Em um ano de pandemia, 4,2 milhões de brasileiros foram lançados para a faixa de renda considerada “muito baixa” nas regiões metropolitanas do país, de acordo como o boletim Desigualdade nas Metrópoles.

O estudo, publicado na quarta edição do boletim, é produzido em parceria entre Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Observatório das Metrópoles e RedODSAL (Observatório da Dívida Social na América Latina).

No primeiro trimestre de 2020, período em que o coronavírus chegou ao país, 20,2 milhões de pessoas viviam em domicílios onde a renda per capita equivalia a um quarto do salário mínimo. Após um ano de política negacionista que já vitimou mais de meio milhão de brasileiros, e de contenção de recursos para combate à pandemia, como a vacinação, e seus efeitos sobre a economia, esse número subiu para 24,5 milhões de pessoas.

Em 2021, um quarto do salário mínimo equivale a R$ 275. No ano anterior, a R$ 261,25.

O resultado é baseado nas informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad Contínua) e considera apenas renda do trabalho, ou seja, não contabiliza benefícios sociais como Bolsa Família ou o auxílio emergencial – que em ambos os períodos comparados, não estava sendo pago.

“É um nível de renda muito baixo, que reflete a dinâmica do mercado de trabalho na pandemia. Os dados mostram a necessidade de benefícios como o auxílio emergencial”, aponta André Salata, professor do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da PUC-RS e um dos coordenadores do boletim.

Segundo o estudo, a parcela dos 40% mais pobres sofreu a maior perda de renda nas cidades grandes. No intervalo de um ano, o rendimento dessa camada despencou 33,4%.

Enquanto isso, os 10% mais ricos tiveram queda de 4,8%.

No geral, considerando toda a população, houve queda de 8,5% no rendimento nas regiões metropolitanas. O indicador médio passou de R$ 1.423,93 para R$ 1.302,79. Essa redução fez a renda do trabalho retornar a patamar semelhante ao do início da série, em 2012.

“Os mais pobres tiveram uma queda muito mais acentuada na renda. Na base da pirâmide, existem pessoas que não conseguem fazer home office”, frisa Salata em reportagem da Folha de São Paulo.

O desemprego no Brasil, segunda a Pnad do IBGE, atingiu marca recorde nos primeiros três meses do ano. A taxa de desocupação ficou em 14,7% da população em idade de trabalhar, enquanto em 2020 a taxa foi de 12,2%. É importante registrar que a taxa de desocupação leva em consideração apenas aqueles que procuraram trabalho no período antecedente à pesquisa. Há ainda o universo de desalentados e dos que trabalham menos do que podem que, somados, ultrapassa 50% das pessoas em idade de trabalhar.

À luz dos dados sobre renda, o estudo também conclui que houve um aumento grande na desigualdade durante a pandemia. A diferença entre a renda de ricos e pobres é medida pelo Índice de Gini, que na média móvel subiu de 0,608 para 0,637 entre o primeiro trimestre de 2020 e igual período de 2021 (quanto mais próximo de zero, menor a desigualdade).O aumento de 4,8% entre os trimestres também é recorde, acrescenta o estudo.

O boletim conclui que os resultados reforçam a necessidade da vacinação, do reaquecimento da economia para geração de empregos e de medidas de proteção a camadas desfavorecidas, entre elas o auxílio emergencial.