Mercado erra de novo, e índices econômicos fecham semestre com otimismo
Consultorias financeiras declaram sua “surpresa” com os índices da economia, toda semana, conforme melhoram as projeções para o PIB, cai a inflação, sobe a Bolsa, cai o dólar.
Haddad e Lula tocam a economia afinados Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
Foi necessário apenas um semestre para o Governo Lula desmoralizar todas as previsões sombrias do mercado sobre sua capacidade fiscal e de reativação da economia. Mais uma vez, as análises de risco das consultorias financeiras se revelam balela diante da realidade.
No primeiro trimestre, o governo já havia colhido que o Produto Interno Bruto (PIB) subiu 1,9%, bem acima das projeções, impulsionado pela agropecuária. Com a proatividade do governo avançando uma ampla agenda econômica, somada ao bom desempenho dos indicadores, o mercado deu a largada a projeções crescentes de crescimento para a economia brasileira em 2023. Elas saíram de 0,8% para 2,2%, apesar da desaceleração já desenhada para o segundo semestre.
A queda forte na cotação do dólar, de uma faixa de R$ 5,40 no início do governo, para o patamar de R$ 4,80 nas últimas semanas, é um indicador do otimismo dos investidores com o País. Quanto mais dólares entram no pais para investimentos, mais o real se valoriza.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) também surpreendeu com deflação após uma trajetória crescente, diante da inação no governo Bolsonaro, como a alimentação em domicílio, e a própria questão dos preços de bens industrializados.
Mais uma vez, as expectativas sombrias dos investidores perderam força e, agora, as expectativas de redução da Selic em 0,25% já subiram para 0,50% em boa parte das análises de mercado, segundo o Boletim Focus, do próprio Banco Central. Estimava-se que a Selic irá encerrar o ano em 12%.
Pessimismo derrotado
Mas esta quebra de expectativas do Governo Lula 3 não deveria ser surpresa, pois o fenômeno foi ainda mais evidente em seus dois primeiros governos (2003-2010), quando foi preciso mandar um recado para acalmar as elites econômicas e financeiras, ainda durante a eleição, superando as expectativas ainda no primeiro ano.
Ainda antes da última eleição e no processo de transição, no fim de 2022, houve momentos em que as previsões do mercado financeiro sobre o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e as taxas de inflação foram desafiadas.
Quando Lula assumiu a presidência em meio ao clima de golpismo bolsonarista, havia um ceticismo generalizado entre os analistas do mercado financeiro em relação à capacidade de seu governo de promover crescimento econômico sustentável e controlar a inflação. Como nos governos anteriores, a visão predominante era de que suas políticas “populistas” e redistributivas poderiam levar a desequilíbrios econômicos e financeiros.
Estabilidade política
No entanto, nos primeiros seis meses de seu governo, Lula e sua equipe econômica, liderada por Fernando Haddad (Fazenda), surpreenderam os mercados ao demonstrar uma habilidade notável em lidar com as restrições fiscais do país. Eles implementaram medidas para estimular a economia, investir em infraestrutura, aumentar o poder de compra da população e melhorar as condições sociais.
Assim como antes, um dos principais fatores que contribuíram para a melhoria do cenário econômico é a estabilidade política proporcionada pela habilidade de Lula em construir coalizões com diferentes partidos, garantindo apoio para suas políticas. Desde 2003, isso ajudou a transmitir confiança aos investidores e empresários, que viram o Brasil como um ambiente mais seguro para fazer negócios.
A Frente Ampla que elegeu Lula em 2022 tem se revelado um desafio adicional, que o governo dribla, apesar do protagonismo encontrado pelo Centrão, especialmente após o orçamento secreto incentivado por Jair Bolsonaro (PL). O presidente da Câmara que “governou” por meio das emendas secretas continua o mesmo neste início de governo: Arthur Lira (PP-AL). Mas ninguém tem coragem de virar as costas a um governo que passa um clima de que já deu certo.
Arrecadação e política fiscal
Além disso, o governo Lula também conseguiu manter um compromisso prudente com políticas fiscais responsáveis, evitando déficits excessivos para manter uma trajetória de pagamento da dívida pública, o que também ajuda a tranquilizar os mercados. A prioridade à aprovação de um novo arcabouço fiscal tem como objetivo acabar com o famigerado Teto de Gastos, mas também demonstrou capacidade de repensar o equilíbrio fiscal.
A votação da primeira etapa da reforma tributária, Proposta de Emenda à Constituição (PEC) – que unifica cinco tributos em no novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e simplifica os impostos sobre o consumo, é uma medida de longo prazo, mas que tem efeitos imediatos sobre as expectativas e sobre o humor dos investidores.
Agora, o governo segue para o segundo semestre premido pela necessidade de medidas que garantam o aumento da arrecadação, a conclusão da votação do arcabouço fiscal e da reforma tributária sobre o consumo e o início do debate sobre a taxação da renda. A busca de garantir arrecadação para manter os compromissos fiscais segue com a agenda parlamentar da taxação das apostas esportivas e dos investimentos feitos pelos super-ricos, por meio de fundos exclusivos e no exterior; o Orçamento de 2024; e o novo marco das garantias, que tem o objetivo de reduzir o custo dos financiamentos no País.
Como resultado dessas medidas, o crescimento do PIB superou as expectativas iniciais, com o país experimentando perspectivas de crescimento econômico robusto, após um longo período recessivo pós-pandemia. Assim como no Lula 1 e 2, o Brasil se beneficiou do aumento do comércio internacional e da demanda global por commodities, novamente o país busca novos mercados em meio à crise energética e a guerra na Europa. As perspectivas externas e internas impulsionam a economia nacional, que é rica em recursos naturais e indústria básica.
Além disso, apesar dos receios iniciais sobre a inflação, o governo Lula também conseguiu manter a taxa de inflação relativamente sob controle durante estes primeiros seis meses de seu mandato. Para além da políticas monetária recessiva do Banco Central e uma gestão meticulosa dos gastos públicos, a mudança na política de preços de combustíveis influenciou a cadeia produtiva de alimentos, evitando pressões inflacionárias descontroladas.
Pressão sobre o Copom
No entanto, é importante notar que, embora o governo Lula tenha sucesso em desafiar algumas das previsões do mercado financeiro em curto prazo, a trajetória econômica do Brasil passou por altos e baixos ao longo de seus oito anos de mandato, e mantém um ritmo lento de crescimento atualmente.
A política monetária do Banco Central, com juros exorbitantes, favorecem o crescimento da dívida pública e prejudicam o crédito e o investimento no setor privado. O governo tenta enfrentar a teimosia do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), como pode. Há enorme expectativa sobre a próxima reunião do Copom, apostas em torno da taxa de redução da Selic, atualmente em 13,75% ao ano.
Problemas estruturais e desafios sociais persistentes ainda precisavam ser enfrentados. As assimetrias regionais e desigualdades extremas, estimuladas nos últimos anos, reduzem as possibilidades de um mercado de consumo interno mais pujante. Condições que devem se alterar no médio prazo.
Em suma, os primeiros seis meses do governo Lula representam um período de otimismo e confiança na capacidade do governo de impulsionar o crescimento econômico e controlar a inflação. No entanto, a longo prazo, a economia brasileira enfrenta outros desafios, demonstrando que a gestão econômica é uma tarefa complexa e que depende de uma série de fatores além das ações do governo em um curto período de tempo.
(por Cezar Xavier)