1º de Maio: Ingleses denunciam PL que criminaliza protestos
No 1º de maio, milhares de pessoas marcharam pelo centro de Londres e em dezenas de cidades britânicas contra o novo projeto de lei do governo de Boris Johnson que pretende intensificar a repressão ao exercício do direito de manifestação aumentando os poderes policiais, no maior dos protestos ”Kill the Bill” [‘Mate a Lei’] desde março. O nome que pegou para esses protestos é uma referência ao popular filme Kill Bill.
Depois de se concentrarem em Trafalgar Square a partir do meio-dia, os manifestantes passaram diante do Palácio de Buckingham, pelo Departamento de Educação e pelo Ministério do Interior e, finalmente, pela margem do rio Tâmisa até os Jardins Vauxhall.
“O projeto representa um ataque massivo às liberdades civis e é parte de uma tendência mais ampla por parte do governo de encerrar a liberdade de expressão, encerrar protestos, encerrar vozes dissidentes. Em certo sentido, é um ataque a um valor democrático fundamental, que é o direito de levantar nossa voz em críticas, em protesto, em dissidência”, afirmou Pragna Patel, diretora do Southall Black Sisters, ao jornal The Guardian.”
“Estamos muito, muito alarmados com o impulso do governo ao autoritarismo”, acrescentou Patel, sublinhando que “isso representa uma em uma longa linha de leis draconianas que o governo está introduzindo e que terão impacto sobre nossos direitos fundamentais”.
Um dos pontos mais repudiados do novo projeto é o que concede à força policial o poder para bloquear protestos não violentos que tenham, a seu arbítrio, um “efeito perturbador significativo” no público ou no parlamento.
O jornalista e escritor Paul Mason disse que “é o 1º de Maio e em todas as partes do mundo os trabalhadores celebram o 1º de Maio protestando” e citou o “vácuo político” criado pela guinada conservadora no trabalhismo e que vem sendo ocupado por movimentos como Sisters Uncut, Black Lives Matter e Locatários dos locatários. “Mas eu me lembro que há 10 anos esses movimentos foram os movimentos de onde vieram as ocupações das grandes praças globais”.
A agência de notícias Reuters citou a interrupção por uma hora do tráfego de uma das faixas da Torre de Londres por um ativista do movimento ecologista Rebelião da Extinção.
“Estou realmente assustado com o fato de que eles querem protestar como uma ofensa passível de prisão”, disse a terapeuta Jade Rea, de 30 anos. “Eu não acho que haja qualquer justificativa para isso, porque a ideia de um protesto é realmente chamar a atenção das pessoas de que algo urgente está acontecendo”, acrescentou.
A repressão de parte da polícia de Londres em março a uma vigília de protesto contra o assassinato de uma mulher, Sarah Everard, morta por um policial em serviço, chamou a atenção sobre a questão e desencadeou um amplo repúdio a esse projeto de lei.