100 anos da Revolução Russa: Dois novos lançamentos na sede do CC
No marco dos 100 anos da Revolução Russa, a Fundação Mauricio Grabois em parceria com a Editora Anita Garibaldi realiza inúmeros lançamentos e relançamentos de obras que tratam do maior movimento operário da história mundial. Na próxima sexta-feira, 7 de julho será lançada duas novas publicações: Lênin – presença da revolução (vários autores) e Lênin, leitor de Marx (Gianni Fresu). O evento acontecerá na sede nacional do PCdoB, na capital paulista, das 14h30 às 17h. A entrada é gratuita.
Leia abaixo apresentação do livro escrita por Adalberto Monteiro*
Lênin leitor de Marx, fruto da tese de doutorado de Gianni Fresu, originalmente publicada na Itália, não apenas resgata o pensamento de Lênin dos porões da propaganda reacionária, mas, a partir da imersão numa complexa teia de conexões teóricas e políticas, lança luz sobre a intrincada história do movimento socialista e sobre a recepção do pensamento de Marx e Engels no final do século XIX e início do século XX. Este quadro histórico e político possui o mérito de mostrar ao leitor, sobretudo, que a tradição marxista e o movimento socialista, longe serem de homogêneos e unívocos como frequentemente leituras vulgarizadas os apresentam, estiveram sempre permeados por grandes disputas teóricas e desafiadores problemas políticos para os quais buscou-se dar respostas a altura de sua importância histórica. Contudo, o fio vermelho que percorre toda a obra diz respeito à dialética hegeliana como divisor de águas, isto é, a contribuição de Hegel e de sua lógica da contradição como elemento fundamental – que aqui encontra em Lênin seu vigoroso intérprete – para distinguir e criticar as leituras mecanicistas, dogmáticas, que vicejaram, nomeadamente, durante os anos da II Internacional. A tese central da obra sustenta, portanto, que Lênin teria chegado a Hegel por meio da leitura do pensamento de K. Marx e de F. Engels e que este percurso teve como consequência a “completa superação do determinismo positivista da II Internacional”.
O professor Marcos Aurélio da Silva (UFSC), prefaciador do livro de Fresu, o livro cumpre um papel importante no combate ideológico. A esquerda nas últimas décadas sofreu uma derrota cultural, em que seus autores mais brilhantes, como Gramsci e Lênin, foram taxados de dogmáticos e messiânicos, para serem escanteados. “Como um homem da estatura intelectual e política do Lênin, é transformado num demônio do Século XX. Há uma grande distorção e o livro cumpre um papel excelente nessa luta de ideias”.
Conforme destaca Marcos, Fresu destaca a força do pensamento dialético de Lênin contrapondo aquele movimento de surgimento da 3a Internacional, em que ele supera as limitações deterministas e gradualistas da 2a Internacional. A força do trabalho de Fresu, segundo ele, é desmanchar a ideia dos círculos liberais que se aproximam de Gramsci, mas buscam passar a ideia de que Gramsci não tem nada a ver com Lênin, nem com a 3a. Internacional ou o movimento comunista.
Para Marcos, outro ponto importante da obra é a elaboração sobre aliança de classes. “Uma vez que Lênin é o precursor da ideia de hegemonia do Gramsci, ao contrário do que muitos buscam sustentar, a questão da aliança de classes, tal como Lênin em vários momentos da história soviética não apenas teorizou, como também experimentou, com a aliança operário-camponesa, este é um ponto que, de alguma forma, toca na realidade atual”, destacou ele.
Com o predomínio do modelo ocidental, após o fracasso do bloco socialista no Leste Europeu, a liquidação da herança teórica de Lenin passa a ser uma tarefa seguida com obstinação por grande parte do mundo político, acadêmico e cultural. Assim, entre a maioria dos historiadores do pensamento político, sociólogos, cientistas políticos, economistas ou simples jornalistas, prevalece a tendência de representar sumariamente Lenin como um “doutrinário” rígido e dogmático, que tinha a obsessão de abrigar a realidade numa camisa de força.
O “drama do comunismo” seria, então, o resultado do fundamentalismo ideológico de Lênin e de sua pretensão de fazer nascer uma nova ordem a fórceps. O século XX tem sido descrito como o século dos horrores, das ditaduras e, nessa leitura apocalíptica, Lenin é representado como a origem do pecado, o diabo responsável pelas desgraças e os lutos de um século ensanguentado, incluído aí o fascismo. Por isso, uma das suas elaborações mais conhecidas, o imperialismo, tem sido combatida com tanta violência.
Lênin – Presença da Revolução (vários autores, organizado por A. Sérgio Barroso)
A contemporaneidade de Lênin
Adalberto Monteiro*
Este livro reúne textos que buscam a tradução do legado de Vladimir Ilitch Lênin para alguns temas centrais da teoria revolucionária, um louvável esforço para se entender os complexos fenômenos políticos da atualidade, cumprindo aquela consigna leninista: aprender, aprender, aprender sempre.
Lênin, como definiu João Amazonas, ideólogo e construtor do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), foi o personagem histórico do século XX. De fato, ninguém interpretou melhor o ciclo de transformações sociais na transição do século XIX para o século XX, um período carregado de componentes da nova era de luzes que emergiu com o capitalismo, do que ele.
Seu nome está indelevelmente ligado à Revolução Russa da qual foi arquiteto e chefe. Ele liderou e consolidou essa grande Revolução que, pela vez primeira, fez saltar das páginas dos livros o projeto revolucionário do socialismo, do comunismo. O que até então era teoria, ideais e sonhos, ganhou concretude.
Partindo das inovadoras ideias de Karl Marx e Friedrich Engels – teóricos que sintetizaram os fantásticos conhecimentos que chegaram com a abolição da servidão do mundo medieval para darem forma ao que de mais avançado a humanidade conhece em termos de pensamento social científico –, Lênin literalmente revolucionou os acontecimentos da época do capitalismo em sua fase superior.
Apoiado na dialética, agigantou-se ao formular conceitos que fazem dele um dos mais notáveis pensadores da política e um dos mais sagazes líderes do movimento comunista. O conjunto da sua teoria representou um enorme salto na compreensão da realidade que se formou com a era das revoluções burguesas, um poderoso aporte para a superação das irreconciliáveis contradições do modo de produção capitalista.
Foi também um mestre na combinação do pensamento avançado com ação, utilizando-se das lentes argutas do marxismo para enxergar e mostrar caminhos para a superação do capitalismo.
Transformar a realidade, no sentido da combinação entre teoria e ação, é a síntese do pensamento leninista, que pode ser verificada em formulações como a impossibilidade da revolução sem teoria revolucionária e a citação de Mefistófeles, de Fausto, a obra-prima do poeta Goethe, de que a teoria é cinza e a árvore da vida é eternamente verde, entre tantas outras.
A atualidade da obra de Lênin e a necessidade de revistá-la e de enriquecê-la derivam do fato de que o capitalismo prossegue dominante na cena da história, a um custo cada vez mais elevado para as nações e os trabalhadores. Subjugação de países outrora soberanos ao neocolonialismo; sufocamento da democracia; e forte aumento da exploração capitalista sobre a classe trabalhadora.
A essência da teoria e a prática revolucionária de Lênin se compõem ao menos de três núcleos: a tática e a estratégia da revolução socialista, a crítica reveladora do imperialismo e os caminhos da construção do socialismo. Por isto, nesta altura do século XXI seguem proféticos e válidos os versos de Maiakovski, escritos em 1924: “Lênin ainda está mais vivo do que os vivos.”
*Jornalista, escritor, editor da revista Princípios e secretário-geral da Fundação Maurício Grabois