Neste ano de 2002, quando comemora 80 anos de sua fundação, o Partido Comunista do Brasil celebra um dos capítulos destacados das lutas pela liberdade no país: a Guerrilha do Araguaia. Neste 12 de abril, a História registra três décadas do início dessa jornada gloriosa de combate à ditadura militar e de defesa da democracia e dos direitos do povo.

O regime ditatorial imposto pelos militares através do golpe de 1964 paulatinamente adquiriu características fascistas. Instaurou-se um período sinistro no qual a ditadura praticava a perseguição política, a tortura e os assassinatos em larga escala. Sobretudo nas cidades, uma mera reunião ou uma singela reivindicação popular era punida com prisões arbitrárias e com violências hediondas. O Brasil, a exemplo de vários países da América Latina, vivia sob o um regime antinacional e antipopular, apoiado e sustentado pelo imperialismo norte-americano. Não havia outra escolha senão lutar. A resistência armada do Araguaia foi a resposta dos comunistas a esse regime de terror que infelicitava a nação.

Com o Araguaia foi reafirmado, com bravura, um dos principais legados do Partido Comunista do Brasil à história brasileira: a luta contra as ditaduras e os governos autoritários e sua fidelidade à causa democrática. Este legado custou ao PCdoB e à nação as valiosas vidas de dezenas e dezenas de militantes, homens e mulheres – a maioria jovens – que tombaram em combate nas selvas da Amazônia ou que, covardemente, foram assassinados depois de terem sido presos.

O cenário dessa epopéia, estrategicamente escolhido, foi a região sul Pará e o antigo norte de Goiás, hoje Tocantins, numa área que tem como referenciais as cidades de Marabá e Xambioá. Para ela, desde 1966, passaram a se deslocar mais de 60 militantes e dirigentes do PCdoB. Viveram e trabalharam, lado a lado, com a abandonada população local, o povo da mata. Organizaram os núcleos populares da União pela Liberdade e pelos Direitos do Povo, cujo programa sintetizava as aspirações da gente sofrida do Araguaia.

Em 12 de abril de 1972, os moradores do Araguaia foram surpreendidos por um ataque das Forças Armadas. Os militantes do PCdoB, tendo conquistado o respeito e o engajamento do povo pobre da região, constituíram então as Forças Guerrilheiras do Araguaia e protagonizaram heróica resistência. Os militares julgavam que a vitória seria fácil. Ledo engano. As forças oficiais empreenderam três campanhas de cerco e aniquilamento nas quais foram empregados mais de 10 mil efetivos e sofisticado aparato bélico. Tal movimentação de tropas só se compara em número com a participação brasileira na II Guerra Mundial. Apesar da desproporção de forças, das atrocidades cometidas contra os guerrilheiros e o povo, as Forças Guerrilheiras foram vitoriosas nas duas primeiras campanhas, tendo sido vencidas somente em 1975, depois de três anos de operações bélicas.

Embora derrotada militarmente, a Guerrilha sagrou-se vitoriosa do ponto de vista político e histórico. O fim do regime militar, em 1985, deveu-se à resistência empreendida pelo povo brasileiro desde os primeiros momentos do golpe de 64 e que teve no Araguaia uma expressão contundente. Depois do Araguaia, a luta pelos direitos do povo, sobretudo dos pobres do campo por um pedaço de terra, ganhou força e impulso. Encadeia-se a muitos outros episódios memoráveis como o Quilombo dos Palmares, a Cabanagem, Guararapes, a revolta dos Alfaiates, Canudos, a revolta da Chibata.

A resistência do Araguaia pertence à História. No contexto de uma ditadura que sepultou a democracia e que usava a violência e o terror contra o povo, ela inscreveu-se como uma jornada justa e necessária. Ao reverenciá-la, os comunistas não fazem apologia desta ou daquela forma de luta. O modo de lutar o povo cria e escolhe conforme as circunstâncias de cada período histórico. Hoje, a luta pelos direitos do povo e em defesa da liberdade continua sob formas novas, condizentes com a realidade política do país.

Homenagear os guerrilheiros e guerrilheiras do Araguaia e celebrar a memória de tantos outros patriotas, heróis brasileiros, que tombaram batalhando em defesa de nosso país, significa, na atualidade, redobrar os nossos esforços pela conquista de um Brasil democrático e soberano no qual o povo tenha direito a uma vida digna e feliz.

Viva a memória dos guerrilheiros do Araguaia!

Viva a democracia, a soberania nacional e o socialismo!

São Paulo, 4 de abril de 2002
O Secretariado do Comitê Central do Partido Comunista do Brasil – PCdoB