Edições da Tribuna Operária
Em 1979, no enfrentamento à ditadura que os militares impunham ao país desde 1964, os operários já estavam ocupando fábricas, praças e ruas em protestos por melhores condições de vida e trabalho. A intelectualidade, os artistas e os estudantes, principalmente universitários, realizavam ações contra a censura e pela liberdade, inclusive ostensivamente pelo fim da ditadura. O Partido Comunista do Brasil (PCdoB), que desde a Queda da Lapa – ataque a seus dirigentes e militantes, com assassinato e prisões realizado em 1976 – atuava na mais rigorosa clandestinidade, decidira retomar a divulgação mais pública de suas análises e propostas e lançar um jornal legal, direcionado para os proletários e que chegasse também a outros setores sociais. Para deixar estampado seu caráter classista, chamou-o Tribuna da Luta Operária, ou Tribuna Operária (TO), como ficou conhecido.
Por Carlos Pompe*

A Lei de Anistia fora promulgada em agosto daquele ano, possibilitando a volta legal ao país de dirigentes como João Amazonas, Diógenes Arruda, Renato Rabelo, e a ação aberta de outros que aqui viviam ou atuavam clandestinamente, como Elza Monnerat, José Duarte, Rogério Lustosa e tantos outros. O Partido continuava proibido de atuação legal e seu órgão central, A Classe Operária, circulava em pequenos grupos de militantes, simpatizantes e era enviado para personalidades democráticas. Mesmo que a atuação partidária continuasse clandestina, era necessário que suas abordagens e propostas fossem amplamente expostas. Para isso, Rogério Lustosa recebeu de seus camaradas do Comitê Central a tarefa de viabilizar a TO.

Através da ação militante e da veiculação pela Rádio Tirana – que transmitia da Albânia, então socialista – foram estabelecidos contatos e formada a rede que daria sustentação política e financeira ao empreendimento. Enfrentando a ditadura e, inclusive, uma luta interna nas fileiras partidárias (um grupo achava aventureira e arriscada a manifestação pública do PCdoB), foi lançado o número 0 – uma edição de apresentação – em 18 de outubro de 1979, que registrava: “Jornal operário, assumimos como nossa a luta pelo socialismo. A missão histórica da classe operária não é apenas resistir à exploração capitalista. É criar uma sociedade livre de toda exploração. Fora desta meta final, as lutas de hoje perderiam o rumo. Portanto, a Tribuna Operária defenderá, no presente, também o futuro dos trabalhadores”.

 A partir de então, até sua última edição (362), datada de 30 de maio a 5 de junho de 1988, o jornal passou de quinzenário a semanário, atingiu dezenas de milhares de exemplares, foi duramente perseguido pelos esbirros militares e civis a serviço da ditadura – que colocaram bombas em suas sedes e em bancas de revista que os vendiam, perseguiram seus redatores e apoiadores, proibiram a circulação de suas edições (que, mesmo assim, chegavam aos leitores, clandestinamente) e, enfrentando as dificuldades econômicas, políticas e repressivas, levou a mensagem do PCdoB às ruas.

Passados 40 anos, a importância da TO é marcante na trajetória da resistência democrática e da luta proletária pelo socialismo. Cumpriu o papel de reorganizador do PCdoB, que lhe foi determinado pelo Comitê Central, esteve a serviço da atuação comunista no movimento sindical, estudantil e comunitário. Propiciou a retomada de contato de militantes esparsos pelo país, interrompido devido à cruel e assassina repressão patrocinada pela ditadura militar, favoreceu a adesão e ajudou na formação revolucionária de novos ativistas. Auxiliou no desafio de organizar a vanguarda revolucionária na luta pela reconquista da democracia, sendo atuante em todas as aspirações que o país vivenciou no período, como o avanço do sindicalismo, a reconstrução da União Nacional dos Estudantes e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, a batalha pelas eleições diretas e pela Assembleia Constituinte livre e soberana e em defesa da arte e cultura progressistas. Divulgou e apoiou, igualmente, a atuação internacional dos trabalhadores em suas demandas de classe e ações revolucionárias.

Muitas das pessoas que atuaram na TO, redigindo, divulgando, distribuindo o jornal, continuam na luta pelos avanços sociais, políticos e econômicos do Brasil e pelo socialismo. Alguns, como Amazonas e Dynéas Aguiar – que acompanhavam de perto o dia a dia da publicação –, Rogério Lustosa, Elza Monnerat, já não estão entre nós. Outros carregam o orgulho de terem sido tribuneiros – como eram chamados à época – e, nas novas condições e cenários surgidos nestes quatro decênios, mantêm acesa a chama da conquista de uma sociedade mais justa e solidária.

A Tribuna Operária, fiel às orientações do PCdoB, semeou liberdade, democracia, soberania, socialismo. Sem perder a ternura, jamais!

A Equipe da Tribuna Operária na sede de sua redação em São Paulo