Em novo debate promovido pela secretaria nacional de Comunicação do PCdoB para tratar de temas relacionados ao 15º Congresso, ocorrido na noite desta quinta-feira (22), foram convidados dois dirigentes que participaram do grupo de linhas de massas do Comitê Central, o secretário sindical, Nivaldo Santana e a secretária de Relações Institucionais, Nádia Campeão, coordenador e relatora deste grupo, respectivamente.

Com o tema “Mais perto do povo, mais forte nas urnas e nas lutas”, a conversa ocorreu em formato de live pelas redes oficiais do PCdoB e foi mediada pelo secretário nacional de Comunicação, Adalberto Monteiro e pelo jornalista Osvaldo Bertolino.

“O 15º Congresso tem esses dois focos bem determinados: a luta contra o governo Bolsonaro — buscando isolá-lo, mas sobretudo derrotá-lo — e a luta pela presença institucional do PCdoB frente à cláusula de barreira em 2022”, comentou Nádia Campeão ao iniciar os debates.

“O Congresso do PCdoB coloca essas duas questões dentro de um contexto maior, por isso examinamos a questão internacional e a conjuntura brasileira, de um ponto de vista mais amplo”, explicou Nádia.

Ela salientou que “para a gente enfrentar o que está sendo colocado quanto à presença institucional do PCdoB, é preciso avaliar o que é preciso fazer. E a gente procurou ir às raízes do problema, quer dizer, ter um PCdoB revigorado. Então, no Congresso, isso vai estar em discussão”.

Nivaldo Santana agregou que “o Congresso do PCdoB é o momento máximo do exercício da democracia partidária, da participação dos quadros e militantes em todo o país e uma ótima oportunidade que o partido tem para sentir os efeitos nefastos que a política de Bolsonaro tem provocado no Brasil, liquidando com o nosso país, tirando direitos, ameaçando com golpe”. Esse debate de como derrotar Bolsonaro, disse Nivaldo, “é da mais alta importância e não só o PCdoB, mas todas as forças democráticas do nosso país devem estar empenhadas”.

O dirigente colocou ainda que o PCdoB, partido que vai completar 100 em 2022, “precisa crescer e se fortalecer e esse crescimento se dá na luta social, tem que se desenvolver na chamada luta de ideias, na disputa de narrativas na sociedade, mas é fundamental assegurar a presença do PCdoB na institucionalidade, nos parlamentos e governos. Afinal, o PCdoB é uma voz importante e imprescindível para a nossa democracia”.

Frente ampla

Com relação à possibilidade de a construção da frente ampla contribuir para ligar o partido à classe trabalhadora, Nivaldo apontou que “Lênin colocava que, para um partido de classe como o nosso ser vitorioso, precisa ter estratégia correta, com programa ajustado; precisa ter uma tática, uma orientação política também condizente com a realidade e precisa ter forte ligação de massas. Ele considerava que esses três fatores combinados é que permitem vitórias políticas e o crescimento partidário”.

Nivaldo explicou, no entanto, que não existe relação automática e imediata de causa e efeito entre uma tática correta e uma grande ligação de massas. “Acho que o partido precisa ter uma estratégia bastante avançada, correta, uma orientação política, uma tática também baseada na correlação de forças, no desenvolvimento da luta política, mas precisa adotar uma série de medidas organizativas, ter capacidade de comunicação para ganhar corações e mentes para transformar sua orientação tática justa com uma grande base de massas”.

O secretário chamou atenção para o fato de que “não podemos cair no automatismo, achar que basta ter a tática correta e as massas afluirão para o partido. É preciso também ter medidas específicas de como dialogar mais e melhor com os trabalhadores, com o povo, como se comunicar melhor, como ter uma política de massas que ajude a materializar e viabilizar a orientação tática”.

Na avaliação de Nádia Campeão, “a frente ampla, neste aspecto, serve muito, neste momento, para a gente distensionar qualquer ideia que poderia haver de que alguns setores podem se engajar na luta contra Bolsonaro e outros não. A ideia da frente ampla, a ideia de unir o povo contra Bolsonaro, é um processo. E com isso, você se colocando nessa perspectiva, claro que você aproxima a política do nosso partido de muitos setores que, às vezes, não fazem parte desse campo estritamente democrático, progressista. Então, acho que sim, a frente ampla contribui neste sentido”.

Além disso, acrescentou Nádia, “a tática da frente ampla nunca veio sozinha. Ela veio junto com um conteúdo muito importante para o momento atual, que foi a defesa da vida, da vacina, do auxílio emergencial, do isolamento nos momentos mais críticos; tudo isso falou com o povo. Tanto que nós ganhamos essa parada do Bolsonaro. A vacina não é uma bandeira dele; o uso de máscara, a higiene, não são bandeiras dele; o auxílio emergencial, ele tentou disputar, mas também não emplacou. Então, acho que palavras de ordem e linhas adequadas têm que servir para aproximar, mas ainda falta muita coisa”.

Revigoramento do partido

Questionada sobre trecho do projeto de resolução que aponta ser “imperativo superar limitações e insuficiências que se apresentaram nos últimos anos e levaram ao enfraquecimento de sua influência na luta social e setores médios, com reflexos importantes na sua força organizativa e em seu desempenho eleitoral”, Nádia avaliou como sendo um ponto de partida fundamental para tratar das necessidades atuais do PCdoB a partir de uma visão autocrítica.

“Temos consciência de que as dificuldades que o partido enfrenta, por exemplo, para 2022, para a superação da cláusula de barreira, se devem, em grande parte, ao problema da democracia brasileira. Lutamos defendemos a aprovação da federação como um mecanismo de manter as condições de participação democrática dos partidos”.

Porém, acrescentou, “também fizemos uma reflexão de que a legislação antidemocrática, que é muito importante, não é o único problema. Também não estávamos satisfeitos — e não estamos — com o desempenho eleitoral do partido. Porque temos ideias e inserção política muito respeitadas no país, importantes e valorosas. Então, é preciso que esse tamanho político se reflita materialmente, eleitoralmente, em força de massas, num partido mais forte e não temos visto isso”.

Nádia colocou que “perdemos um pouco dessa força, dessa representatividade e de votos. Não estamos satisfeitos com isso e temos que examinar profundamente quais as causas e como superar isso. Daí essa ideia de que é preciso revigorar o partido, reposiciona-lo na luta social, de massas, rever uma série de coisas na estruturação partidária e rever muitas questões também no terreno eleitoral”.

Para ela, “esse conjunto de questões tem que ser visto autocriticamente para que a gente possa abrir caminhos para a sua superação. E o Congresso é o momento mais importante para isso”.

Neste sentido, Nivaldo Santana enfatizou que o PCdoB “atua em múltiplas frentes, mas podemos considerar que o desempenho eleitoral é o principal termômetro para medir sua inserção, representatividade social e sua capacidade de influenciar politicamente na sociedade. Se o partido está perdendo potência eleitoral, acredito que temos o dever de analisar as causas e as medidas que podem ser tomadas”.

O dirigente lembrou que algumas causas fogem da responsabilidade direta do partido. “Vivemos num momento de avanço da extrema-direita no mundo e no Brasil, com o revigoramento da campanha anticomunista, a disseminação de preconceitos que procuram descaracterizar as verdadeiras propostas do PCdoB”.

Mas, ponderou, “como a Nádia disse, temos que reconhecer também que além desses problemas gerais, nós também, nos processos eleitorais, não fomos tão ousados quanto fomos em outras áreas de atuação”.

O debate que temos realizado, disse Nivaldo, “fez boa análise dessa situação, apontando algumas medidas no sentido de superar esses obstáculos e acredito que no Congresso, as reflexões mais amplas certamente vão permitir a retomada do PCdoB com mais força e vigor nesse próximo período”.

Assista abaixo a íntegra do debate:

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Por Priscila Lobregatte