Prévia do PIB muito baixa revela objetivos recessivos da política monetária
Economista Diogo Santos explica como juros altos derrubam IBC-Br em 2,0% em maio, após alta de 0,56% em abril
Recessão é um risco difícil de reverter
O Índice de Atividade Econômica (IBC-Br), indicador que é considerado uma prévia de desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, caiu 2,0% em maio na comparação com abril, informou nesta segunda-feira (17) o Banco Central do Brasil. Em abril, o indicador tinha mostrado alta de 0,56%. O índice surpreendeu o mercado, que esperava estabilidade e não queda.
O economista Diogo Santos (UFMG) explicou, ao Portal Vermelho, que não se trata de nenhuma anomalia, mas de um projeto da política monetária imposto pelo Banco Central. A desaceleração programada da economia por meio de juros altos favorece o rentismo de quem guarda grandes recursos em aplicações regidas pela taxa básica de juros.
Ele explicou que o índice apresentado é muito volátil e apresenta variações muito fortes de um mês para o outro, em geral. Ele destaca o fato do índice ter apresentado crescimento forte, em abril, e queda muito forte, em maio.
Em relação a abril de 2022, o IBC-Br teve crescimento de 2,15%. No trimestre encerrado em maio, o indicador avançou 1,63% ante o trimestre anterior. Em relação ao mesmo trimestre de 2022, houve alta de 3,83%. Com os dados divulgados hoje, o IBC-Br acumula alta de 3,61% no ano e de 3,43% em 12 meses.
Desaceleração programada
Segundo Diogo, olhando o acumulado trimestral, o que se vê é que, nesses últimos três meses terminados em maio, quando comparados com os últimos três meses terminados em abril, houve uma queda de 0,49%. “Isso indica com mais clareza essa tendência de desaceleração da economia brasileira”.
O economista não estranha o resultado, pois estamos vivendo já, há bastante tempo, com um estrangulamento das condições de financiamento e de crédito da economia. Isso tem o efeito perverso do maior endividamento das famílias, mas também das empresas, que apresentam maior dificuldade de caixa e de quitar suas dívidas.
“As empresas passam a entrar numa situação de não avançar, nem aumentar a produção, mas sim de buscar equilibrar suas contas devido a uma muito maior despesa financeira”, explica. Portanto, essa queda no IBC-Br é resultante dessa condição da economia brasileira.
Objetivo central: Desemprego
“É sempre bom frisar que o objetivo da politica monetária desempenhada por esse Banco Central é justamente elevar o desemprego. E para elevar o desemprego é preciso desacelerar, esfriar e colocar a economia brasileira em queda”, denunciou.
Dessa forma, Diogo não considera esse resultado como algo anômalo, diante do conjunto de efeitos que a atual política monetária tem sobre a economia. “É preciso entender esse como o objetivo da política monetária. Apesar das medidas do Governo Federal para compensar esta política monetária muito restritiva, elas não são suficientes para impedir a desaceleração da economia”, pondera.
Pressão sobre Campos Neto
No entanto, ele acredita que os dados recentes da economia aumentam a pressão sobre o Banco Central. “Fica mais claro que o BC já devia ter começado a redução da taxa de juros, para impedir uma queda mais forte da economia brasileira, uma vez que a taxa de inflação já vinha apresentando uma queda consistente nos últimos dois meses”, diz ele. A justificativa do BC para a alta da Selic é atacar a inflação ao reduzir a demanda por consumo.
“Agora, fica mais claro o erro do BC de levar esta taxa de juros alta até aqui, e a necessidade de que as reduções, a partir de agora, que o ele provavelmente começará a fazer, não podem ser a conta-gotas”, defendeu o economista.
Ele acredita que a pressão pode acelerar os passos da redução da taxa Selic. E sugere que pode começar com uma queda de, no mínimo, 0,50% ou até 0,75%, “que seria melhor para chegar no fim do ano com uma taxa de juros muito mais baixa, e abrir uma perspectiva de um crescimento mais sustentado no ano que vem”, concluiu.
(por Cezar Xavier)