Enquanto o presidente Biden se prepara para se encontrar com o presidente Bolsonaro pela primeira vez na Cúpula dos Líderes sobre o Clima marcada para 22 de abril, a pandemia do coronavírus está devastando a Amazônia e suas comunidades. Pelo menos 49 mil morreram nos estados da região amazônica.
Por Flávio Dino*
Isso deixa a comunidade internacional em uma posição difícil. As opções potenciais estão repletas de riscos. Não agir acarreta imenso sofrimento humano para os brasileiros e permite que novas variantes do coronavírus surjam, ao mesmo tempo que impactam as mudanças climáticas e o meio ambiente. Da mesma forma, Bolsonaro parece determinado a usar a pressão internacional para reforçar sua imagem política doméstica como defensor dos interesses nacionais, instrumentalizando a ideia de soberania.
Uma linha de ação alternativa é viável e necessária. Envolve a construção de laços diretos com uma nova geração de líderes que se esforçaram nos últimos dois anos para impedir, ou pelo menos mitigar, o impacto devastador das medidas e omissões do governo federal. Sem a liderança dos governadores, nossa população teria enfrentado um desastre ainda maior durante a pandemia. Os Estados Unidos têm a oportunidade de causar um impacto significativo ao se engajar diretamente com o Consórcio para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, uma organização interestadual formada pelos nove governadores dos estados da Amazônia Legal.
Muitas vezes, a Amazônia é apresentada como uma causa global — uma região destinada a ser salva por atores internacionais. Agora o mundo precisa colocar essa solidariedade em prática e fornecer os meios para que a região supere a pandemia. Mais alguns meses sem ajuda significativa e a Amazônia terá perdido a luta contra a pandemia — com todas as consequências globais potenciais das novas variantes que ela provavelmente trará. Quando nos referimos ao combate à pandemia, pensamos também nos aspectos sociais envolvidos, pois a Amazônia sofre imensamente com as desigualdades regionais e econômicas. Nós, governadores da Amazônia, sofremos esforços especiais ao longo do ano passado, mas precisamos de mais parcerias para poder cuidar e proporcionar segurança climática e sanitária ao planeta.
Hoje, nós, Consórcio para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal, convocamos o governo Biden a se engajar conosco. Milhares de brasileiros morrem asfixiados todos os dias. Muitos outros estão amarrados à cama porque médicos desesperados não têm a medicação para mantê-los sedados.
Naturalmente, o governo Biden está focado na vacinação de seus cidadãos. Admiramos essa determinação na luta contra a pandemia. Mas não podemos esperar, nem pode o mundo arriscar o surgimento de outras variantes mais prejudiciais.
Estamos pedindo que os EUA enviem suprimentos de vacinas aos governadores da Amazônia, pois podemos distribuí-los nacionalmente a todos os brasileiros por meio do Sistema Único de Saúde (Sistema Único de Saúde). A doação poderia vir no âmbito de um programa transnacional de cooperação climática que os governadores endossariam e implementariam imediatamente.
Os governadores fornecem um caminho mais confiável e estável para uma parceria. Nunca negamos ou sabotamos a cooperação internacional. Pelo contrário, temos estado contínua e decisivamente envolvidos em organizações e negociações internacionais. Por exemplo, participamos do Sínodo Amazônico convocado pelo Papa Francisco, pedimos a retomada do Fundo Amazônia — com investimentos de vários países europeus — e também participamos de fóruns internacionais, como a COP 25 realizada em Madrid em 2019.
O aumento da colaboração para vacinas teria um impacto transformador no curto prazo, pois esses insumos seriam usados ​​até que instituições sediadas no Brasil, como o Instituto Butantan e a Fiocruz, pudessem expandir sua produção no segundo semestre de 2021.
Sem dúvida, esse caminho envolve riscos consideráveis. Alguns extremistas poderiam retratar essa cooperação legítima como uma intervenção estrangeira, e nós, governadores, seremos atacados nas infindáveis ​​redes de notícias falsas do Brasil. Mas esses ataques são insignificantes quando comparados com o sofrimento de nossos cidadãos em suas casas e hospitais.
A Constituição brasileira estabelece que nossas relações internacionais devem ser pautadas pelos princípios dos direitos humanos e da cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. É isso que nos inspira nessa busca pela ampliação da parceria entre os Estados Unidos e a Amazônia, para que possamos construir um compromisso mais forte e mais eficiente com a proteção do meio ambiente e da saúde nesta parte especial e relevante do planeta.
*Flávio Dino, governador do Maranhão, é presidente do Consórcio Interestadual para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia Legal
(Artigo originalmente publicado no site Univision Noticias)
(PL)