Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada nesta sexta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelaram que a taxa de desocupação no país ficou em 14,6% no trimestre fechado em maio. Isso significa que 14,8 milhões de pessoas buscando um trabalho, sem encontrar. A taxa é a segunda maior da série histórica da pesquisa, iniciada em 2012. O recorde de desocupação foi registrado no trimestre móvel anterior (entre março e abril), quando alcançou 14,7%.

O número de pessoas desocupadas no país no trimestre encerrado em maio subiu 16,4% (ou mais de 2,1 milhões de pessoas) frente ao mesmo período do ano passado. Naquele momento de início de pandemia no Brasil, eram 12,7 milhões de pessoas na fila do desemprego.

A ruína do emprego e da economia nesse período de pandemia também pode ser verificada pelo avanço da chamada “população subutilizada”. Nesta conta, entram os desempregados, desalentados e os que trabalham menos do que poderiam e gostariam. Na edição da pesquisa do trimestre findo em maio, essa parcela da população era de 32,9 milhões de pessoas – um aumento de 8,5% (mais 2,6 milhões de subutilizados) em relação ao mesmo trimestre de 2020.

Os dados desta e das outras pesquisas recentes contrariam a propaganda do governo Bolsonaro de que economia do país, apesar da pandemia, apresenta “resiliência e está em trajetória de recuperação”. Ao mesmo tempo em que são batidos recordes históricos de desocupação, o contingente de pessoas ocupadas vem diminuindo.

O resultado do IBGE irritou o ministro da Economia, Paulo Guedes, que atacou a tradicional instituição dizendo que “ela está ainda na idade da pedra lascada”. Segundo ele, em junho foram criados 300 mil empregos, com base nos dados do Caged, e 2,5 milhões de novos empregos desde a pandemia.

O Caged e o IBGE utilizam metodologias diferentes. O primeiro divulga o saldo entre contratações e demissões com carteira assinada enviadas pelas empresas. A pesquisa do IBGE é bem mais ampla, considerando a ocupação formal e informal, no setor público e privado, trabalhadores por conta própria e trabalhadores domésticos, e, digamos assim, aqueles que Guedes continua se negando a enxergar, os 40 milhões de brasileiros que vivem na informalidade, sem qualquer direito trabalhista, que ele chamou de “invisíveis”.

Para especialistas, além de Guedes modificar os critérios de apuração do Caged, incluindo o trabalho intermitente, ainda há muita subnotificação diante da quantidade de empresas que fecharam suas portas e demitiram por conta da pandemia.

Menos da metade da população em idade para trabalhar está ocupada no mercado de trabalho

Entre março e maio deste ano, o contingente de brasileiros ocupados era de 85,9 milhões de pessoas. Isso significa que o percentual de pessoas ocupadas na população em idade de trabalhar é de 48,9% – ou seja, menos da metade. O nível de ocupação era de 49,5% há um ano.

A população fora da força de trabalho atingiu, no período, 75,8 milhões de pessoas, com os desalentados (que desistiram de procurar trabalho) somando 5,7 milhões de pessoas) – um acréscimo de 5,5% ante o mesmo período de 2020.

34,7 milhões de trabalhadores no trabalho precário

Com a flexibilização das medidas de circulação e avanço da vacinação por iniciativa dos governadores, mais brasileiros passaram a procurar atividades informais para garantir seu sustento. A taxa de informalidade foi de 40% da população ocupada, ou 34,7 milhões de trabalhadores informais.

O IBGE considera como trabalhador informal aqueles empregados no setor privado sem carteira assinada, os trabalhadores domésticos sem carteira, os trabalhadores por conta própria sem CNPJ, os empregadores sem CNPJ e os trabalhadores que não têm remuneração.

“Muitas pessoas interromperam a procura por trabalho no trimestre de março a maio do ano passado por conta das restrições, já que muitas atividades econômicas foram paralisadas para conter a pandemia. Isso fez a procura por trabalho diminuir. Um ano depois, com a flexibilidade, essas pessoas voltaram a pressionar o mercado”, declarou a gerente da pesquisa, Adriana Beringuy.

Em um ano, país perde 1,3 milhão de carteiras assinadas

A pesquisa mostrou que, na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, o trabalho com carteira assinada no setor privado teve queda de 4,2%, o que representa 1,3 milhão de trabalhadores a menos.

Já os empregados no setor privado sem carteira assinada tiveram um crescimento de 6,4%, o que representa um contingente de 586 mil pessoas a mais trabalhando nesta condição.

377 brasileiros desempregados por hora

Um levantamento da consultoria IDados com base nos indicadores de abril (divulgação passada) da Pnad Contínua mostrou que durante a pandemia, 377 brasileiros perderam seus empregos por hora, em média.

“Na pandemia, a queda do emprego foi recorde na comparação ano contra a ano”, afirma Bruno Ottoni, analista da consultoria IDados e responsável pelo levantamento. “A partir de abril, maio e junho (de 2020), houve uma retração muito grande do emprego, o que mostra que a pandemia afetou fortemente o mercado de trabalho”.

Apesar do impacto da pandemia no emprego e na economia do país, o governo federal assumiu uma postura de boicote à vacinação da população, reduziu o auxílio emergencial e cortou os programas de ajuda às empresas e trabalhadores. Pelo esforço dos governos estaduais em trazer vacinas e ampliar a campanha de imunização, os economistas esperam alguma melhora a partir do segundo semestre.

“O país atingiu o recorde histórico da taxa de desemprego no início deste ano. A melhora esperada vai se dar com uma queda desse patamar elevado, mas ainda vamos terminar o ano com um desemprego muito alto”, afirma Ottoni.