A grandeza de Clarice Lispector, por José Carlos Ruy
Chaia nasceu em 10 de dezembro de 1920 na aldeia ucraniana de Chechelnyk, filha de uma família de judeus russos que naquela ocasião se preparava para deixar o país fugindo da perseguição antissemita, que cresceu na Guerra Civil russa de 1919-1920.
Por José Carlos Ruy*
Em 1922 a família conseguiu passaportes, em Bucareste, e emigrou para o Brasil. Chaia tinha então pouco mais de um ano de idade. A família chegou a Maceió pouco depois e ali Chaia se tornou Clarice – nome que consideraram mais adequado à pronúncia local.
Nascia assim, no Brasil, Clarice Lispector, que se tornou a grande escritora e se definiu sempre como pernambucana e brasileira. Depois de pouco tempo em Maceió, a família se mudou para o Recife, onde morou até os 17 anos de Clarice que, muito tempo depois acentuaria, em uma entrevista, sua formação como pernambucana e brasileira. Nasci na Ucrânia, mas nunca cheguei a por os pés naquela terra pois era bebê de colo quando sai de lá, disse.
Manifestou desde muito jovem a vocação da escrita e, aí pelos 20 anos de idade, tornou-se jornalista e publicou seus primeiros escritos literários. Tornou-se uma grande e sensível escritora. Renovou a escrita não só com seus monólogos interiores, que marcam os romances “Água Viva”, ou “A Paixão Segundo G.H” – nos quais a elegância da linguagem muitas vezes oculta a aspereza do diálogo interior. E também na denúncia tenaz da opressão da mulher, como em romances mais “acessíveis” como “Laços de Família” e, principalmente e, “A Hora da Estrela”, tema de um filme de sucesso. O romance conta a história de Macabeia, que sonhava em ser igual a Marilyn Monroe, mas era uma moça comum, fora dos padrões de beleza dominantes e só queria ser feliz. E que, ao final, se encontra com sua estrela – aquela que simboliza o automóvel Mercedes Benz, que a atropela.
A pernambucana Clarice Lispector se tornou uma das grandes estrelas do firmamento feminino da literatura. O redator do verbete “Clarice Lispector” na Wikipédia diz, sem dar a fonte, que, depois de Franz Kafka, ela foi a maior escritora de ascendência judia. Pode ser – é outra maneira de reconhece a grandeza de Clarice.
*José Carlos Ruy, Jornalista, escritor, estudioso de história e do pensamento marxista e colunista do Portal Vermelho.
(PL)