Correa recebeu a mãe de Assange no período de refúgio na embaixada do Equador em Londres | Vídeo

A empresa de segurança espanhola Undercover Global (UC Global), que prestava serviços na embaixada do Equador em Londres, está sendo investigada por ter usado seus equipamentos para espionar – a serviço da CIA – o ex-presidente Rafael Correa em várias situações.

A informação do jornal espanhol El País, em reportagem desta terça-feira (18), vem de alguns arquivos no computador do dono da empresa, David Morales, que está sendo investigado pela justiça espanhola por espionagem por ordem da CIA. Morales, ex-militar da Marinha, teria invadido as conversas que Correa teve com outros ex-presidentes da região como Cristina Fernández de Kirchner, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e “Pepe” Mujica.

Morales foi contratado pelo governo de Correa com o intuito de cuidar da segurança da Embaixada do Equador em Londres, que era onde Julian Assange estava refugiado. Na época, o ex-militar teria pedido que os funcionários acompanhassem as reuniões do dono do WikiLeaks, mas teria espionado o próprio Correa, para depois passar informações para o sucessor L. Moreno (2017-2021), adversário político de Correa.

Mas não ficava só nisso. O proprietário da UC Global teria espionado para a CIA as reuniões em 2018 do ex-presidente do Equador, Rafael Correa (2007-2017), com os ex-presidentes da Argentina, Brasil e Uruguai, Cristina Kirchner, Lula, Dilma e Mujica, segundo informações encontradas em seu laptop MacBook revistado por ordem do juiz do Tribunal Nacional espanhol Santiago Pedraz, que o investiga há três anos por vários crimes.

Segundo publica o jornal espanhol, as conversas entre os líderes da região aconteceram quando Correa já havia deixado o poder, em 2018. O nome da agência de inteligência dos EUA (CIA) aparece várias vezes nos arquivos recuperados do laptop de Morales. As escutas teriam sido oferecidas ao então presidente L. Moreno, após seu afastamento com Correa e depois que Moreno colaborou com a expulsão do jornalista australiano Julian Assange da embaixada do Equador em Londres em 2019.

ESPIONAGEM NA EMBAIXADA

Segundo o jornalista investigativo equatoriano Arturo Torres, pela segurança diplomática na embaixada e pelo monitoramento de Julian Assange, a UC Global faturava US$ 84.100 por mês. Para todos os contratos, de 2012 a maio de 2018, o Estado equatoriano desembolsou um total de 13,25 milhões de dólares.

Em 17 de novembro de 2017, Morales escreveu uma reportagem em inglês intitulada Brussels Meetings (reuniões em Bruxelas) na qual descrevia as reuniões e conversas mantidas com o ex-presidente em sua casa. Ele foi questionado pelos advogados de Assange sobre este material que inclui uma série de e-mails.

O material aprendido na sede da UC Global, em Jerez de la Frontera (Cádiz) também incluiu vídeos do ex-presidente durante reuniões com terceiros, descreve o El País.

A defesa de Assange fez novas descobertas no caso que está sendo investigado pelo Tribunal Nacional da Espanha, incluindo uma pasta chamada “North America/USA/CIA/Romeo/Brasil/Argentina/March 2018/Venegas Chamorro/Viaje” que lista os encontros de Correa com vários ex-presidentes da América Latina. Romeo é o apelido que a empresa atribuiu a Correa. E Venegas Chamorro é Amauri Chamorro Venegas, que foi assessor de imprensa do ex-presidente do Equador.

Correa foi escoltado por funcionários da UC Global durante viagem, que ocorreu de 18 a 24 de março de 2018. O ex-presidente do Equador terminou seu contrato com a UC Global em maio de 2019. Isso aconteceu quando um de seus guarda-costas confessou que o ex-militar e proprietário da empresa havia pedido que ele escrevesse relatórios sobre suas reuniões e atividades pessoais e políticas.

A investigação revelada pelo El País indica que quando L. Moreno rescindiu o contrato com a UC Global na embaixada do Equador em Londres, Morales se sentiu traído. “Quem vai falar com o presidente sou eu. Arrisquei minha posição por eles, vazaram até as coisas que lhes passei sobre Correa. Pensam que estou brincando”, escreveu Morales em um e-mail interceptado pela justiça espanhola.

“Todas as ações referidas em relação à tentativa de chantagem a que, ao que tudo indica, foi submetido o senhor Assange, na qual teria sido mostrado a ele material confidencial como documentos e gravações de vídeo, são apuradas em um período em que nossa atividade já havia sido rescindida, pelos qual não temos responsabilidade”, tentou se defender o ex-fuzileiro naval, anos atrás em entrevista ao jornal El Mundo.

As atividades criminosas de Morales não se limitam à passagem da UC Global pela embaixada do Equador em Londres, o investigado teria ainda 14 imagens íntimas de um diplomata de carreira cujo nome não foi revelado. Pelas conversas de WhatsApp entre Morales e os trabalhadores de sua empresa, pode-se deduzir que ele tentou usar essas fotos como chantagem para não perder o contrato, que acabou sendo concedido a uma empresa equatoriana.

Em outro trecho da matéria publicada pelo jornal espanhol, consta que Morales teria espionado as duas filhas de Correa por meio de vírus informáticos instalados em seus celulares em 2014, quando ainda estava no governo. Os dois iPhone 5 entregues pela UC Global a Sofía e Anne tinham “trojans” da empresa Tradesegur instalados. Esses trojans permitiam o controle total de suas mensagens e conversas enquanto as jovens estudavam na França, sem que seus pais soubessem.

Morales foi preso em 2019 e teve os aparelhos eletrônicos apreendidos. Em 2020, Correa apresentou uma denúncia contra o ex-militar que foi admitida pela Justiça Nacional e incorporada ao caso em que já estava sendo investigada a espionagem a Assange. O dono da consultoria de segurança sediada na cidade de Jerez, é também acusado de crimes de descoberta e divulgação de segredos.

Fonte: Papiro