1. Com dois dias de antecipação, num misto de golpe de propaganda com simulação quase teatral, numa verdadeira farsa, foi realizada em 28 de junho uma cerimônia secreta, num prédio cercado por tanques norte-americanos, na qual foi formalmente transferida a "soberania" ao Iraque. O evento só foi anunciado publicamente após seu término e após o pró-cônsul norte-americano Paul Bremer já se encontrar num avião militar C-130 de volta aos EUA, em função do medo dos norte-americanos e de seus funcionários iraquianos em relação à resistência nacional e patriótica do povo iraquiano.

2. O simulacro teve lugar em Bagdá, quando a Administração Bush, já internacionalmente isolada, passa a ser contestada em seu próprio país pela aventura no Iraque, no momento em que busca a reeleição em novembro próximo. Sondagens de opinião pública feitas recentemente nos EUA dão conta da desaprovação dos norte-americanos à política de Bush no Iraque, sob todos os aspectos execrável. Após 15 meses da invasão, mais de 600 soldados norte-americanos foram mortos desde o fim oficial dos combates. Uma média de 40 ataques diários contra as tropas de ocupação são atualmente registrados. Já para o povo iraquiano a situação é dramática: dobrou a mortalidade infantil em relação a antes da invasão, 40% da população não tem acesso a água potável, o país – com a terceira reserva de petróleo do mundo – passou a importar combustível e 7 mil escolas foram destruídas.

3. O "novo governo" iraquiano, chefiado por Iyad Allawi, literalmente um ex-funcionário da CIA, formado a partir de toda a espécie de traidores e mercenários que compunham o "Conselho de Governo do Iraque", nomeado pelas tropas de ocupação, será supervisionado pelo novo embaixador norte-americano John Negroponte, um especialista em guerra suja na América Central nos anos 80. É um governo fantoche, merecedor da condenação das forças patrióticas. Sob o manto da "democracia", prepara medidas repressivas contra a resistência. Já a "soberania" é fictícia. Estará a serviço dos monopólios estrangeiros agenciando a privatização dos setores de petróleo, gás, eletricidade, telecomunicações e transportes, ainda sob controle do estado.

4. A farsa da "soberania" também se evidencia pelo fato de o Iraque continuar ocupado por tropas sob o comando norte-americano — 160 mil soldados — que seguirão no país pelo tempo que os agressores julgarem necessário.

5. O Partido Comunista do Brasil soma sua voz à dos patriotas iraquianos, que lutam contra a ocupação de seu país, e das forças antiimperialistas que em todo o mundo exigem a retirada imediata das tropas agressoras, lutam pela paz, contra a política belicista do imperialismo norte-americano.

São Paulo, 29 de junho de 2004.

O Secretariado do Comitê Central do PCdoB