Incêndio de prédio no Bronx, bairro de Nova Iorque com condições precárias de moradia

Em menos de uma semana, dois incêndios nos Estados Unidos mataram 30 pessoas – mais da metade delas, crianças – em áreas deterioradas de Nova York e Filadélfia, chamando a atenção para o quadro desolador da moradia que aflige a população de baixa renda no país mais rico do planeta.

No domingo (9), um incêndio em um apartamento encheu com fumaça o prédio residencial Twin Parks North West, no bairro do Bronx, em Nova York, sufocando 17 moradores até a morte – inclusive nove crianças. No Twin Parks, a maioria dos moradores é de imigrantes da África Ocidental.

Pelo menos 63 moradores ficaram feridos, 15 deles em estado crítico. Mortos e moradores em sufocamento foram encontrados pelos bombeiros nas escadas enquanto tentavam desesperadamente escapar do prédio de 15 andares.

Segundo a mídia local, foram vistas pessoas se atirando das janelas para fugir às chamas.

Acredita-se que o incêndio no Bronx foi desencadeado por um aquecedor de ambiente. Uma porta automática quebrada fez com que a fumaça escapasse da unidade após a fuga dos moradores.

Não havia sistema de sprinklers para suprimir automaticamente o fogo ou quaisquer outras medidas de segurança que impedissem a fumaça de encher o prédio e sufocar até à morte os moradores.

O Bronx – que fica a apenas alguns quilômetros de Wall Street – é o bairro mais pobre da cidade de Nova York, em que trabalhadores de baixa renda, imigrantes e norte-americanos, vivem em alguns dos piores conjuntos habitacionais do país, enquanto tentam sobreviver em uma das cidades mais caras do mundo

Na quarta-feira (5), uma casa geminada de propriedade da cidade de Filadélfia, no bairro de Fairmount, na Pensilvânia, pegou fogo, matando 12 pessoas, incluindo oito crianças.

Os investigadores sugeriram que a causa imediata do incêndio foi provavelmente uma criança brincando com um isqueiro perto de uma árvore de Natal.

A casa de três andares havia sido convertida em dois apartamentos, com 18 pessoas amontoadas em uma unidade e oito na outra.

Os quatro detectores de fumaça da unidade onde as 12 pessoas morreram não estavam funcionando no momento do incêndio. Autoridades da cidade disseram em um comunicado que durante a inspeção na primavera passada os detectores de fumaça estavam funcionando.

Moradias superlotadas

As duas tragédias são os piores desastres do gênero em ambas as cidades nos últimos tempos, embora não sejam propriamente um fato nem surpreendente, nem raro.

Defensores do direito à moradia denunciaram que não é mera coincidência que os incêndios hajam ocorrido em apartamentos construídos para famílias desfavorecidas.

“Quando li a notícia, pensei que, dado o bairro e o tipo de edifício, era habitação social”, disse Jenna Collins, advogada de serviços sociais da Filadélfia, sobre o incêndio em Nova York.

“Foi porque este prédio estava superlotado que tantas vidas foram perdidas”, insistiu Jenna.

“Fiquei ainda menos surpresa quando soube que a causa era um aquecedor elétrico”, acrescentou, explicando que os apartamentos financiados pelo Estado geralmente não têm aquecimento suficiente no inverno.

Ou o corte de energia por falta de pagamento leva moradores a improvisarem religações clandestinas. Nos meses frios de inverno, são comuns medidas desesperadas como acender velas ou acender fornos e lareiras antigas, aumentando o perigo de incêndio.

A sobrelotação das unidades residenciais é a consequência dos aluguéis além da capacidade de pagamento dos inquilinos, um subproduto da especulação imobiliária. As famílias se amontoam para tentar manter um teto sobre suas cabeças que possam pagar.

Segundo a Coalização Nacional pela Moradia de Baixa Renda, nenhum grande Estado ou cidade dos EUA no ano passado teve moradias suficiente para as famílias mais desfavorecidas.

No centro de Nova York e Filadélfia, o número de moradias populares para esse segmento da população era inferior à média nacional de 37 unidades por 100 locatários desfavorecidos, segundo a entidade.

No bairro de Fairmount, na Filadélfia, onde fica a habitação que queimou, o preço médio de venda de casas no bairro aumentou mais de US$ 130.000 em cinco anos, e o aluguel médio mensal agora excede US$ 2.200, superando a capacidade de pagamento de moradores da classe trabalhadora.

Na Filadélfia, são mais de 40.000 moradores na lista de espera para moradias subsidiadas publicamente.

Já prédios como o Twin Parks são usados como garantia para emissão de instrumentos financeiros por corporações e grupos de ‘investidores’, em que a manutenção é um detalhe sem importância. O complexo no Bronx foi recentemente comprado por US$ 166 milhões pelo Camber Property Group, cofundado pelo milionário Eric Gropper, aliás, consultor do prefeito democrata Eric Adams em questões habitacionais.

Tragédia a espreita

Incêndios em residências e mortes associadas continuam sendo um fenômeno tragicamente comum e mortal nos EUA. De acordo com o último relatório da National Fire Protection Association (NFPA), houve mais de 356 mil incêndios em estruturas residenciais em 2020, resultando em 2.580 mortes e 11.500 feridos. Um incêndio a cada 1,5 minuto e uma morte a cada 3,5 horas.

Apesar dos avanços no uso de materiais de construção resistentes a chamas e sistemas de segurança, a taxa de mortes por incêndio residencial relatada foi ligeiramente maior em 2020 do que há 40 anos: 7,2 para cada 100.000 incêndios hoje, em comparação com 7,1 em 1980. Segundo a NFPA, os aquecedores são nos EUA a principal causa de incêndios domésticos, matando uma média de 500 pessoas todos os anos entre 2014 e 2018.