Em sigilo, Dallagnol negociou com EUA divisão de valor cobrado da Petrobras
Uma nova informação revelada nesta quinta-feira (20) coloca mais uma vez em xeque os métodos usados pelo ex-procurador e ex-deputado Deltan Dallagnol durante a operação Lava Jato. Segundo reportagem de Jamil Chade (UOL) e Leandro Demori (newsletter A Grande Guerra), Dallagnol negociou em sigilo e de maneira irregular, com autoridades dos EUA, um acordo para dividir o valor que seria cobrado da Petrobras em multas e penalidades por corrupção.
A negociação — que deveria envolver a Controladoria Geral da União (CGU) — ocorreu à margem da lei e de maneira extraoficial, em conversas entre procuradores brasileiros e suíços no aplicativo de mensagens Telegram.
Os diálogos ocorreram porque as autoridades do país europeu eram responsáveis pela busca, confisco e detalhamento das contas usadas para guardar as propinas investigadas na operação. E para ambos os lados, diz a reportagem, foi considerado estratégico envolver a Justiça americana, que estava também investigando o caso.
O material que baseou a reportagem faz parte dos arquivos apreendidos pela Polícia Federal na operação Spoofing, que investigava o hackeamento de telefones de procuradores e do ex-juiz e atual senador Sérgio Moro. O caso ficou conhecido como Vaza Jato.
No dia 29 de janeiro de 2016, Dallagnol disse às autoridades suíças que a Petrobras chegaria a um acordo com o sistema judicial dos EUA para pagar uma multa de US$ 853,2 milhões para evitar um processo. Ainda em 2015, o então procurador havia recebido, em Curitiba, pelo menos 17 agentes americanos sem o conhecimento do Ministério da Justiça, que deveria ter sido informado.
Durante as conversas e os encontros, os procuradores da Operação Lava Jato sugeriram às autoridades dos EUA mecanismos para contornar uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que proibiu a Justiça americana de ouvir delatores envolvidos em processos da Petrobras. Foi a partir dessas conversas que depois os Estados Unidos conseguiram ouvir Nestor Cerveró e Alberto Youssef no Brasil.
Vale destacar que, conforme explica a reportagem, “os encontros e negociações ocorreram sem pedido de assistência formal e foram comprovados por documentos oficiais do Ministério das Relações Exteriores brasileiro, obtidos pelo Intercept para além dos diálogos da Vaza Jato”.
De acordo com as mensagens trocadas, o procurador Vladimir Aras, que era diretor da Secretaria de Cooperação Internacional da Procuradoria-Geral da República, chamou atenção de Dallagnol quanto à irregularidade dos procedimentos que adotou.
(PL)