Em “Capoeira do Arnaldo”, mestre Vanzolini parece ironizar com a sabedoria do burro, como a dizer que quanto mais velho, mais burro. Eu, sertanejo, arrisco modestamente a discordar do mestre, se a sua intenção foi a ironia. Acostumado com esses viventes que por aqui, apesar da modernidade, ainda abundam, sei que burro, paradoxal que pareça, é bicho sabido.

Por Joan Edesson de Oliveira *
Burro velho, então, nem se fala. Conhece de caminhos como poucos. Burro velho sabe fazer estrada e sabe achar rumo certo de casa. Além, claro, da resistência. Quem é do ramo sabe que pra distância encompridada cavalo, por melhor que seja, não presta. Bom mesmo é uma burra baixeira, capaz de comer léguas e léguas de chão sem cansar e, mais importante, sem cansar o sujeito que nela vá escanchado. Além do que, o dito burro é bicho de valentias e de sobrevivências. Nunca me contaram de burro comido por onça, mas já ouvi de onça levar coice de burro e sair pelos matos miando, arrependida do atrevimento.

Pois bem, acho que a pré-candidatura de Manuela, lançada pelo PCdoB, é assim feito os versos do mestre, tem sabença de burro velho e coragem de tigre moço. Sabença de burro velho, pois se lança em momento propício, em quadra nova da vida política nacional, que parece padecer de ânsias de ruptura. Sabença velha, pois o PCdoB tem quase um século de existência e presença marcante e reconhecida na luta democrática e popular no Brasil. E sabença também porque Manuela, apesar da pouca idade, é uma parlamentar experiente e experimentada, com mandato de vereadora, de deputada federal e de deputada estadual, sempre com votações consagradoras e com destacada atuação parlamentar.

Além disso, a candidatura de Manu tem coragem de tigre moço, mais uma vez por ela própria e pelo PCdoB, que nunca se dobrou, nunca temeu e enfrentou mais de uma ditadura no país. E Manu tem demonstrado, até agora, coragem e disposição como poucas vezes se viu. Coragem de tigre moço, ou de onça nova, pra fazer jus à mulher brasileira que ela é.

Manuela já começou a correr o Brasil, e acho que é isso mesmo que ela deve fazer. Precisa se fazer conhecida pelo povo e conhecer o país e sua gente. Manu, corretamente, tem ido ao Brasil que se vê na televisão, mas tem buscado também o Brasil de dentro, como no acampamento Hugo Chávez no Pará, visitado recentemente por ela.

É isso mesmo que ela precisa fazer. Precisa correr o trecho nesse Brasilzão sem fim, conhecer experiências exitosas de gestão pública em municípios escondidos do sertão; saber como vivem e como se organizam trabalhadores nos mais diversos recantos; conhecer formas de luta e resistência de homens e mulheres; conversar com a juventude; dialogar com forças políticas. Manu precisa da estrada, repito, para se fazer conhecida e para conhecer.

Na mesma canção que falei aqui, o mestre Vanzolini reconhece o valor da estrada. “Com dois meses de viagem, vivi uma vida inteira (…) Estrada foi boa mestra, me deu lição verdadeira”, ensina ele.

Manu e o PCdoB devem, a meu ver, seguir esse conselho e ir para a estrada. Vai ganhar o Brasil e vão ganhar Manu e o Partido. Há mais coisas nesse Brasil de dentro do que a gente imagina. Quem se propõe à tarefa gigantesca de se apresentar como pré-candidata à Presidência da República precisa descobrir isso. Vamos ganhar todos com isso. Essa estrada que se abre aí vale, certamente, por uma vida inteira.

Quem sabe, nessas estradas, a gente não descubra que “coragem num tá grito, nem riqueza na algibeira, e os pecados de domingo quem paga é segunda feira”.

*Educador, Mestre em Educação Brasileira pela Universidade Federal do Ceará.