios estrangeiros. A Universidade Federal de Minas Gerais vai iniciar os estudos clínicos da vacina desenvolvida no seu Instituto de Ciências Biológicas, apesar da falta de recursos e de apoio do Governo Federal. Não é demais enfatizar a importância dessa conquista, pois trata-se de uma vacina totalmente desenvolvida em solo mineiro numa universidade pública.

A Universidade Federal de Minas Gerais, atualmente, desenvolve mais de 200 pesquisas em busca de respostas contra a Covid-19. Entre elas, sete imunizantes, sendo que a pesquisa mais avançada e promissora foi batizada como “Quimera proteica”. Com o estrangulamento financeiro que a instituição vem sofrendo desde o Governo Temer e acentuado na gestão Bolsonaro, a UFMG não tem condições de arcar com os testes clínicos da fase 1 e 2 da vacina. Com o risco de interromper a pesquisa, a reitora Sandra busca ajuda dos parlamentares da bancada mineira no Congresso Nacional tanto para destinar emendas quanto para pressionar o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações para financiar o projeto. A princípio, são necessários R$ 30 milhões para dar continuidade aos estudos clínicos, valor insignificante se comparado às centenas de milhares de vidas perdidas e frente à soberania tecnológica que pode ser atingida.

Além de promissora, a Quimera proteica apresenta um processo de fabricação mais simples e barato do que a Coronavac, o que facilitaria que a mesma seja fabricada em solo mineiro pela Fundação Ezequiel Dias (Funed). Portanto, além do financiamento dos testes clínicos, exigimos que todo o processo produtivo da vacina seja realizado em Minas Gerais. Chegou a hora de Zema não somente conhecer a Funed, mas reconhecer o seu papel de vanguarda internacional no desenvolvimento de ciência e tecnologia.

Nunca na nossa história a ciência brasileira foi tão atacada como nos últimos anos, no período que se segue ao golpe de 2016. Atualmente, sob um governo de características fascistas, a ciência é atacada de diversas formas. O orçamento para pesquisa e desenvolvimento, assim como o orçamento das universidades e institutos federais, foi severamente comprometido. Comparado com o pico de investimento em 2015 durante o governo Dilma, o orçamento de C&TI hoje é 74% menor. Nosso futuro foi duramente comprometido com esse desastre orçamentário, que opera uma redução de R$ 8,8 bilhões para R$ 2,3 bilhões somente nos recursos da Capes e CNPq. Com esse governo não há nenhuma esperança de desenvolvimento da ciência e tecnologia nacionais.

Com os cortes de orçamento do governo federal para 2021, a UFMG tem uma redução de 18,9% nos seus recursos, o que representa uma redução de R$ 40 milhões. No Estado de Minas Gerais, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) também foi sucateada nos últimos anos. O repasse de 1% da receita orçamentária à Fapemig, previsto pela constituição estadual ocorreu pela última vez em 2015 e, desde então, o financiamento chega a 30% do valor constitucional. Essa contenção atinge diretamente a UFMG, que depende do financiamento da Fapemig para o desenvolvimento de 40% das pesquisas, comprometendo o avanço da ciência e tecnologia no Estado. Destaca-se que a cada R$ 1 que a UFMG ganha por transferência de tecnologia, o estado ganha R$30.

O governo Bolsonaro tem características marcadamente fascistas. Segundo Jason Stanley no livro “Como funciona o fascismo”, a “política fascista procura minar o discurso público atacando e desvalorizando a educação, a especialização e a linguagem”. Pois é exatamente isso que o governo Bolsonaro vem fazendo. Ataques às universidades e aos nossos cientistas se tornaram comuns. O país hoje perde excelentes pesquisadores não somente por falta de perspectivas no Brasil. A cruel fuga de cérebros que vivemos hoje é também porque pesquisadores e cientistas são ameaçados de morte por grupos fascistas e são obrigados a se mudar do Brasil. Chegamos ao ponto em que os cientistas são perseguidos por buscarem a verdade.

Mas, diferente do fascismo clássico, o governo Bolsonaro não tem nada de nacionalista, ao contrário. Esse é um governo entreguista, antinacional e anti-povo, não é um governo patriota. Seu objetivo é acabar com a produção científica nacional e privatizar as universidades e institutos federais. Não por acaso a irmã do ministro da Economia, Elizabeth Guedes, é vice-presidente da Associação Nacional de Universidades Particulares (Anup). Ou seja, temos na condução da economia um indivíduo que é defensor das escolas privadas em flagrante conflito de interesses. São pessoas que enxergam a educação e saúde públicas como concorrentes que devem ser exterminados, pois para eles as escolas públicas e o Sistema Único de Saúde reduzem os lucros das escolas e hospitais privados. Quem lucra com a doença do povo não pode cuidar da sua saúde, essa é a verdade.

O desmonte da educação e da saúde do povo começou com o golpe de 2016 e o chamado teto de gastos. Mas, no auge da pandemia, com milhares de mortes evitáveis todos os dias, o que salva o povo é o Sistema Único de Saúde. São os trabalhadores e médicos do SUS, os centros de saúde e hospitais municipais e estaduais que recebem e tratam dos doentes. Ou alguém pode imaginar que um hospital privado vai receber e tratar dos pobres? O negacionismo e a postura anti-ciência de Bolsonaro representam o extermínio da população pobre, a mais atingida pela pandemia. São os mais vulneráveis que pagam pela política genocida de Bolsonaro. Segundo Solange Vieira, colocada no governo Bolsonaro por Paulo Guedes, é “bom que as mortes se concentrem entre os idosos. Isso vai melhorar nosso desempenho econômico, pois reduzirá nosso déficit previdenciário”. Esse governo é incompatível com a vida.

Se não fossem os pesquisadores e cientistas brasileiros e os profissionais e médicos do SUS, a tragédia seria muito maior. Remover esse governo, recuperar os investimentos em C&TI, repatriar os cientistas que saíram do país, valorizar o SUS, recompor os orçamentos da educação, da ciência e da saúde, acabar com o teto de gastos e promover novas políticas públicas em educação e saúde são tarefas urgentes. Combater um governo que só prospera na ignorância, no negacionismo, na perseguição a cientistas e na destruição do país é questão de vida ou morte.

É cada vez mais necessário que uma ampla unidade seja formada em busca da derrubada do teto de gastos, por um maior financiamento da ciência, da tecnologia e da inovação. O Governo de Minas precisa trabalhar com uma maior altivez para fornecer o financiamento da vacina e estruturar a Fundação Ezequiel Dias para que a mesma domine todo o processo de produção. Unidade pela ciência! Unidade por nossa população vacinada!

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Fonte: Núcleo do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e União da Juventude Socialista (UJS) na UFMG