O pedido de desligamento de Agnelo Queiroz das fileiras do PCdoB indica que faltaram a ele convicções em torno do projeto político do PCdoB e compreensão da luta travada pelo partido. Nessas condições, deixam de se coadunar os projetos pessoais e o projeto partidário. Agnelo adota agora outros rumos, a serviço de um outro projeto, que não o do PCdoB.

Isso ocorre num momento afirmativo da trajetória partidária. Em todo o país, elevou-se a presença dos comunistas, inclusive com candidaturas destacadas a prefeituras em oito capitais. Firma-se também a ação política de massas do partido no mundo sindical, na juventude, no movimento popular em geral, bem como na participação em governos e na luta de idéias. As fileiras partidárias crescem e vai sendo realizado esforço persistente no sentido de sua melhor estruturação. Cada vez mais se demonstra necessário um partido com orientação avançada, capaz de lutar por reunir amplas forças de esquerda e progressistas e dar perspectivas mudancistas duradouras ao país.

O gesto de Agnelo foi intempestivo. A “profunda reflexão” que ele afirma ter realizado para chegar a tal decisão não foi feita com seus companheiros e companheiras de partido. Por seu turno, o PCdoB sempre sustentou e prestigiou a trajetória de Agnelo, que era membro do Comitê Central. Não apenas nas sucessivas eleições a deputado distrital e federal, como também depositando a confiança política que lhe permitiu a indicação do presidente Lula para que assumisse o Ministério dos Esportes, tendo sido o primeiro da história do partido. E depois, sustentando com decisão e empenho coletivo a batalha pelo senado, durante e após as eleições de 2006, bem como a apresentação de seu nome à ANVISA. Nunca lhe faltaram as portas abertas da direção nacional para, num ambiente franco, encontrar saídas para as vicissitudes da política. Essa atitude não foi recíproca. Agnelo se afastou da vida partidária no DF, exacerbando características de pouca atenção à construção partidária que marcam sua trajetória.

A luta por um projeto político transformador, socialista, é indesligável do esforço por constituir um partido com um projeto político estratégico, nos marcos de uma organização entendida como coletividade unida à base de convicções, de forma voluntária e consciente, com um projeto comum a todos. Tal construção se dá, nos dias atuais, em meio a características marcantes que assume a política em nosso país, de acentuado personalismo dos projetos políticos e pragmatismo quanto aos meios de persegui-los. Os projetos personalistas, exacerbados, cedo ou tarde chocam-se com o projeto do PCdoB. Por isso o esforço permanente do PCdoB por forjar convicções e compromissos, educar as fileiras militantes quanto à unidade em torno de orientações coletivamente traçadas.

Agnelo desliga-se desse esforço e se desfaz das energias empenhadas por todos os seus companheiros e companheiras do PCdoB, que permitiram sua projeção política. No Distrito Federal o partido tem tradição política e quadros que permitirão levar adiante o trabalho partidário, re-elaborar o projeto político à luz das novas condições. O Comitê Central conclama a militância brasiliense a extrair lições profundas do episódio, no sentido de superar o espontaneísmo e pragmatismo na construção partidária, o que invoca o compromisso de dirigentes e militantes em construir de fato o partido, conferir vida ativa às organizações do partido e aos seus órgãos dirigentes, ligar o partido mais decididamente ao povo e suas entidades representativas, e fazer com que cada qual assuma seu posto de combate sob os ditames da consciência avançada, envolvendo convicção, projeto político, disciplina e unidade do partido.

O PCdoB seguirá em frente em seu rumo. Tem bagagem e experiência para extrair lições que aprimorem sua construção. Entre elas, notadamente, a reiteração de que a vida partidária coletiva é a verdadeira escola de formação dos quadros e militantes, a que é capaz de fato de compatibilizar aspirações pessoais com um projeto maior, coletivo, e formar a todos no sentido de luta por um projeto estratégico.

São Paulo, 5 de julho de 2008
Comitê Central do PCdoB