Elza Monnerat, militante comunista, autêntica revolucionária
No último dia 11 de agosto faleceu Elza Monnerat, histórica dirigente do Partido Comunista do Brasil. Com 91 anos de idade, ela foi por mais de meio século uma abnegada militante e dirigente comunista.
Elza era descendente de uma humilde família de imigrantes suíços. Nasceu e viveu até o início da juventude na região serrana do Rio de Janeiro, na área do município de Sapucaia. A mais velha, entre os irmãos, ela ajudou a mãe a criá-los e, mais tarde, já moça, para contribuir com o orçamento da família trabalhou dando aulas para crianças.
No início dos anos 1930, mudou-se para Niterói. Estudou, fez o curso de madureza e tornou-se professora primária. Tempos depois, em 1939, por concurso, passou a ser funcionária pública.
Quando menina e adolescente, pelos jornais que seu pai recebia no sítio, Elza tomou conhecimento do levante do Forte de Copacabana e, posteriormente, dos feitos épicos da Coluna Prestes. O heroísmo dos protagonistas desses episódios e mais o contato com as injustiças sociais levaram-na a cultivar, desde cedo, o sonho de ser uma revolucionária, de ser uma pessoa com a vida dedicada à luta por uma nova sociedade na qual o povo tivesse uma vida digna.
De fato, já adulta, Elza se revela uma mulher avançada para o seu tempo. Engaja-se na atividade política, algo pouco comum às mulheres da época. Em 1942, participa no Rio de Janeiro das jornadas contra o nazifascimo e a Ditadura Vargas. Noutro plano, demonstrando intrepidez, apaixona-se pela prática do montanhismo. Seu “batismo” nesse esporte foi em Agulhas Negras.
O seu sonho adolescente de ser uma cidadã comprometida com a luta por um mundo novo amadurece e se torna realidade em 18 de abril de 1945, quando se filia ao Partido Comunista do Brasil. De lá para cá foram quase 60 anos de militância comunista. Atuou inicialmente na célula de base do IAPI, órgão público no qual trabalhava. Depois, por um bom tempo, abraçou uma tarefa tida por muitos como espinhosa: arrecadar finanças para o Partido. Aliás, essa viria a ser uma das principais marcas da militância de Elza. Sempre trazia a si tarefas difíceis, sem projeção pública, sem ribalta ou holofotes, mas imprescindíveis ao Partido.
Em fevereiro de 1962 participou da Conferência Extraordinária que garantiu ao Partido Comunista do Brasil sua continuidade na trilha revolucionária. Nesta Conferência foi eleita para o Comitê Central e passou a atuar com João Amazonas, Maurício Grabois, Pedro Pomar, Carlos Danielli, entre outras destacadas lideranças comunistas. Nessa época, trabalhou como revisora do jornal A Classe Operária, periódico que circula até hoje e que cumpriu importante papel na luta teórica e política para reorganizar a legenda comunista.
O golpe militar de abril de 64, de modo progressivo, instaura um regime truculento no país que sepulta a democracia, prende, tortura e assassina todos quantos ousassem lutar pela liberdade. Pela liberdade, nestas circunstâncias, o PCdoB é impelido a recorrer à luta armada contra a ditadura e organiza a Guerrilha do Araguaia. Elza, que na região da luta guerrilheira chamava-se D. Maria, foi uma das primeiras a chegar no sul do Pará. Ajudou a escolher a área que seria o cenário do conflito e era uma das responsáveis pelo deslocamento dos militantes das cidades à região do Araguaia.
Nesse período da ditadura, o PCdoB atuava sob rigorosa clandestinidade. Seus militantes eram caçados pela polícia política. Elza aceitou realizar um trabalho da mais alta responsabilidade. Ela montava os chamados “aparelhos”, casas onde a direção do Partido pudesse se reunir em segurança. Cuidava, também, dos deslocamentos a endereços secretos; em suma, exerceu um trabalho que permitia ao Partido atuar nos “subterrâneos da liberdade.”
Em 1976, já sexagenária, no episódio que ficou conhecido como “Chacina da Lapa”, Elza foi presa e torturada. Na prisão teve um comportamento altivo e digno. Apesar de ter sofrido violências covardes, nada disse aos verdugos e, ainda, mesmo idosa, participou de uma greve de fome pela Anistia.
Na prisão ou vivendo em liberdade, Elza se destacava, também, pela solidariedade e presteza em ajudar os companheiros de luta e as pessoas do povo.
No dia 31 de agosto de 1979, por força da Lei da Anistia, Elza é libertada. Um ano depois, em 1980, ela volta à região da Guerrilha do Araguaia, integrando a Caravana dos Familiares dos Desaparecidos do Araguaia. E, desde essa caravana, ela passa a dar o melhor de si para divulgar o legado da guerrilha e a memória dos guerrilheiros e das guerrilheiras. Em especial, ela realizou o trabalho de organizar a luta dos familiares dos combatentes pelo direito sagrado de enterrarem os restos de seus entes queridos em túmulo honroso. Luta essa que prossegue até os dias de hoje.
Elza, a professora primária da região serrana do Rio, a funcionária pública do IAPI, a montanhista que amava a altura do cimo dos morros; Elza a militante de célula de base, a revisora do jornal A Classe Operária; Elza, integrante do Comitê Central do PCdoB desde 62, a dona Maria do Araguaia; Elza, a que sabia ocultar e proteger seus camaradas do faro sanguinário da polícia dos opressores, a que trazia para si as tarefas difíceis; Elza a que tinha a simplicidade, a bravura, a sensibilidade, a ternura, a coragem da mulher brasileira.
Uma vida assim, como a de Elza Monnerat, dedicada ao Brasil e ao povo, à causa do socialismo, à luta dos trabalhadores, à construção do partido dos operários e dos oprimidos, continuará presente por incontáveis gerações como fonte de energia à jornada emancipadora.
São Paulo, 13 de agosto de 2004.
O Secretariado Nacional do Partido Comunista do Brasil – PCdoB