A pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela d’Ávila, destacou a importância das editoras independentes para o fomento de produção de obras que ajudam a construir o pensamento político, ao participar da 4ª edição do Salão do Livro Político, realizado no Teatro Tucarena, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), na noite desta segunda-feira (18).

Para Manuela d’Ávila, o esforço feito pelas editoras independentes precisa ser fortalecido no país para que “mais obras relacionadas à construção do nosso pensamento das nossas ideias e do nosso projeto para o país sigam circulando, fazendo com que novas pessoas pensem, reflitam e se engajem nesse projeto de transformação que o país precisa”.

A pré-candidata do PCdoB fez questão de trazer ao debate obras que demonstram a importância da questão de gênero e raça para o desenvolvimento de um país. “Selecionei algumas leituras que mudaram muito a minha perspectiva e que fazem a gente refletir sobre algo que muito importante no Brasil e no mundo de hoje. A construção de um projeto nacional de desenvolvimento que enfrente duas questões que estruturam a desigualdade em nosso país: as questões de gênero e de raça”, frisou.

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas, multidão e atividades ao ar livreNa visão de Manuela, o Brasil não pode pensar em um projeto nacional de desenvolvimento sem que perceba que as mulheres, os negros e negras – que compõem a maior parte da população -, estão “alijados da construção desse desenvolvimento”.

Ela citou obras como “Mulher, Estado e Revolução”, de Wendy Goldman, e “A Mulher Habitada”, da nicaraguense Gioconda Belli. “Me instiga por ser uma escritora maravilhosa, mas também por ser uma guerrilheira”, enfatizou.

Outra escritora citada por Manuela foi a inglesa Virginia Woolf, apontando o artigo “Profissões para mulheres”, escrito em 1931. Manuela contou que Virginia Woolf escreveu o artigo para um grupo de mulheres trabalhadoras, para abordar o poema de Patmore e a necessidade de matar o que ela chama de “anjo do lar”, que apenas obedece e cumpre as suas funções domésticas como mulher. No artigo, ela afirma que todas as mulheres possuem esse tal anjo dentro de si e que, para uma vida saudável é preciso combatê-lo.

Misoginia e o golpe

A imagem pode conter: 3 pessoas, pessoas sentadas, mesa e área internaManuela apontou que o golpe de 2016 contra o mandato da presidenta Dilma Rousseff é uma demonstração de como a questão de gênero é estrutural.

“O golpe que nós vivemos que é inconstitucional e antidemocrático, tem a narrativa popular baseado na misoginia machista. O que diziam para justificar o golpe: que a Dilma não era capaz de enfrentar a crise, era a Dilma mal-amada, a mulher que gritava diante de homens calmos, sensatos e ponderados”, lembrou Manuela, que também é deputada estadual pelo Rio Grande do Sul.

“Quando a gente pensa no golpe precisamos pensar que é um projeto antibrasileiro, que partiu de um impeachment sem crime de responsabilidade, mas a legitimidade social desse golpe partiu da ideia de que a Dilma era incapaz de superar a crise econômica do Brasil. Na ideia de que as mulheres precisam abraçar o seu ‘anjo do lar’ e não enfrentá-lo”, comparou Manuela.

Também participaram do evento a presidenciável Vera Lúcia (PSTU) e o presidente da Fundação Perseu Abramo, Marcio Pochmann, representando o ex-presidente Lula, que está preso desde o dia 7 de abril. Lula enviou uma carta que foi lida por Pochmann durante o debate.

A imagem pode conter: 1 pessoa“Espero que a Constituição seja o livro de cabeceira de todos neste momento”, frisou o ex-presidente, que foi condenado e preso num processo irregular e de violações aos direitos e garantias individuais.

Pochmann afirmou que Lula tem feito uma “leitura mais sistemática a respeito do Brasil” e citou livros que Lula leu no último período como a trilogia do jornalista Lira Neto sobre Getúlio Vargas. Na carta lida pelo economista, Lula citou a oposição sofrida por Vargas contra a legislação trabalhista, a criação da Petrobras e da Eletrobras, que foram as bases do desenvolvimento industrial e tecnológica do país. “Hoje enfrentamos de novo forças que não querem a democracia, o desenvolvimento, a soberania e a inclusão social”, diz Lula em outro trecho da carta.

O pré-candidato pelo Psol, Guilherme Boulos, foi convidado mas não compareceu.