Em condições “normais”, dada a gravidade da múltipla crise em que o País está mergulhado, seria de esperar que intenções e medidas fossem proclamadas, no governo e nas oposições, dotadas de consistência e perspectiva.

Por Luciano Siqueira*

Nada disso. Da parte do governo, o único elemento realmente consistente e pétreo é o compromisso de honrar perante o Mercado a agenda regressiva, que afeta as salvaguardas de nossa soberania e os direitos fundamentais dos trabalhadores. No mais, entre constrangimentos pelo envolvimento com a corrupção, as negociatas nem sempre bem sucedidas junto ao Parlamento e o crescente desgaste perante a opinião pública, atira-se para todo lado.

Literalmente, atinge-se o bom senso e a responsabilidade com que o grave problema da segurança cidadã há que ser tratado e se intervém no Rio de Janeiro sem considerar os fatores multicausais da violência criminal urbana – como ficou evidente na precária entrevista coletiva concedida ontem pelo interventor, general Walter Braga Netto.

De quebra, sinaliza-se para o risco de agravamento da ruptura institucional.

Concomitantemente, no que se refere ao pleito de outubro, as hostes governistas patinam diante de vários pretendentes e nenhuma liderança efetivamente aglutinadora.

E se a correlação de forças real, tendo em conta espaços de poder ocupados, é francamente adversa às oposições, conquistar o apoio da maioria da população para uma alternativa de superação da crise consistente mostra-se possível.

A passagem da deputada Manuela D’Ávila — pré-candidata à presidência da República pelo PCdoB — pelo Recife, na semana passada, acentuou essa possibilidade, tal a largueza de visão e a propriedade com que abordou temas cruciais para os destinos mediatos do Brasil, nas várias entrevistas à imprensa e no debate realizado na Universidade Católica.

Manuela combina a defesa de proposições próprias do seu partido com a devida consideração das intenções manifestadas pelos pré-candidatos Lula, do PT e Ciro Gomes, do PDT, e se mostra abertamente interessada no diálogo com outras pré-candidaturas que possam surgir no campo popular e democrático.

Pois é preciso ultrapassar os limites da polêmica imediata e, com visão larga e os pés no chão, pactuar com a sociedade um novo rumo.

*Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB