A esquerda e a oposição saem fortalecidas das eleições de 6 de outubro. O PT e o PCdoB obtiveram votações históricas. Lula recebeu 39.443.765 votos, 46.4% dos 84.928.134 válidos. Já o candidato do governo, José Serra, não chegou à metade da votação do principal candidato da oposição, com 19.700.395 eleitores.

A taxa de renovação da Câmara dos Deputados ficou em cerca de 47%: das 513 vagas, 240 serão ocupadas por parlamentares que não estão na atual legislatura. Do total, mais de 180 são oposicionistas, enquanto a bancada que formou a base de sustentação do governo diminuiu. Também no Senado ocorreram modificações significativas e favoráveis à oposição. Foram disputados 2/3 das 81 cadeiras, com taxa de renovação de quase 50%. Dos 54 novos senadores, 10 são do PT, 4 do PDT, 3 do PSB, 2 do PL e 1 do PPS – partidos que disputaram com a coligação governista. Nos pleitos estaduais, a oposição ficou com quatro governos no primeiro turno e disputa nove no segundo, inclusive de estados de grande concentração eleitoral, como São Paulo, Ceará, Rio Grande do Sul e Pará.

Ficou demonstrado de forma cabal que os brasileiros compreenderam que o caminho atualmente trilhado pelo país é desastroso e desejam mudar a política imposta pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. O povo pretende construir um novo destino, com dignidade nacional, participação nas decisões do país e novos métodos políticos. A orientação econômica de FHC favoreceu uma minoria que ganhou muito com a alta dos juros e a especulação com a moeda. Essa orientação sacrificou a ampla maioria da população, que quer um novo rumo, de desenvolvimento, geração de empregos, atendimento às necessidades básicas de saúde, educação, transporte, salários dignos, etc.

Ampliar a aliança política e social

A situação de grave crise econômica tem implicações políticas que fornecem as bases objetivas para a ampliação da aliança política e social que poderá garantir a vitória de Lula no dia 27. Setores ainda mais extensos dos trabalhadores, das camadas médias da população, dos empresários, dos intelectuais, dos militares podem ser unificados em torno do projeto nacional do novo governo, de retomada do crescimento, de fortalecimento do mercado interno, de geração de empregos, de ampliação da democracia.

A expressiva votação da Coligação Lula Presidente demonstrou ser ela o escoadouro principal do anseio mudancista. Lula é o único candidato em condições de unir a maioria dos brasileiros em torno de um novo projeto, de um novo rumo para o Brasil. Para garantir a vitória na importante batalha do segundo turno a Coligação deve reafirmar, portanto, seu programa de mudança, em defesa do Brasil, da democracia e dos direitos do povo.

O segundo turno ocorrerá também para os governos do Rio Grande do Sul, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Distrito Federal, Sergipe, Ceará, Pará, Amapá – estados em que o PCdoB integra as coligações que estão na disputa. Nos estados em que o Partido não participa da disputa do segundo turno, ele apóia os candidatos que venham a se comprometer com a Coligação Lula Presidente. O PCdoB tem a compreensão de que a luta por esses governos, sua conexão com a campanha presidencial de Lula e, com a vitória oposicionista, a relação das administrações estaduais com o governo federal desempenharão papel fundamental na implementação das políticas que construirão o Brasil democrático, progressista, soberano, com vida digna.

O Partido Comunista do Brasil participa desde 1989, juntamente com o PT, do núcleo político que busca a saída democrática, popular e progressista para os impasses enfrentados pelo Brasil. Nunca, em toda a história do país, a possibilidade efetiva da vitória desse projeto esteve tão próxima. Os comunistas devem multiplicar ainda mais seus esforços para garantir vitórias democráticas nos estados que disputam o segundo turno e a eleição de Lula presidente.

Crescer e fortalecer o Partido

No primeiro turno a atuação do Partido Comunista foi vitoriosa. Elegeu 12 deputados federais, 17 deputados estaduais e o vice-governador do Piauí. Para a Câmara Federal (candidatos e legenda), o PCdoB totalizou 1.967.135 votos, alcançando 2,25% dos 87.532.533 votos válidos. Para o Senado, somou 6.185.951 votos. Wagner Gomes, em São Paulo, alcançou quase 3,5 milhões de votos; foram obtidos 17% dos votos no Distrito Federal e 13% na Bahia, entre outros bons desempenhos. Mesmo onde não foram eleitos parlamentares comunistas, como é o caso de Alagoas e Paraíba, a candidatura ao Senado do PCdoB, recebeu votação expressiva. Entre senadores, deputados federais e estaduais, o PCdoB totalizou 9.281.543 votos.

Neste segundo turno, ao lado da participação ativa na conquista do voto para a Presidência da República e para os candidatos das coligações em que participa, a militância comunista empenhará esforços para fortalecer o Partido. O PCdoB deve multiplicar os laços que o unem ao movimento dos trabalhadores, em particular o movimento sindical, da juventude e as entidades sociais, elevando a consciência e organização do povo.

No esforço derradeiro da campanha eleitoral, os comunistas devem estender a organização partidária a todos os recantos, filiando dezenas de milhares de novos militantes, constituindo centenas de novos comitês nos municípios, proliferando a inserção das bases comunistas.

Este outubro histórico é uma oportunidade extraordinária para o PCdoB alcançar um novo patamar em sua existência. Está colocado o desafio de filiar, organizar novas bases, estruturar novos comitês e consolidar os já existentes. Onde os candidatos comunistas foram eleitos, a militância deve agradecer a confiança dos eleitores. Onde não foi possível a conquista do mandato, a militância deve somar-se à comemoração da vitória alcançada pelo povo brasileiro neste primeiro turno. Os comitês de campanha devem permanecer ativos na batalha do segundo turno. Plenárias militantes devem ser organizadas, para planejar as tarefas do embate político-eleitoral e, no seu seio, fortalecer as fileiras partidárias.

A nova fase da campanha, que finda dia 27, é curta, concentrada e decisiva. O PCdoB continuará contribuindo para o fortalecimento e a ampliação da frente nacional e democrática. Os comunistas reafirmam seu compromisso com o amplo movimento cívico para eleger governos democráticos nos estados e para a vitória de Lula presidente, dando início a um novo tempo para o Brasil.

São Paulo, 10 de outubro de 2002.
Comissão Política do Comitê Central do PCdoB