Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

Os empresários da indústria qualificam as taxas de juros elevadas e demanda interna insuficiente como os principais problemas enfrentados pela indústria brasileira no segundo trimestre deste ano, de acordo com a pesquisa “Sondagem Industrial” da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgada na segunda-feira (19). Ao todo foram ouvidos 1.599 empresários de pequenas, médias e grandes indústrias, entre 1º e 11 de julho.

“Em junho de 2023, a indústria apresentou piora em seu desempenho, com registro de queda na produção e no emprego industrial”, destacou a entidade, que ressalta no comunicado da pesquisa que “os estoques ficaram acima do planejado pelas empresas” no período. “A queda desses indicadores vem em linha com a perda do ritmo de crescimento devido à política monetária” do Banco Central, criticou a economista da CNI, Paula Verlangeiro.

A insatisfação dos empresários da indústria com os juros altos no Brasil, que avança desde 2022, se intensificou neste ano com a demanda interna fraca causada pelos juros em níveis inacessíveis do Banco Central, que, ao travar o consumo de bens e serviços e os investimentos, está desacelerando a economia do país.

No segundo trimestre, o índice da CNI que mensura a facilidade de acesso ao crédito apresentou alta de 2,8 pontos, passando de 38,0 pontos para 40,8 pontos, acima da média da série histórica (39,8 pontos). “Não obstante, o índice segue distante da linha de 50 pontos, o que sinaliza dificuldade do empresário industrial em obter crédito”, destacou a CNI.

Com a redução das compras do varejo, os fabricantes estão vendo o volume de suas mercadorias se abarrotarem em seus armazéns. De acordo com a CNI, o índice que mede o nível de estoque efetivo em relação ao planejado aumentou 1,3 ponto em junho, registrando 52,6 pontos. “O que significa que o excesso de estoques se ampliou na passagem de maio para junho”, ressaltou também a entidade.

Em maio deste ano, as vendas do comércio varejista registaram quedas na modalidade restrita (-1,0%) e na modalidade que inclui as vendas de veículos, motos, partes e peças e material de construção (-1,1%), segundo dados do IBGE. Com o resultado, o comércio varejista está 3,6% abaixo do patamar recorde registrado em outubro de 2021.

Os juros altos também estão sendo apontados pelos comerciantes como fator limitante para tocar os negócios, segundo um levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que demonstra que, em maio, 23,8% dos comerciantes culparam os juros altos neste quesito, o maior resultado do levantamento para todos os meses de maio desde 2016.

No mês passado, após o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anunciar que manteve a Selic em 13,75% ao ano, a CNI emitiu uma nota criticando a decisão do colegiado alertando que tal decisão “é equivocada e impõem riscos à economia”. Conforme cálculos da entidade, entre a reunião de 2 e 3 de maio e a última reunião do órgão (21 de junho), a taxa de juros real – que desconsidera os efeitos da inflação esperada – subiu de 8,1% ao ano para 9,2% ao ano.

Em junho, de acordo com o IBGE, o IPCA registrou deflação de 0,08%, elevando a pressão pela derrubada dos juros do BC.

“É importante lembrar que a Selic em nível elevado foi um dos principais fatores de desaceleração da atividade econômica no final de 2022 e continua comprometendo significativamente a atividade em 2023”, diz trecho da nota.

De acordo com o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) do BC, divulgado no início desta semana (17), a atividade econômica do país recuou 2% em maio, frente ao resultado de abril (0,56%). Esse é o maior tombo registrado pelo IBC-Br desde março de 2021, quando a economia recuou 3,6%. O IBC-Br é considerado uma “prévia” do Produto Interno Bruto (PIB), oficialmente divulgado pelo IBGE.

Fonte: Página 8