Mick Lynch (ao centro), líder do sindicato RMT diz que “ferrovias privadas usam 65% dos lucros em dividendos” | Foto: Divulgação

A paralisação iniciada quinta-feira (20) por mais de 20 mil ferroviários britânicos continua neste sábado (22), ampliando a mobilização da categoria contra o arrocho salarial, o fechamento de bilheterias e por melhores condições de trabalho. De acordo com o Sindicato Nacional dos Trabalhadores Ferroviários, Marítimos e de Transporte (RMT), participam da mobilização funcionários das 14 companhias ferroviárias, o que fortalece a pressão e dá visibilidade ao movimento pelo resgate do patrimônio para o Estado.

“As empresas de trem investem pouco ou nada em nossas ferrovias e obtêm lucros completamente injustificáveis, que eles desviam em dividendos de acionistas e pacotes de pagamentos”, denunciou o secretário-geral do RMT, Mick Lynch, frisando que entre 2006 e 2022 elas investiram apenas 1% do dinheiro nas ferrovias. Conforme estudos do sindicato, as empresas arriscam pouco, enquanto se beneficiam dos impostos, lucrando 126% do capital investido.

“É um escândalo que o público viajante esteja sendo roubado por gananciosos corsários ferroviários enquanto, ao mesmo tempo, o governo supervisiona um sistema corrupto e prolonga uma disputa ferroviária por motivos políticos”, acrescentou Lynch, alertando que 65% dos lucros ficam retidos nos dividendos dos acionistas, em vez de serem redistribuídos para melhorar a ferrovia ou aumentar os salários e melhorar as condições de trabalho. Para o secretário-geral do RMT, “já é hora de parar esse trem de bonança de lucros e que as ferrovias retornem à propriedade pública para o bem do país e dos trabalhadores ferroviários”.

Sem a reabertura do diálogo pela associação de empresas operadoras de trens Rail Delivery Group (RDG), a categoria anunciou que voltará a paralisar no próximo sábado (29), até que o direito dos ferroviários seja respeitado.

“Os trabalhadores ainda aguardam um convite para voltar à mesa de negociações. Os problemas são os mesmos. As empresas estão atacando nossos empregos. Estão fazendo demissões. Estão fechando serviços”, protestou Lynch.

Em vez de trilhar o caminho do diálogo e assumir a responsabilidade das empresas, o porta-voz da RDG preferiu atacar o movimento, dizendo que as greves “causarão, sem dúvida, transtornos, afetando não apenas o deslocamento diário” dos passageiros, mas também “os planos das famílias para as férias de verão”, que começam hoje para crianças em idade escolar.

As empresas divulgaram que as greves organizadas pelos ferroviários desde junho de 2022 custaram ao setor mais de 715 milhões de euros (R$ 3,8 bilhões), mas se calam diante da sua política de arrocho e desemprego, acusando os trabalhadores de usarem “medidas de força” que “travaram” sua recuperação e “ameaçam a sua sustentabilidade a longo prazo”.

O Reino Unido enfrenta uma grave crise no custo de vida, com uma inflação de 7,9% em junho, a maior dos países do G7 (também formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália e Japão).

Diante disso, os trabalhadores têm feito pipocar paralisações em todos os setores, como transportes, saúde, educação e correios, reivindicando aumentos reais de salário.

Exemplo da gravidade da situação é expressa pela greve de milhares de médicos especialistas, que pelo descalabro da saúde pública foram obrigados a cruzar os braços pela primeira vez em dez anos.

Fonte: Papiro