Atos na Colômbia rechaçam o extermínio de ativistas | Foto extraída de twitter

Mais de dois mil militantes do partido Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC), ex-combatentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, realizam manifestações em Bogotá desde o final de semana para exigir que o governo pare com os assassinatos e respeite aos Acordos de Paz assinados em novembro de 2016.

“Estamos sendo submetidos a um plano de extermínio”, denunciou Pastor Alape, delegado da FARC no Conselho Nacional de Reincorporação, alertando que passa de mil o número de lideranças, defensores dos direitos humanos e ex-combatentes vitimas das hordas fascistas e agentes da Força Pública.

De acordo com o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz), o assassinato de 251 ativistas ao longo deste ano demarca uma “nova jornada de violência”. Recentemente foram mortas sete pessoas, entre elas duas destacadas lideranças sociais: Jorge Solano e Luis Hincapié, trucidados terça-feira em Norte de Santander e Antióquia, dois dos departamentos (Estados) mais castigados por milícias vinculadas ao narcotráfico.

Na cidade de Ocaña, Norte de Santander, homens armados atacaram a moradia de Solano, de 61 anos, conhecido por suas denúncias contra a corrupção e sua defesa de vítimas de desaparição forçada.

O escritório de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) na Colômbia condenou o homicídio e conclamou as autoridades a esclarecerem prontamente o crime.

Na cidade de El Peñol, em Antióquia, foi assassinado Luis Hincapié, após homens armados terem invadido sua granja. Desde o começo do ano a região registra 71 chacinas (assassinatos de três ou mais pessoas numa mesma ocorrência) ao longo do ano. A lista de militantes mortos em 2020 pode ser consultada no http://www.indepaz.org.co/lideres.

Pastor Alape disse que diante do banho de sangue o povo decidiu tomar as ruas, pedir respeito à memória dos mártires e “exigir do governo medidas que vão além da captura dos responsáveis”. Entre elas, sustentou, é importante fazer ecoar “uma reflexão nacional sobre a responsabilidade dos porta-vozes que convidam ao ódio, que estigmatizam, que polarizam e que são as causas de todas as mortes que o país conta, diariamente, a nível dos defensores dos direitos humanos, lideranças populares e signatários da paz”, acrescentou. Para Alape, “a questão central é que tudo segue sendo muito lento e que tudo tem relação com problemas estruturais de um Estado paquidérmico. Sempre justificam as falências e fica em demagogia”.

Conforme apuraram as próprias instituições de direitos humanos, mesmo em meio à pandemia as lideranças sociais e ativistas vêm sendo vítimas frequentes da “pior onda de violência” desde a assinatura dos Acordos de Paz.

Após colocarem pressão nas ruas na “Peregrinação pela Vida e pela Paz”, a avaliação é que os ex-guerrilheiros avançaram em quatro pontos para seguir adiante na negociação com o governo: o encontro com o presidente Iván Duque; terras para a reincorporação, garantias de segurança e implementação integral do Acordo de Paz.

Após a assinatura da paz, cerca de 11 mil integrantes e militantes do grupo rebelde se desmobilizaram e entregaram suas armas, sendo que destes 3.400 se estabeleceram nos Espaços Territoriais de Capacitação e Reincorporação (ETCR) para desenvolver projetos produtivos como parte de seu processo de reinserção à vida civil.

Diante do desarmamento unilateral, vários destes ETCR, que tiveram vigência legal de somente 24 meses – mas cujas instalações se mantêm e agora são parte dos municípios – são alvo de ameaças e perseguições por grupos armados.

Na avaliação da ONU, “estes fatos violentos, com graves impactos humanitários, estão ocorrendo em territórios com a presença de grupos armados ilegais e outras organizações que geram violência, economia ilegais, pobreza e caracterizados por uma presença limitada do Estado”. Portanto, as Nações Unidas consideram que “é fundamental avançar e aprofundar a implementação integral do Acordo de Paz, especialmente seu capítulo 3.4 sobre garantias de segurança, que oferece mecanismos e instrumentos de prevenção, proteção e segurança”.