Transcorre nesta quarta-feira, 29 de Novembro, o Dia Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino, data comemorativa instituída pela Organização das Nações Unidas para lembrar o aniversário da Resolução 181 da Assembleia Geral desta organização multilateral.
Por José Reinaldo Carvalho*
Em 29 de novembro de 1947, a Assembleia Geral da ONU, presidida pelo brasileiro Oswaldo, aprovou, sem consulta aos habitantes locais, o Plano de Partilha da Palestina. Em tese seriam criados o Estado israelense e o Estado palestino. Tal não ocorreu. Na verdade, ali se iniciava o martírio dos palestinos.
Em todo o mundo realizam-se celebrações dedicadas ao povo palestino no dia 29 de Novembro, inclusive pelas Nações Unidas, para além dos movimentos de solidariedade em todo o mundo. Várias resoluções da Assembleia Geral regulamentam a realização de atividades especiais, em articulação com o Comitê para o Exercício dos Direitos Inalienáveis do Povo Palestino.
Isto demonstra o prestígio da causa Palestina e o isolamento do Estado sionista de Israel.
Neste ano de 2017 transcorre o centenário de um dos episódios promovidos pelo imperialismo britânico que está na origem da catástrofe que acometeu o povo palestino.
Em 2 de novembro de 1917, o Império Britânico emitiu um documento, conhecido como Declaração Balfour, em que se manifesta a intenção de facilitar o estabelecimento do chamado “lar nacional judeu” na Palestina, depois da concertação de acordos com o movimento sionista mundial.
O Plano de Partilha da Palestina (a resolução 181 de novembro de 1947), foi completamente injusto . Acarretou a expulsão de cerca de 800 mil palestinos dos seus lares. Estabeleceu a entrega à minoria colonialista judaica, proveniente em sua esmagadora maioria de países centro-europeus, de mais da metade da Palestina e as terras mais férteis. Como se não bastasse, o Estado sionista desde então expandiu incessantemente o seu território, ocupando hoje 82% da Palestina original. E o fez mediante guerras, a expulsão sistemática dos palestinos das suas terras, operações de cerco e aniquilamento e um novo tipo de apartheid, com o muro de separação entre Jerusalém e a Cisjordânia, onde cresce o número de colônias declaradas ilegais pela própria ONU.
A região do Oriente Médio e especialmente a Palestina tornou-se cenário da implantação de um movimento nacionalista e colonialista de origem europeia, que se concretizou pela imposição do Estado sionista e suas políticas agressivas e expansionistas. Desde sua criação até os dias de hoje, esse Estado, que se comporta como pária no concerto internacional, expande-se por meio da guerra, da repressão e da ocupação, martirizando a população palestina, mediante a limpeza étnica. Um genocídio.
A propaganda israelense esforça-se por negar, com o poder que exerce sobre a mídia, o caráter colonialista e imperialista do empreendimento sionista porque se trata de uma história incômoda, de causar horripilantes sobressaltos. Afinal, como confessar crimes de lesa-humanidade e violações do direito internacional quando se pretende posar de campeões do humanismo e da democracia? Por óbvio, a aceitação da tese imperialista e colonialista conduz automaticamente a confessar esses crimes, para os quais no fundo sabem que não há remissão.
A propósito, cito a reflexão do historiador israelense Ilan Pappe em sua obra “La limpieza étnica de Palestina”: “Aos israelenses é profundamente perturbador reconhecer os palestinos como vítimas de ações israelenses (já que) supõe enfrentar a injustiça histórica da qual se acusa Israel como autor da limpeza étnica da Palestina em 1948; este reconhecimento obriga a questionar os mitos fundadores do Estado de Israel. A aceitação de algo semelhante por parte dos judeus israelenses minaria, como é lógico, seu próprio status de vítimas. Isto é algo que teria implicações políticas em escala internacional; mas também repercussões morais e existenciais para a psique judia […] os judeus teriam que reconhecer que se converteram na imagem refletida no espelho do seu pior pesadelo”. (Ed. Crítica, Barcelona, 2008, páginas 321-322).
A propaganda sionista acusa os seus opositores de pretenderem “remover Israel do mapa”. Recorrem assim ao velho método nazista, apropriado pelo aparato ideológico sionista, de amaldiçoar seus adversários como antissemitas. Neste afã, para além de exibir seus preconceitos, explicita o alinhamento, ao analisar a geopolítica do Oriente Médio, com os países imperialistas e seus partidários na região.
O Estado sionista se tornou um martírio não apenas para os Palestinos, mas também para o Líbano, a Síria, o Irã. No Líbano exerceu criminosa ocupação e usurpou territórios. Israel ocupou o Líbano durante longos 18 anos, sendo expulso pela heroica Resistência, no ano 2000. Permanece, porém, ocupando as fazendas de Shebaa, no sul do país. E em 2006, entre julho e agosto, durante 30 tenebrosos dias, o Estado sionista realizou bombardeios sistemáticos sobre o País do Cedro, de novo derrotado pelas forças da Resistência. Naquela altura, Condoleeza Rice, então secretária de Estado dos Estados Unidos, dizia que os bombardeios dos seus aliados israelenses sobre Beirute eram “as dores do parto do novo Oriente Médio”. A frase passa a História como testemunho do caráter criminoso do imperialismo estadunidense.
Também da Síria Israel usurpou as colinas de Golã.
Israel atua como cabeça de ponte dos interesses de Washington na conflituosa região do Oriente Médio.
Partindo de premissas falsas, a entidade estatal sionista, sendo indubitavelmente uma ameaça à paz e à soberania dos povos e países da região e recorrente na prática da limpeza étnica da Palestina, é simultaneamente um obstáculo a qualquer solução política para a questão palestina. O argumento dos agressores é a primazia da “segurança” de Israel, concebida como a negação do direito à existência do povo palestino e à conquista do seu Estado livre, independente e soberano.
A solução do conflito palestino-israelense pressupõe o cumprimento das resoluções da ONU e a proclamação de jure e de facto do Estado Palestino, livre e soberano, tendo Jerusalém Oriental como capital, e com as fronteiras existentes em 4 de junho de 1967, fronteiras estas reconhecidas internacionalmente. Não haverá paz na Palestina, em Israel e em todo o Oriente Médio enquanto não se estabelecer plenamente um Estado palestino.
Isto requer ainda a retirada de todas as colônias israelenses nos territórios palestinos ocupados e a derrubada do muro de separação. Igualmente é necessário e urgente libertar os prisioneiros políticos palestinos detidos em prisões israelenses e implementar uma solução justa ao problema dos refugiados, de acordo com a resolução 194 da ONU. É também necessária a retirada de Israel das Colinas de Golã, na Síria, e das Fazendas Shebaa, no sul do Líbano. Estas são assertivas claras, lógicas, sensatas, conforme a justiça e o Direito Internacional.
A solidariedade do PCdoB à causa palestina não é de ocasião, é uma solidariedade histórica, permanente, total e incondicional. Solidariedade que foi reafirmada em resolução especial no Encontro Nacional da Secretaria de Política e Relações Internacionais, realizado em julho passado e no 14º Congresso do partido, há dez dias.
Ao reiterar nossa solidariedade, manifestamo-nos também em prol da unidade nacional palestina e da unidade de todas as forças políticas patrióticas no âmbito da Organização pela Libertação da Palestina (OLP).
*Jornalista, pós-graduado em Política e Relações Internacionais. É secretário de Política e Relações Internacionais do PCdoB.