As filas para receber o auxílio emergencial de R$ 600 ou 1.200 para mães chefes de família
prosseguem nesta quarta-feira, deixando milhões de pessoas na penúria em todo país. Além
disso, as filas causam imensas aglomerações, e dificultam as medidas para conter o avanço do
coronavírus.
Os empecilhos para o dinheiro chegar às mãos do cidadão são tantos, que até os que já
tiveram o benefício creditado na Conta Poupança Social não conseguem sacar ou movimentar
o dinheiro. Só nessa categoria são mais de dois milhões de beneficiários, conforme informação
anunciada pela Caixa Econômica Federal nesta quarta-feira.
A maior dificuldade relatada pelos usuários está no aplicativo Caixa Tem, que precisa ser
instalado em um celular para que a pessoa adquira um código para sacar ou movimentar o
recurso.
Para especialistas, a despeito da funcionalidade ou não do aplicativo, a própria condição do
acesso a meios digitais, celular e Internet para o cidadão receber o auxílio é excludente e, por
si só, dificulta o recebimento do dinheiro exatamente pelos mais vulneráveis e os que mais
precisam.
Mas não são só os mais velhos, ou os que não tem costume de usar celular, ou analfabetos e
alfabetizados funcionais que estão tendo problemas com o aplicativo. Por incrível que pareça,
parece que o aplicativo foi criado especialmente para isso: dificultar o acesso das pessoas ao
dinheiro.
Pessoas relatam que passaram o dia inteiro para acessar o aplicativo, “exatamente vinte horas
tentando entrar e totalmente sem sucesso”.
Alessandra Miranda conta em uma reportagem do UOL que “leva muito tempo para carregar a
espera virtual, então, a pessoa passa horas tentando fazer a identificação e não pode. Ou seja,
sem identificação não há como transferir, não há como retirar, não há absolutamente
nenhuma maneira de fazer isso”.
Não conseguindo resolver o problema pelo aplicativo, o que resta às pessoas é ir para a fila da
Caixa Econômica, como conta Ailton Batista, de 35 anos, que fez tentativas em dois celulares,
sem conseguir nada: “Coloquei CEP, CPF e número de telefone, conforme solicitado, e depois
diz que meu número não existe”.

Segundo o coordenador do programa de Telecomunicações e Direitos Digitais do Instituto
Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), Diogo Moyses, “condicionar o recebimento de
benefícios ao acesso à Internet e outras limitações está, na prática, criando barreiras ao
recebimento de assistência para os mais necessitados. Para ele, “o governo deve criar outros
meios para que as pessoas acessem a ajuda de emergência”.