Foto: Tania Rego/Agência Brasil

Após uma série de entraves, impostos principalmente pelo descaso do governo Bolsonaro e pela pandemia, parte do Censo 2022 finalmente será apresentada na próxima quarta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para que fosse possível terminar a pesquisa, uma força-tarefa foi montada pelo governo Lula. 

O levantamento é fundamental, entre outras razões, para que o Brasil possa se conhecer melhor e para que políticas públicas sejam desenvolvidas em consonância com as características e necessidades da população. 

Para dar conta do desafio, e considerando o desmonte deixado pela administração anterior, o governo Lula fez mutirões, nos últimos três meses, envolvendo o próprio IBGE e o Ministério do Planejamento. No final, a dificuldade de contar parte dos brasileiros foi revertida e foi possível incluir 15,9 milhões de pessoas. 

Dentre as dificuldades que tiveram de ser superadas estão o não investimento do governo anterior — o que levou à falta de recenseadores e atrasos sucessivos —; a dificuldade de acessar cidadãos em áreas remotas, carentes e violentas e também em áreas ricas e a disseminação de notícias falsas, que criaram resistência em parte da população. 

Operações especiais

Ao todo, foram três operações especiais. A primeira buscou alcançar brasileiros na Terra Indígena Yanomami, que nunca tinham sido recenseados. As outras procuraram reduzir a taxa de não resposta em dois ambientes opostos, mas com resistência a recenseadores: favelas e condomínios de luxo.

No que diz respeito aos povos originários, a contagem na Terra Indígena Yanomami incluiu 26.854 cidadãos, dos quais 16.560 em Roraima e 10.294 no Amazonas. Pela primeira vez, a etnia foi 100% recenseada. 

A população indígena brasileira total é estimada em 1,65 milhão, de acordo com balanço parcial divulgado em abril. O número completo só será divulgado em julho, quando o IBGE apresentará um balanço específico do Censo 2022 para a população indígena.

Por envolver dificuldades de acesso a aldeias aonde só se chega de helicóptero, o mutirão foi coordenado por cinco ministérios e reuniu 110 servidores federais dos seguintes órgãos: Polícia Rodoviária Federal, que forneceu os helicópteros; Ministério da Defesa, que forneceu o combustível; guias do Ministério dos Povos Indígenas; servidores da Secretaria de Saúde Indígena da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai); além dos próprios recenseadores do IBGE.

Dificuldades nas cidades

Quanto às favelas, além da falta de segurança em alguns locais, muitos moradores não queriam abrir a porta para o recenseador porque tinham recebido falsas notícias de que teriam benefícios sociais cancelados. Outro problema, principalmente em áreas mais densas, era a falta de endereços nas comunidades. Muitas vezes, os recenseadores não tinham informação sobre novas moradias surgidas nos últimos anos, como puxadinhos e lajes num mesmo terreno.

O mutirão começou no fim de março, com o lançamento de uma campanha na Favela de Heliópolis, em São Paulo, do qual participou a ministra do Planejamento, Simone Tebet. A operação ocorreu em 20 estados e registrou aglomerados subnormais (nomenclatura oficial do IBGE para favelas) em 666 municípios. O número de habitantes só será conhecido em agosto, quando o IBGE divulgará um recorte do Censo 2022 para as favelas.

Outro ponto de resistência estava nos condomínios de luxo, sobretudo nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba. “Historicamente, a taxa de não resposta, que é o morador que não atende ao recenseador, fica em torno de 5%. Isso em todos os países que fazem censo. Nessas três cidades, a taxa estava em 20% em condomínios de alto padrão”, conta João Villaverde, assessor especial do Ministério do Planejamento.

No Censo 2022, a média nacional de não respostas estava em 2,6% segundo balanço parcial divulgado em janeiro. No estado de São Paulo, alcançava 4,8%, principalmente por causa da recusa de moradores de condomínios de renda elevada.

Para contornar os problemas, o Ministério do Planejamento e o IBGE promoveram uma campanha maciça em redes sociais. Parte das inserções foi direcionada a sensibilizar porteiros, que obedecem a regras restritas para entrada de estranhos. 

Outra parte esclareceu que síndicos não têm o poder de proibir o morador de receber o IBGE. “Muitas pessoas queriam atender ao censo, mas não sabiam que o recenseador não tinha vindo porque o síndico vetava”, recordou Villaverde. Também houve reportagens de quase 10 minutos em televisões locais sobre o tema.

Atrasos sucessivos

O Censo estava previsto para 2020, mas foi adiado em função da pandemia de Covid-19. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) obrigou o governo Bolsonaro a realizar a pesquisa em 2022. Mas, ao longo da realização, faltou verba e recenseadores. Com essas e outras dificuldades, o Censo, previsto inicialmente para terminar em outubro do ano passado, teve de ser adiado para fevereiro deste ano. 

Com falta de verba e alta proporção de não recenseados, o governo Lula decidiu fazer uma suplementação orçamentária de R$ 259 milhões ao IBGE. O Ministério do Planejamento também decidiu seguir a recomendação do Conselho Consultivo do IBGE e estender a coleta de dados até o fim de maio. Em abril, uma série de remanejamentos internos no órgão evitou um novo pedido de verbas pelo IBGE. Desde 29 de maio, o IBGE está rodando os dados, para a divulgação na próxima quarta-feira.

Com informações da Agência Brasil

(PL)